segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Carta ao velho amigo

Ei, amigo, diga cá uma coisa para mim: a saudades não te procura em tua morada? Queres saber o ‘porquê’ disto justo agora? É que ela não me deixa em paz faz um bom tempo, vem a minha casa todos os dias e me sopra ao ouvido lembranças boas de um passado que disse adeus.

É, meu caro, senti uma vontade tremenda de te ligar, mas como ainda não segui seu bom conselho e não mandei o orgulho embora eu temi; senti um medo danado (daqueles de escuro), de que você me jogasse na cara, sem palavras nenhuma, a ausência que eu causei há tempos atrás; lembra da distância intrigueira? Pois é, veio me contar correndo que você disse ao seu coração que iria fechar até as janelas para a entrada do meu amor. Mas se acalme, velho companheiro, eu acredito mesmo é em você, nessa nossa amizade cheia de idas e vindas e no que ela guarda de bonito, por isso, escolhi o único meio de que eu consigo me utilizar: as palavras escritas.

Agarrei-me a uma caneta tinteiro, azul – a sua preferida - e me coloquei aqui, a relembrar nossos momentos bons. Recorda-te ainda daquele banho de chuva e da gripe tremenda que ganhamos? Dos filmes de suspense e da mão agarrada para mandá-lo embora? Das noites perdidas procurando solução para problema qualquer? Daquele amor que machucou em você e em mim, ao mesmo tempo? Dos sonhos que construímos olhando para aquela estrela que me encara neste exato minuto? Te recordas de tudo isso de bom pelo que passamos? Ai, bom parceiro, como sinto falta disso. Na verdade, disso e muito mais; me faltam até também nossas boas discussões, nosso ciúme doentio um do outro, nosso cuidado, parceria, cumplicidade, me falta a boa e velha amizade.

E quer saber? Acho que quando colocar o selo nessa correspondência vou correndo te ligar, porque também me falta a tua voz. Fico aqui me perguntando se você ainda é dono daquela mesma alegria e cruzando os dedos para receber uma resposta positiva. Me deixa meio apreensivo pensar que a vida, cruel e irônica, possa ter te arrancado o que você tinha de mais precioso: o dom de encantar. Deus, que você ainda tenha a sua magia, porque eu, bom amigo, perdi a minha. Com você, com aquele maldito amor, com tudo o que me passou. Pelo visto nada é para sempre mesmo não é? Bem do jeito como nós pensávamos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Daquelas ilusões desfeitas

Papai Noel,

Eu bem devia ter desconfiado o porquê de o senhor não responder mais as minhas cartinhas mandando o meu desejo de volta: eu pedia e o senhor ignorava. Poxa, vamos combinar, sempre fui boa menina e me comportei direitinho. Primeiro pedi-lhe paz, calmaria e quando corri para árvore de natal o que eu encontrei? Um embrulho lindo, com um laço enorme, meu coração disparou e eu decepcionei-me extremamente quando só vi confusão lá dentro. Depois, reconheci que havia pedido demais, e aí pedi um amor, de verdade e o que o senhor me mandou, caro Papai? Uma baita de uma ilusão. Novamente reconheci que havia abusado, por isso pedi que você nunca me fizesse parar de sentir, e aí o que você me dá? Uma caixa cheinha de frieza! E mesmo assim eu achava que o problema era comigo, que eu exigia demais. E escrevi uma carta pedindo desculpas dessa vez e o que o senhor fez? Respondeu-me desaforadamente, que a próxima vez que eu lhe chamasse de Pai seria mediante um exame de DNA, porque a Mamãe Noel era uma sem-vergonha e havia lhe traído. Eu entendo querido papai, que o senhor esteja furioso, mas daí a fazer isso? Eu acreditava no Natal, certo? O senhor me ensinou que era bonito, que era bom, que era para ser cheio de sentimento. E agora vem me contar isso? Que o Natal não existe. Ah, senhor Noel, eu realmente pensava que éramos todos filhos seus e que a bondade do Natal existia, mas o senhor provou-me o contrário, confirmou o que dizem as propagandas e o que grita o dinheiro.

