Vê só, como irmã mais velha que
viveu um tiquinho a mais, preciso te dar uns conselhos chatos e cheios de si,
de quem se acha dona da razão. Como quem já muito apanhou, sinto que preciso te
falar de amor.
Atenta bem, vão te fazer
acreditar que amor é uma coisa arrebatadora, que coloca em ruína todas as
estruturas, que destrói tudo que demorou para se fazer. Mas é mentira. Amor não
é isso não. Amor constrói, amor se
constrói. Além disso, vão tentar te persuadir a crer que para viver esse
sentimento louco do qual muito se fala e pouco se vive, você precisa mudar
completamente alguém, que é necessário fazer com que a outra pessoa abandone totalmente
aquilo que sempre foi para se transformar no seu projeto de pessoa perfeita.
Menina, é outra farsa. Comecemos pelo fato contraditório de que as pessoas
mudam quando sinceramente querem, mesmo que tal transformação seja motivada
pelo que se passa de mãos dadas ou desatadas de outrem. A gente transmuta naturalmente
quando convive. Mas nunca se despe totalmente da indumentária que vai se
construindo: a gente sempre tem um bocado de passado e outro tanto de futuro.
Aprende logo o que me disse uma boa amiga tempo desses: amar é poder e conseguir ser, sem dor, quem se é em companhia de
alguém.
Se livra também desse conceito
hollywoodiano que tentam nos impor desde os contos de fadas: amor não é
perfeito. Amor é bonito porque é cheio
de imperfeições. Tem até uma coisa que você sabe bem mais que eu sobre esse
sentimento todo que move a gente: amar é
perdoar. A gente quando ama, mesmo
que demore, consegue deixar o orgulho de lado e “fazer coisas” para não perder
quem a gente quer bem. No entanto, não se engane com essa história boba de amor
inerte, que tudo aceita e nada questiona: amor
também é diálogo. E quando se dialoga, a gente se a opõe um monte de coisa,
a gente contrapõe a opinião do outro, até porque como acabamos de falar, amar
mesmo é não deixar de ser quem realmente se é. Amar, meu bem, é aprender
não só a lidar com conflitos, mas é também conflitar, se necessário.
Outra maldade danada da qual nos
convencem é a de que amor que é amor dói. Lorota de novo. Dói coisa nenhuma.
Amor traz leveza, vez por outra frio na barriga, mas ao mesmo tempo, deixa o
coração todo em paz. Faz rir sem motivo mesmo, deixa a gente achando de
manhãzinha cedo bem bonito só por conta de um sorriso. Pode acontecer dele se
tornar unilateral e fazer a gente chorar, mas não esquece nunca: amor não oprime. Essa coisa de tortura
é um meio que se encontrou para justificar um bocado de coisa feia, mas isso a
gente conversa melhor depois.
Sobre tudo isso tem coisa para
falar que não se acaba. Mas para eu te deixar refletir sobre esses conselhos de
irmã super-protetora, preciso só te dizer mais uma coisa: amor não tem fórmula. Nada do que te derem de pronto como solução
funciona. Não existe isso de passo a passo. Quer um conselho realmente digno de
ser seguido: deixa que teu coração guie
teus passos.