
Ei, amigo, diga cá uma coisa para mim: a saudades não te procura em tua morada? Queres saber o ‘porquê’ disto justo agora? É que ela não me deixa em paz faz um bom tempo, vem a minha casa todos os dias e me sopra ao ouvido lembranças boas de um passado que disse adeus.
É, meu caro, senti uma vontade tremenda de te ligar, mas como ainda não segui seu bom conselho e não mandei o orgulho embora eu temi; senti um medo danado (daqueles de escuro), de que você me jogasse na cara, sem palavras nenhuma, a ausência que eu causei há tempos atrás; lembra da distância intrigueira? Pois é, veio me contar correndo que você disse ao seu coração que iria fechar até as janelas para a entrada do meu amor. Mas se acalme, velho companheiro, eu acredito mesmo é em você, nessa nossa amizade cheia de idas e vindas e no que ela guarda de bonito, por isso, escolhi o único meio de que eu consigo me utilizar: as palavras escritas.
Agarrei-me a uma caneta tinteiro, azul – a sua preferida - e me coloquei aqui, a relembrar nossos momentos bons. Recorda-te ainda daquele banho de chuva e da gripe tremenda que ganhamos? Dos filmes de suspense e da mão agarrada para mandá-lo embora? Das noites perdidas procurando solução para problema qualquer? Daquele amor que machucou em você e em mim, ao mesmo tempo? Dos sonhos que construímos olhando para aquela estrela que me encara neste exato minuto? Te recordas de tudo isso de bom pelo que passamos? Ai, bom parceiro, como sinto falta disso. Na verdade, disso e muito mais; me faltam até também nossas boas discussões, nosso ciúme doentio um do outro, nosso cuidado, parceria, cumplicidade, me falta a boa e velha amizade.
E quer saber? Acho que quando colocar o selo nessa correspondência vou correndo te ligar, porque também me falta a tua voz. Fico aqui me perguntando se você ainda é dono daquela mesma alegria e cruzando os dedos para receber uma resposta positiva. Me deixa meio apreensivo pensar que a vida, cruel e irônica, possa ter te arrancado o que você tinha de mais precioso: o dom de encantar. Deus, que você ainda tenha a sua magia, porque eu, bom amigo, perdi a minha. Com você, com aquele maldito amor, com tudo o que me passou. Pelo visto nada é para sempre mesmo não é? Bem do jeito como nós pensávamos.