quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vicio


Você avisa: não vou mais tolerar esse tipo de tratamento. Se continuar assim, para mim chega, acabou. Ou aprende a me valorizar ou então vai me perder. Ele não te leva a serio. Você, mulher de palavra como é, cumpre com o dito. Termina o romance.
Ele te liga insistentemente. Te da, em um dia, as flores que nunca te deu em um ano; enche sua caixa de entrada com milhões de desculpas; jura por tudo que não vai mais se repetir, que tá arrependido, que o tempo longe o fez ver o quanto você é especial e que ele não quer mais te perder nem na próxima encarnação.
Você, apaixonada como é, consegue manter por duas semanas a sua decisão. Mas então, lembra que a vida exige flexibilidade das pessoas; que ele, humano como é, merece uma segunda chance e que o perdão é a maior virtude de alguém. Pronto: ele volta para sua vida.
Para comemorar – um jantarzinho romântico na sua casa, às oito. Você faz o prato preferido dele, compra um vestido e uma lingerie nova, escolhe o melhor vinho e ascende velas. Oito e meia. Ele nunca foi pontual mesmo. Uma ligação. Ele vai precisar se atrasar porque tem de passar no jantar da tia avó da mãe. Você compreende, é família afinal. Nove e quarenta. Uma mensagem de texto: a turma do futebol ligou e ele vai ter de dar uma conferida para não ficar chato. Você já tomou metade da garrafa de vinho, seu vestido já amaçou, a comida esfriou e as velas apagaram. Onze e vinte. Ele bate na sua porta. Te dá um beijo na testa e diz que está cansado demais. Deita e dorme. Ele sabe que você está com os sentimentos à flor da pele, que está morrendo de saudade. Mas ele também sabe que você entende, você é tão compreensiva. Ele mergulha num sono profundo, você se afoga em lágrimas de frustração.
De manhã você avisa: não vou mais tolerar esse tipo de tratamento. Se continuar assim, para mim chega, acabou. Ou aprende a me valorizar ou então vai me perder. Ele não te leva a serio. Você, mulher de palavra como é, cumpre com o dito. Termina o romance.
Ele te liga insistentemente. Te dá, em um dia, as flores que nunca te deu em um ano; enche sua caixa de entrada com milhões de desculpas; jura por tudo que não vai mais se repetir, que tá arrependido, que o tempo longe o fez ver o quanto você é especial e que ele não quer mais te perder nem na próxima encarnação.
Você, apaixonada como é, consegue manter por duas semanas a sua decisão. Mas então, lembra que a vida exige flexibilidade das pessoas; que ele, humano como é, merece uma segunda chance e que o perdão é a maior virtude de alguém. Pronto: ele volta para sua vida.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Aquele carinha


É carinha, não tem jeito mesmo. Vai dia, volta dia e eu aqui presa a você (soltíssima de suas mãos). Já fiz promessa, terapia, pensei positivo e até me ameacei com um novo amor, mas não deu certo. E sabe por quê? Porque, sendo sinceríssima, eu não quero.
O que me atormenta mesmo não são as lembranças, já nem tão vivas assim (na verdade, muito me parece um sonho), não é a impressão de ter sentido o teu cheiro e muito menos esbarrar contigo, reavivando as esperanças; o que me incomoda, cutuca, tortura é esse meu desejo forçado.
Então, pela primeira vez, eu resolvi escutar meu coração, saber o que ele realmente pensa de você. E eu, confesso, me surpreendi. Ele chorou de raiva, bateu o pé, rogou praga e me perguntou – cheio de mágoa – porque é que eu nunca pedi para que ele esquecesse você.
Gozado, né? Eu que sempre reclamei do pobre coitado...
Entende agora, carinha? Você vê que eu não luto contra nada disso, que eu trago toda essa confusão para minha vida? Bem, eu venho entender agora, porque o obvio é tão difícil de se notar. 

domingo, 4 de dezembro de 2011

Aliados

 