Até qualquer dia em que o Natal volte a existir, passar mal e boas festas.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Enquanto não passa

Prefiro que você continue de boca fechada,que não declare amor e muito menos saudades. Não, não é frieza, muito pelo contrário: é calor demais no coração. Imagine você se eu te ligasse e dissesse que meu peito não se aguenta de saudades e que você é o que eu tenho de melhor nessa vida? Hum? Sei que ficarias muito mal, que sentirias tremenda culpa e que iria se machucar, então, meu bem? Comigo é da mesma forma.
Ouvir teu pronunciamento de tristeza iria me deixar triste e culpada. Iria largar tudo e correr ao seu encontro, mas lembre-se: ando tentando aprender a pensar um pouco mais em mim, a ter mais um bocado de amor-próprio. Por tanto, caso eu resolvesse voltar atrás e corresse para junto de ti, assassinaria cruelmente esse tiquinho de egoísmo a mais (por que não?) que conquistei, e olha, não foi nada fácil; quis corres-te várias vezes e chorar aos teus pés a tua volta, mas segurei-me e ando conseguindo aguentar firme.
Por isso, meu bem, não seja cruel; jamais mencione ao pé do ouvido, ao telefone as palavrinhas nada mágicas: 'distância', 'falta' ou 'amor'. Poupe-me, sabes que nunca fui boa para esconder o choro, só que tenho aprendido também a esconder sentimentos. E isso é bastante difícil, levando em consideração que me deparo com pedacinhos teus a todo instante. Já lutei contra tudo isso, repeti mil e quinhentas vezes que é besteira, que é besteira e que vai passar. Ei,espere aí, eu sei que vai passar, que uma hora vai parar de sangrar, no entanto, eu não sei quando e olha, ainda me dói um bocado.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Gotas de solidão

A chuva tá caindo forte demais, esses raios e trovões tão me dando um medo danado. Uii, que frio é esse, hein? Estranho esse frio: arrepia dos pés a cabeça, deixa a boca seca, gela tudo e vem de dentro, mais precisamente do peito. Sabe o que eu queria agora? Estar a uma pequeníssima distância de ti e correr para tua cama, como quando eu sentia daqueles medos enormes e corria para debaixo dos teus lençóis sem dizer nada. Não ria assim de mim, meu bem, olhe como estão bravos estes relâmpagos, olhe. Danados! Despejam toda a sua fúria sobre a minha coragem e me deixam assim – medrosa. Ah, meu amor, é bastante difícil superar estes medos, principalmente quando a sua fonte de coragem e incentivo para superá-los está tão longe, assim como você de mim. Aham, é isso aí mesmo: EU AINDA DEPENDO DE VOCÊ, muito, muitíssimo, bastante, exageradamente. Eu assumo. Até porque, de você eu não me envergonho faz tempo demais. Bem lembrado, eu ainda preciso dizer isso? Acho que não, né? É pleonasmo, redundância e essa distância faz cada palavrinha de amor machucar bem forte e eu tenho sentido mais dor do que pensei poder suportar. Já sei: lembrei agora, que uma vez quando eu pensei em desistir, você me disse que quando eu quisesse mais que tudo alguma coisa era só fechar os olhos com força e pedir, pedir, pedir, que se quando eu os abrisse o meu desejo não estivesse ali eu olharia para o canto e acharia determinação para buscá-lo. Pois é, vou fechar os olhos, apertá-los, apertá-los, apertá-los e vou abrir-los devagarzinho para ver se você aparece na minha frente e matar esse medo. Fechei. Apertei, dessa vez mais forte ainda; abri o mais devagar que pude, no entanto ainda chove, os relâmpagos estão mais fortes, o medo ainda me consome e, ah, vejam só: você não está aqui.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Súplica magoada

Mágoa boba,

Queria saber o que viste de tão atrativo em minha pessoa? O que em mim chamou a tua atenção, não sou tão alta e nem lá tão bonita; meu coração já foi mais puro, não há beleza que tu possas estragar neste pobre. Poxa, conversei com o coração, com a razão, com Deus e tô quase pensando em ter uma séria conversa com o diabo, porque tu, sua danada, só pode ser obra do diabo mesmo. És sem-vergonha, mal amada, te mandei ir embora quantas vezes, hein? Te enxotei para fora da minha casa todas as manhãs, assim que o sol veio me acordar, mandei que procurasse um outro canto, e o que tu fizeste? Pegou tua malinha e com cara de ofendida saiu porta a fora, no entanto, todas as noites, assim que eu me deitei, tu deste meia volta, pulaste a janela e com toda a sua persistência suja deitaste a meu lado, sussurrando lembranças doloridas e te apoiando no rancor para arrancar-me mil e uma lágrimas (secas e amargas). Diz aí: quer quanto? Pago todo o amor que tu quiser para me livrar de ti. Faço promessa, fico sem comer, sem dormir, paro de falar sozinha e de assistir comédia romântica, eu até cresço se for preciso - tudo o que exigir, mas faça o favor de sumir. Ok, ok, não precisa zangar-se: façamos um acordo! Deixe-me ver...já sei, já sei: serás só minha, não virás de mais ninguém que eu amo - largue-os, suplico-te, mágoa, deixe que ele partam. Fique só comigo, faça o que quiser de mim, mas eles mais não, por favor. Permita que ainda viva algo bonito dentro deste peito magoado. Tomou conta dele por tanto tempo e é hora de deixá-lo respirar. Se atingir mais alguém a quem quero bem vai acabar por matá-lo: sem amor. Ai! Cuidado, se pensares só mais um pouquinho pode ser tarde.


