Acabei de botar no fogo aquele bolo que você adora. Enquanto bati, escutei aquela música que você escuta tanto que era para, quem sabe, o bolo sair com aquele mesmo gosto de carinho, aquele mesmo gosto seu. E agora estou aqui, colocando dois pratos na mesa, para comer o bolo quente – como você prefere. O cheiro de saudades denuncia que está quase passando do ponto, mas eu ainda vou o deixar assando por mais três minutinhos, é que cria aquela casquinha que você adora.
Pronto, acabei de tirar e já desenformei. Está quentinho, no ponto. Eu fiz para você, para comer sozinha e lembrar no sabor de cada migalha doce, o amargo dessa saudade. Se me faz mal? Ora, ora, bem é que não faz né? Mas eu te digo que essas saudades que eu sinto de você, apesar de me ferirem, não me agridem. É uma suadadezinha chata, feia, no entanto, não é fria – ela é quente. Bate a todo o instante no peito e não me deixa esquecer como é bom te ter do lado; me faz querer sair do jeito que estou, sem maquiagem sentimental alguma só para te dar um beijo de boa-noite, ou só para acalmar o medo de trovão.
É, meu bem, eu sinto a sua falta. Ela me dói, me incomoda, mas não me anula. E sabe? Eu já entendi que é preciso, melhor, eu já aprendi a conviver com a temida da distância. Essa indesejada deixou de fazer companhia ao tal do bicho-papão-solidão e não me amedronta nem mais um tico. Agora eu sou forte e sinto umas saudades tremenda de você.