Dessa vez foi diferente: não priorizei a opinião nem de um, nem de outro; escutei a ambos – razão e coração – e tanto a primeira, quanto o segundo me disseram a mesma coisa: chegou ao final.
Desde o princípio, a razão disse pensar ser uma armadilha feita por mim mesma, resolveu me avisar que as diferenças entre duas pessoas é que fazem sobreviver um relacionamento, mas que opostos extremos não conseguem conviver bem. Ela sabia (eu sabia), que o futuro de tal relacionamento não era longo. Mas tinha de dar crédito ao pobre do meu coração que por muito tempo foi censurado. Ele reconheceu que não era lá todo esse gostar, mas apelou para a colega e relembrou que amor se constrói, me pediu para dar uma chance, para tentar mais uma vez, para não desistir de mim e me entregar, assim o fiz.
No entanto, agora chega este danado pegado a mão da mais nova amiga, me bate a porta da decisão dizendo que é hora de abandonar o navio, que o amor não tem chance de nascer nesse solo com esse adubo e essa água que agora o rega. Vieram aqui, razão e coração, tentar me abrir os olhos, me pedirem por um fim, para não prolongar o que não existe, vieram me implorar que não seja falsa. Então, meu querido, perdo-me; mas quando se unem razão e coração, só me resta dizer adeus. 

sábado, 3 de dezembro de 2011

Desilusão


Assumo: depois de você poucos foram os homens na minha vida. Mas sabe, não era isso que te tornava tão especial. Eu tinha um encanto por você, te venerava. Você era meu príncipe encantado dos tempos modernos. Tinha garantido um canto especial no meu peito, justo por não ter me feito promessas. Eu me apaixonei pela falta de juras, pela ausência do “para sempre” na sua boca. Pensei: “esse cara sim. Esse merece toda a minha inocência, todo meu desejo, todo meu amor”. Mas aí, dia desses, descobri que até o seu silêncio é mentiroso.
Eu acreditava mesmo que um dia eu ia te trazer definitivamente paras os meus braços. Via em você a chance de curar todas as mágoas que eu trazia comigo, a chance de crer uma vez mais no amor. Mas você, sem dizer nada, arrancou cruelmente todas as minhas esperanças e novamente me fez descrer das pessoas.
Eu acreditava piamente que para não se decepcionar com alguém, bastava não esperar nada, não alimentar expectativas. E foi isso que fiz como você. Não esperei. Só que ainda assim você conseguiu me decepcionar. Você frustrou minha espera inexistente, magoou aos meus princípios. Melhor seria que tivesse me prometido o mundo e depois me tirado a possibilidade de tê-lo. No entanto, você fez pior: roubou-me o que eu tinha de mais precioso - o meu amor por você.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Saudade

 

Não é de hoje que a vontade de mandar e receber noticias me toma todo o corpo. Faz um tempo que quero bater novamente a tua porta e dizer que as coisas mudaram sim, mas que a gente, do nosso jeito, pode se adaptar a essa mudança; que temos nas mãos todas as ferramentas para isso. No entanto, o orgulho me acorrenta e algumas mágoas bobas terminam por fortalecer essa corrente que me prende a distância. Só que quando a gente quer muito uma coisa, a gente consegue, não é? Pois então, aqui estou eu.
Eu podia te ligar, ir à sua casa e te falar tudo isso, mas creio eu que palavras ditas são deturpadas pelo tom de voz. Penso eu, que estaríamos mais vulneráveis a uma briga e a um fim verdadeiro. E também sei que a surpresa que vai te tomar vai ser muito maior ao ler cada letra que acabo de escrever. E você gosta tanto de surpresas.
Não se preocupe, vim com as mãos vazias. Veja: não trago agarrada nenhuma acusação. Ao contrário. Vim aqui, isentar-te de toda e qualquer culpa que tu tenhas contigo. Acalme-se. Sorria para mim. Vim aqui, pedir-te perdão.
Não pedir-te perdão por aquilo que fiz. Vim apelar para que esqueça aquilo que deixei de fazer. Por favor, desculpe-me pelas vezes em que deixei de cuidar-te; pelas vezes em que fui relapsa e acabei sufocando seus sentimentos, por ter me agarrado com a mágoa e te colocado em um canto escuro do meu peito, por até mesmo, te ter omitido socorro. Fui fraca. Não derrame essa lágrima. Ela é preciosa e eu não mereço tudo isso.
Mas esqueçamos isso. Desapeguemos-nos do que aconteceu de ruim. Vai, vamos nos preocupar em cuidar só daquilo que aconteceu de bom e que merece ser guardado. Quero mudar isso. Estou disposta a aliar-me à paciência e ao perdão, para que então possa ter prova de todo meu carinho por ti e nunca mais duvide do meu afeto. 