É MágoaAna Carolina
É mágoa
Já vou dizendo de antemão
Se eu encontrar com você
Tô com três pedras na mão
Eu só queria distância da nossa distância
Saí por aí procurando uma contramão
Acabei chegando na sua rua
Na dúvida qual era a sua janela
Lembrei que era pra cada um ficar na sua
Mas é que até a minha solidão tava na dela
Atirei uma pedra na sua janela
E logo correndo me arrependi
Foi o medo de te acertar
Mas era pra te acertar
E disso eu quase me esqueci
Atirei outra pedra na sua janela
Uma que não fez o menor ruído
Não quebrou, não rachou, não deu em nada
E eu pensei: talvez você tenha me esquecido
Eu só não consegui foi te acertar o coração
Porque eu já era o alvo
De tanto que eu tinha sofrido
Aí nem precisava mais de pedra
Minha raiva quase transpassa
A espessura do seu vidro
É mágoa
O que eu choro é água com sal
Se der um vento é maremoto
Se eu for embora não sou mais eu
Água de torneira não volta
E eu vou embora
Adeus

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nos reencontros da vida - Uma quase desistência do amor



Abraçaram-se fortemente, ela pedindo para que aqueles novos tempos que chegavam fossem mais doces e ele, quem sabe, pedindo ardentemente para resistir.” O sol nasceu e trouxe o primeiro dia daquele ano, os raios eram fortes e evidenciavam o verde do mar. Helena não demorou-se a acordar, ainda era cedo e tinha esperança de fazer um breve caminho pela praia e colocar as idéias em ordem. Na noite passada havia pedido para o ano que chegava de mansinho colocar ele em suas mãos. Levantou-se e engoliu qualquer coisa, estava com o coração cheio de pressa, queria tê-lo a todo custo. O chão fez-se dono de seus olhos, até que resolveram servir o mesmo senhor que sua mente: era Marcos, ali na sua frente.
- Bom dia!
-Ah, oi, bom dia!
-Vamos dar uma caminhada na praia?
-Por que não?
Ansiosa para que ele tocasse sua mão balanço-a freneticamente, como quem nada queria, mas ele parecia não perceber. Seu rosto ficou vermelho: era raiva. Idiota! Como ele não percebia? Como? Será que era cego? Ou talvez quisesse fazê-la de piada? Deus, como queria entrar na cabeça dele: queria entender tudo o que se passava ali dentro e de quebra mexer em sua memória para que só dela, Helena, ele lembrasse.
-Vamos sentar ali? Tô um pouco cansado.
-Ah, claro. Acho ótimo, estou com um pouco de dor nas costas. - era a última coisa para qual ela apelaria
-Se quiser uma massagem nas costas...- o sorriso da menina abriu-se, sentia cheiro de coisa dando certo.
-Quero sim! Bem aqui, ô...
Helena apontou o suposto ponto dolorido, até que aquelas mãos conhecidas lhe tocaram o dorso seminu. Marcos percorria suas costas em uma suave massagem, ela fechou os olhos – não queria acordar daquele sonho bom.
- Ajudou?
-Ah, sim, sim.
-Hum, posso te fazer uma pergunta?
-Mas é claro, Marcos.
-O que você faria se o gênio da lâmpada aparecesse agora?
Helena olhou profundamente e sentiu uma tremenda vontade de falar: “você”. Mas controlou-se e sussurrou:
-Não faço ideia.
-Bem, mocinha, acho que é hora de voltarmos para casa, está quase na hora do almoço.
Helena sentiu-se mais enraivecida ainda, queria batê-lo, pedir para que ele a olhasse e a quisesse. Estava com a alto estima ferida e com o caminho da desistência traçado.