quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Outras tantas letras trancafiadas



Oi, tudo bem?
Sei que tinha aberto uma exceção para minha promessa de não fazer promessas e prometi a mim mesma que nunca mais te mandaria nenhuma mensagem sequer. É que como te contei, cumprir promessas nunca foi meu forte.
Só que não foi à toa não. Estou descumprindo minha jura para comigo mesma porque hoje eu fui ao cinema. Fui assistir aquele filme que eu queria ter assistido contigo e que só pelo trailer sei que você amaria (mas que a covardia me impediu de te convidar). E eu chorei, chorei muito, um choro preso. Impedido de sair dessa vez não pelo orgulho, mas porque eu tinha medo de que se eu chorasse por nós, eu te tiraria de dentro de mim sem conseguir mais por de volta.
Mas voltando para o foco dessa tentativa de diálogo e para o meu objetivo de te fazer entender, vamos ao motivo de eu ter despencando em lágrimas no meio de um cinema lotado. Foi a trilha sonora, pequeno. Foi àquela música do U2 que você me mandou em uma quarta-feira à noite, que me tirou o sentido das coisas, dando uma lógica para aquele sentimento (assim paradoxal mesmo).
Não consegui prestar muita atenção no filme, a música me tomou por completo. Assim como você fez comigo. E eu só consegui continuar a chorar. Só que dessa vez não tinha a tua mão para me acalmar, nem teus olhos mansos a me sussurrar que isso é coisa da vida, que não passa assim depressa, mas que a gente aprende a lidar.
A verdade, pequeno, o real motivo pelo qual eu digito cada letrinha dessa mensagem ridícula é que você ao mesmo tempo em que me roubou a independência, me abriu uma brechinha na janela e mostrou através de um feixezinho que o mundo podia ser um tantinho meu e que não há razão nenhuma para eu não me permitir. Antes de você e desse misto de serenidade e caos que você se faz, eu sabia e queria me virar, rapaz. Só que ultimamente anda tão difícil me cuidar sozinha...
E eu me perco dentro das minhas próprias palavras. Não consigo prosseguir com meu raciocínio, inicialmente tão lógico e perfeito, não só por ser essa a minha especialidade. Mas é que fica meio difícil, quando a organização daquilo que falo disputa lugar com a tua imagem dentro da minha cabeça. Como de feitio meu (e como você já deve estar imaginando e rindo por dentro) eu tenho que dramatizar tudo, então crio uma cena: você com o ar mais lindo do mundo de “não era isso que eu queria para nós”, lendo por cima dos óculos cada letrinha digitada sob um lapso de impulsividade, suspirando e falando no silêncio do teu meditar  que era disso que você tinha medo, de eu gostar demais de você e acabar nesse sentimento unilateral que me toma agora.
E bem aí nesse momento do script, se eu pudesse te tomava nos braços e invertia a posição. Era eu quem ia te consolar e dizer para não se culpar. Assumiria outra vez a posição do meu ascendente, sendo perfeita geminiana, te passando calma e desapego. Lembrando que eu tinha plena consciência do barco em que eu navegava, que eu tinha assumido – desde o primeiro beijo – o risco de ele afundar. Seria a minha vez de te falar, pequeno, que isso é surpresa da vida, que eu ia me refazer e que nós conseguiríamos ser bons amigos.
Três grandes problemas nessa cena final:
a) eu não consigo mentir para você;
b) a alma leonina me faz toda paixão;
c)nós nunca mais seremos somente bons amigos.
Ok, os caracteres da mensagem já estão se encerrando e eu já consigo me recompor. Queria, queria MUITO para falar a verdade, te pedir para repensar e voltar para juntinho de mim. Só que Bono Vox me disse que o amor não é uma coisa fácil e que eu tenho que andar. Para frente.  Mas agora, deixa eu encerrar de verdade, que apagar letra por letra dá um trabalhão.