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Paciência



Eu estava ali – arisca, impaciente, distribuindo patadas e insegurança para todos os lados, principalmente em sua direção; e você permaneceu no mesmo lugar – inerte, parado, rindo com o canto da boca, cheio de paciência e pronto para me provar, que assim como dois mais dois são quatro, homens insistentes (quando o sabem ser, é claro), conseguem sim o que querem.
Eu, com toda a minha pressa e todos aqueles sentimentos à flor da pele, bati o pé e te mandei ir para qualquer lugar longe de mim. Você, não moveu nem sequer o dedo do pé e continuou a me olhar, manipulou meu coração sem que eu percebesse. Fez com que eu sentisse algo que me era estranho: nada de borboletas no estômago, de suor nas mãos ou coração acelerado; deu-me uma calmaria inquieta, uma vontade de deitar e esperar, sem pressa, ao menos uma vez na vida, o que esse tal de destino me reservou de bom. Você também me fez fazer aquelas besteirinhas que a gente faz quando tem doze anos de idade e pensa que encontrou o amor da vida da gente; me fez rir sozinha e cantar por nada. Logo você. E você também me ensinou o valor do amor que se constrói. Me fez enxergar que dos pequenos sentimentos é que nascem os grandes.
Você cultivou em mim o amor-próprio, fez com que eu enxergasse coisas em mim, que segundo você mesmo, eu nunca deveria ter esquecido. Trouxe-me de volta algo bom que há muito eu não sentia. Com esse seu jeito manso, acabou me conquistando e fazendo como que eu me prendesse a você de uma forma que eu jamais poderia imaginar.
E eu, que antes jurava te querer longe de mim, conheci um medo horroroso de te perder. Tem horas que tenho vontade de te puxar a manga da camisa e pedir para não me deixar nunca, para não arrancar de jeito nenhum essa coisa bonita que você provocou aqui dentro. Te olhando assim, como essa cara de quem não sabe o que quer, tenho vontade de decidir por você e determinar que a sua única possibilidade é ao meu lado. 

domingo, 9 de outubro de 2011

Pai





Pai perdoa se eu não acredito mais nas suas estórias, se não me deito mais ao teu lado, perdoa se eu bebi da realidade, se eu te desobedeci e fui para vida, perdoa se eu te desacredito, perdoa se eu não te sou digna. Perdoa pai?
Perdoa se eu ainda não me faço capaz de escutar e tenho tanto a calar, perdoa a dureza das palavras e a maciez da solidão, perdoa o amargo das saudades, perdoa?
Perdoa se eu não sei perdoar? Perdoa se eu ainda não aprendi a amar, perdoa se eu não sei nem ao menos ser amada, perdoa a minha pequenez e a minha insegurança, perdoa se eu me escondo e desprotejo agarrada à mágoa. Perdoa se me considero digna de julgar e assim como a justiça eu me faço cega. Perdoa pai?
Pai?Perdoa se eu cresci.  


“Pai me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança
Que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo...”

