terça-feira, 27 de novembro de 2012

Amar quando a gente não ama



Quando a gente não ama tudo parece ridículo, absurdo. Quando a gente não ama os outros aceitam demais, são pegajosos demais, bobos demais. Desperdiçam tempo, mereciam algo melhor, muito melhor. Quando a gente não ama, os outros ficam cegos e é tão fácil abrir os olhos. Quando a gente não ama, os outros têm relacionamentos errados e não sabemos por que eles não saem e progridem na vida. Quando a gente não ama esquecer é somente questão de força e amor próprio. Quando a gente não ama a gente, sem saber, condena erros que cedo ou tarde iremos cometer.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ei, eu te amo



Você acabou de sair daqui. Tentou a todo custo saber o motivo de mais uma zanga minha, eu te disse que não era nada. Veio na ponta da língua, mas eu não disse.Talvez porque não fosse nada mesmo. Você me deu beijo, me pediu para sonhar contigo e eu fiquei te olhando entrar no carro. Você saiu e eu continuei ali, prestando atenção no caminho que você começou a seguir. Me arrependi. Devia ter te pedido para ficar, se não a noite toda, ao menos mais um tiquinho. Mas eu calei, como sempre. Entrei, fechei a porta e tentei sentir seu cheiro na sala. Impossível não senti-lo, ele ainda está em mim. Deitei no sofá e comecei a assistir aquele programa que você me recomendou. Sabe o que eu consegui concluir com ele? Que sou orgulhosa demais e que isso, às vezes, acaba atrapalhando o clima gostoso que a gente tem. Só fazem vinte minutos que você saiu daqui, não tem trânsito, sei que já chegou em casa. Te ligo e dou uma desculpa qualquer, você me atende com aquela sua voz linda de sono. Meu coração aperta, quero você perto, quero dizer que te amo. Não sei o que é, só sei que sinto uma pontinha de raiva - queria você aqui, o tempo foi pouco. Te digo que o sono chegou, você me lembra que marquei compromisso de sonhar contigo, me sinto boba. Aí, garoto esperto, você me faz pensar ainda mais. Até começo pensando que eu não deveria estar assim, você já me fez chorar. Já me deixou confusa por demais quando resolveu brincar com o que eu sentia, uma vez. Me irrita profundamente todas as vezes em que me encontra, me esgota toda a paciência. É teimoso, criança,difícil.Me faz vítima do ciúme o tempo inteiro.  Me deixa sem saber o que fazer e põe por terra tudo o que eu tinha certeza ser verdadeiro. Só que aí, lembro também que existe outro lado, que a verdade tem duas faces. Você já me arrancou um bocado de lágrimas sim, mas já limpou outro bocado delas na sua camisa com um abraço apertado. Mesmo impaciente, acha em algum lugar aí dentro uma paciência do tamanho do universo para lhe dar com essa pessoa nada fácil que sou e com essa minha incostância. Lembro, com certa mágoa, das vezes em que me machucou. Mas me lembro também daquela vez em que eu birrava por uma crise de cúme e você me arrancou a força do sofá no colo, me levou para o quarto e me fez lembrar que entre nós tem algo forte demais. Daquela outra em que fiquei doente e você cuidou de mim, assim como cuida pouco a pouco dessas feridas que eu ainda trago no peito. Reconheço que muito você já gastou com chocolates para curar uma TPM. Não esqueço de como você me incentiva e aconselha, dizendo sempre com aquela sua carinha linda que só quer o meu bem. Ah bem meu, quero te ligar de novo. Dizer tudo isso. Mas já são três da manhã e sei que sem seu sono bem dormido você não é nada. Agarro o travesseiro com força, fingindo que é você. E sussuro baixinho tudo que queria dizer - 'ei, eu te amo'.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Mulheres inteligentes e corações burros