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Desistir



Desistir nem sempre é tão feio. Quando você abandona algo que não te faça bem, não está sendo covarde, apenas exercendo a teoria do amor-próprio. E essa conversa de que parar de tentar é coisa de gente fraca é uma enorme mentira. Insistir naquilo que te machuca é burrice.
Quando você decide parar de esperar por aquele cara que tanto ama e tenta dolorosamente seguir em frente, não está deixando de acreditar no amor, só está sendo boa consigo mesma. E mesmo que você, momentaneamente, deixe de acreditar no amor, não escute o que dizem. Você não é um monstro, só está tentando se proteger.
As pessoas mudam a todo instante. Suas vontades também. Nem tudo depende só da gente. Por isso, eu repito: desistir nem sempre é tão feio; mas acrescento – é muitas vezes dificílimo. 

sábado, 24 de setembro de 2011

Hoje, agora

Busco as velhas lembranças boas, mas não as encontro. Atraso meu relógio para deixar viva a esperança de que ainda há tempo; porém, minha consciência sabe que forjei isso, no intuito de que meu coração bata um tico mais feliz em sua própria saudade que também foi embora. Mas não adianta. Algo estranho anda acontecendo comigo, uma preferência secreta pelo presente.
Existe um vazio meio esquisito aqui. Não daqueles que dói ou que dá um medo tremendo de seguir em frente; parece mais com aquele que a gente sente quando se muda e estranha o novo lar. Dá aquele friozinho na barriga, aquela ansiedade para descobrir o que vai acontecer e, ao mesmo tempo, aquela sensação boa de que tudo finalmente está em seu devido lugar e que agora sim - tudo vai ficar bem.
A saudade de você resolveu me abandonar. Ficou agora só uma falta daquilo que eu sentia, mas da sua pessoa não sinto mais não. Dei um passo a frente. Perdi aquele medo estúpido que eu tinha de seguir em frente. Aprendi a esperar o que a vida pode trazer de bom, parei de exigir que ela cumprisse promessas subentendidas. Entendi: juras, na verdade, nunca existiram; no fundo, é só desejo, vontade passageira.
No entanto, não trago raiva suas. Botei a mágoa para fora e dei seu lugar à uma espécie de perdão (ainda estou treinando). Abri espaço para p que há de positivo. Separei-me do passado. E agora, vou correndo de braços abertos para o que se faz presente.

sábado, 17 de setembro de 2011

Há de passar



Já perdi a conta de quantas vezes prometi a mim mesma que ia te esquecer. Que isso ia passar, que eu ia mandar embora do meu peito todo esse sentimento. Mas aqui estou eu outra vez, doida para te puxar pelo braço e pedir para que enxergues o que acontece comigo. Mas não posso mais e sabe por quê? Porque aquele sentimento que você dizia ter por mim, aquele mesmo que você jurou, olhando nos meus olhos, que nunca iria acabar, pegou a estrada. Foi-se embora para um lugar que você desconhece e a quem eu já fui apresentada: o fim.
Se eu te falar que ainda acontece todo aquele carnaval quando olho para você, estarei mentindo. Aquele afeto imenso que pensei que nunca acabaria transformou-se em ressentimento, saudades e em um desafio trabalhoso. Não se espante, mas não suporto a ideia de ter te deixado escapar por completo, de não exercer o mínimo efeito sobre você. Quem sabe se você inventasse de me querer outra vez isso passasse definitivamente.
O que aconteceu com a gente, meu bem? Era tudo tão bonito e nós sabíamos que não ia acabar. A gente não sabe mesmo de nada, não é? Mas sem problemas, eu vou superar. Assim como você, vou conseguir guardar o que a gente viveu no cantinho das lembranças. Se dói? Já doeu mais. Agora, é como uma ferida que começa a cicatrizar. Coça bastante e sangra vez ou outra, quando insisto em arrancar a casquinha que se forma. Mas não se preocupe, vai passar para mim também.

sábado, 10 de setembro de 2011

Para minha mãe malvada


Os olhos alheios sempre são maldosos e por isso, por toda a vida, foste adjetivada de algo meio seco: rígida. Definiram-te bruxa e condenaram-te severa. E na função de envolvida, agora analiso tal sentença. Vejamos: muito nova perdeste algo precioso – a inocência – e te acorrentaram a algo bastante doloroso – a responsabilidade. Era criança, pobre menina, fizeste bem mais do que te exigiam, na verdade, muito mais do que podias imaginar. No entanto, os maldosos olhos alheios não se dispuseram a enxergar tudo àquilo que fazias. Deu mais do que podias imaginar ter dentro de ti, descobriu um amor novo e o entregou completamente aquele pequenino ser. Não vociferou, se manteve discreta, mas repito: destes bem mais que podia. Por ser assim: calada, taxam-te assentimental.
Mas vamos lá – ao julgamento - averiguar crime por crime. Comecemos pelo fato de teres obrigado um pequenino ser, que acabava de cair ao chão, a levantar sozinho; bem, analisando todos os fatos e cada conseqüência deste crime, está inocentada: aquela criaturinha tão pequena que caiu ao tentar dar um passo, sozinha, e levantou-se sem nenhuma ajuda, aprendeu a caminhar com as próprias pernas e a levantar de suas quedas. Por ter feito uma criança devolver um objeto que não era seu também estás perdoada, ela aprendeu que não se deve pegar nada dos outros. Por tê-la obrigado a sentar à mesa todos os dias, com a família, ao invés de comer assistindo ao seu desenho preferido, sem catar nenhum tempero e engolir todos aqueles legumes horrorosos, também esta perdoada; a criança, ao menos conseguiu crescer forte e saudável. Por tê-la feito guardar o choro quando não havia motivo para choramingo, estás também perdoada; ela descobriu que problemas não se resolvem com lágrimas. Por tê-la feito cumprir todas as promessas, mesmo que sem sentido ou bobas, também estás perdoada; hoje, ela aprendeu a ter responsabilidade e palavra. Por ter assumido seus erros e tê-la obrigado a contar sempre a verdade, fostes outra vez inocentada; agora, ela
livrou-se da mentira e anda bem distante da hipocrisia.
É, cara senhora do mal, foste inocentada. E como esse juizado pelo qual acabaste de passar não possui recursos suficientes para fazer com que todos se retratem contigo, serás indenizada com todo meu amor. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O última samba do nosso amor



Acabou. Não tem mais jeito, nem mais volta. A gente até se gostou, mas nos enganamos muito mais. Eu queria esquecer aquele outro cara idiota de quem nem me lembro mais o nome, você queria mostrar para si mesmo que tinha achado a mulher da sua vida. Eu me enganei embriagada de raiva, você iludiu-se por meus dotes culinários e por meus princípios plagiados; eu fingia que o seu encantamento por mim ia me conquistar, você fingia que o meu jeito diferente ia te prender para o resto da vida. Não foi.
Prefiro sair agora, deixar que falte a minha bagagem um punhado de mágoas e outro tanto de frustração. Não me olhe com essa cara de quem não vai sobreviver. Você vai. Pode acreditar, há uma loira gostosa em cada esquina. Deixa ser assim, sem agressões, sem acusações. Não diz nada. Eu é que falo por demais.
Vai. Vamos guardar o que a gente teve de bom, porque de bom a gente teve um mundo de coisas. Quando pensar em mim, lembra daquelas vezes em que a gente conversou besteira, de quando eu cozinhei para você, daquelas massagens que eu sempre te fazia depois de um dia cansado de trabalho, das nossas bocas que se encaixavam tão perfeitamente, da pressa que a gente tinha em chegar lá ou da calma que a gente tinha em se amar; se você quiser, lembra até das nossas brigas, que sempre acabavam na cama.
Não guarda mágoa de mim. Não deixa o que dói se sobrepor ao que foi até bonito. Não to mentindo não, eu vou sentir falta de você. Vou sim. Sei que vou até sentir vontade de te ligar de madrugada para contar um sonho que eu tive contigo e te ter batendo meia hora depois na minha porta para realizá-lo. Mas dessa vez não tem mais recaída, não posso dar uma milésima segunda chance. Vou ficar só na vontade do desejo comodista que vai sentir saudades desse último ano. Mas acabou. O último verso do nosso último samba, acabou de acabar.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Um dia eu chego lá