Você é bonita, tem um papo legal, um gosto musical refinado, adora ler, não tem frescura alguma, gosta de futebol, bebe uma cerveja, sabe cozinhar, não tem preconceitos- é livre dessas chatices de agradar a sociedade, é simpaticíssima e indiscutivelmente inteligente. Mas não, você não é perfeita. Tem um defeito enorme, quase que imperdoável, que faz as pessoas olharem para você e se perguntarem se você não precisa urgentemente de um tratamento ou choque de realidade: você gosta do tal do cara errado.
Você tinha esquecido alguns babacas que te fizeram sofrer e de repente ele apareceu.   Mas você possuía dentro de si aquela barreira e aquele medo de se entregar de verdade ou outra vez. Ele sorriu. E aí garota, você decidiu que era a hora de se doar. Mas de se doar de verdade. Porque dessa vez você faria diferente, a mulher difícil ficaria para trás e você pegaria as malas para ser feliz.
No começo, tudo deu certo. Você cedia um pouco daqui, se fechava um pouco dali. Pimba. Conquistou o coração dele. Fez ele ficar de quatro, te mandar mensagem de bom dia, te dar flores e ser o genro dos sonhos da sua mãe. Então aí, você confirmou a sua teoria e viu que ele era o cara certo na hora certa. Se entregou, deu tudo de si para ele, passou a corresponde-lo com toda a sua ardência e intensidade.
Mas aí gata, ele tropeçou em uma pedra no meio do caminho e teve uma amnésia. Você estava ali, prontinha para ser tudo o que ele tinha dito querer, uma paixão só; mas ele não te reconheceu. Você tentou fazer com que ele se lembrasse quem era você. Aquela, aquela mesmo que ele dormiu abraçado, aquela que ele levou café da manhã na cama e chocolates na hora do almoço, aquela com quem ele disse que queria ter dez filhos, três cachorros e um casal de papagaios. Mas por mais que você o sacuda e tente relembra-lo com toda a dedicação da sua vida, ele não consegue.
Passa a te deixar sozinha com uma panela de brigadeiro aos sábados, faz questão de andar bem longe de você em público, não abre mais a porta do carro, tem sempre uma grosseira na manga. As suas amigas, segundo ele, estão todas ruins da vista e o confundem sempre com outro cara que estava na balada com uma nova piriguete; te deixa borrar sempre o rímel e esquece de te borrar o batom. Para ele, você passa a ser  tão visível quanto o ar que ele respira,  e a sua sogra demonstra te amar bem mais do que o lindo filho dela .
Você pensa ser a tal da primeira crise. Assiste a algumas comédias românticas e pensa que o amor, o amor que você tanto insistiu para descer goela abaixo, vai prevalecer no final. O tempo vai passando. Vez ou outra ele tem um lapso de "bondade" e você jura que ele é aquele da primeira semana de namoro. Mas aí, se passam alguns segundos e você reconhece o canalha de cada dia. Você aprende a baixar a cabeça para tudo que ele faz, tem sempre uma desculpa pronta antes que ele venha com as esfarrapadas dele, perde o contato com as amigas e se agarra a esse amor tão doido, ficando cada vez mais vazia. As pessoas te olham e coxixam. Você sabe o que é. Fica mal. Quando chega em casa, sozinha, coloca aquela música bem alta, berra acompanhando que tudo acabou, que vai deixa-lo, só para ver se sua mente absorve. Se olha no espelho e se pergunta como foi que de Cinderela você regrediu para gata borralheira. Deita na cama e chora aquele choro doído, desesperado de quem não encontra solução. Questiona mil e uma vezes o que você está fazendo e se responde logo: "burra, burra, burra" e promete, mais uma vez, que vai  larga-lo. Pensa que deveria ter estacionado bem antes, mas roda, roda e não encontra vaga na rua da lucidez. É amiga, sabe qual o grande problema? É que você e o resto do mundo não entendem o quão burro é esse seu coração teimoso.