 

Tenho horror a coisas pela metade, gosto delas por completo. Não consigo ir somente até a metade do caminho, a curiosidade sempre me leva até o final da estrada (tenho a pavorosa mania de ver aonde vai dar). Não gosto daqueles assuntos subentendidos: ou fala tudo, ou fica calado. Não aprendi AINDA a apreciar a calmaria, insisto na tempestade. Não gosto da medida certa de sal: ou é insosso, ou insuportavelmente salgado (da mesma forma o doce: ou arripuna, ou então, prefiro não sentir o gosto). Desprezo o morno; para mim ou pega fogo, ou então, melhor congelar. Ignoro ao tépido. Mas um dia eu chego lá: no meio-termo. 


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aluguel


De repente, um dia desses aí, que não me lembro mais ou menos ao quando, eu coloquei meu único imóvel válido – o coração – para alugar. Resolvi procurar um inquilino. Entrevistei, perco a conta de quantos candidatos e já havia quase perdido as esperanças de encontrar alguém digno de cuidar do meu cantinho. E no meio de todos esses apareceu um meio marrento, que de início, não me chamou atenção, não me cativou e por tanto, logo o descartei. Mas aí, justo no tal dia em que eu ia finalmente desistir, comunicá-lo de que ele não havia sido aceito e me fixar sozinha em meu lugarzinho, esse tal desinteressante me reapareceu e aparentava estar mais calmo, cuidadoso e atencioso. Ainda tentei relutar, no entanto, não havia como negar: aquele carinha era certo, zelaria devidamente o meu coração.
Pobre de mim. Como me enganei; a aparente calma, posteriormente, me deu um enorme trabalho. Aquele, o marrento mesmo, só havia mudado o rosto, por que a essência continuava a mesma. A princípio, ocupou todo o espaço e me deixou bastante feliz, parecia ter preenchido todos os cantos. Que erro brutal. Sem ver nem para quê, na madrugada calada, pegou todas as suas coisas, sem avisar que destino tomaria, foi-se embora, deixando o meu cantinho sem mobília alguma, preenchido apenas por um amor não retribuído. O vazio que aquele maldito deixou sempre me pareceu que nunca seria preenchido, e olhe que até agora não me convenço do contrário.
Só que ocorreu algo muito engraçado: outro dia qualquer, apareceu um sujeito muito bonito, diga-se de passagem, se oferecendo para ocupar não todo espaço vazio, mas um único cômodo apenas. Porém, eu estava muito bem decidida: não iria ceder nenhum metro quadrado do meu coração. Coitadinho. Fui grossa, firme e disse que não havia possibilidade. Mas aquele tal moço, quieto e paciente tornou a insistir; mesmo assim, não mudei a minha resposta, permaneceria sozinha naquele lugar. Só que esse moço tornou a insistir novamente.
Pensei. Um sentimento de compaixão (e até uma certa esperança, confesso eu), tomou conta de mim: cedi um quartinho, nos fundos, a esse homem. E posso contar uma coisa? Ele anda cuidando tão bem do espaçinho que conquistou. Jamais imaginei que alguém pudesse cuidar de um lugar tão pequeno de uma forma tão bonita. Como essa vida é injusta, não é? Alguns, que tem recursos suficientes para possuírem o melhor lugar, desprezam essa oportunidade; e outros, que mereceriam esse lugar tão bom, possuem apenas um canto pequeno.
Quer saber de uma coisa? Eu estou torcendo por esse carinha. Por esse mesmo cheio de paciência, dono de todo carinho do mundo; estou de dedos cruzados, querendo muito que um banco qualquer, libere para tão merecido rapaz todas as chances para possuir definitivamente esse meu imóvel.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Anjo,


Anjo,

Perdoa esse meu jeito quieto. Perdoa por eu calar as saudades, por eu falar tão pouco e deixar-te duvidoso. Não te preocupa em manter-me tua, tens essa garantia, perto ou longe, sabes disso. Não te gastes culpando-se por algo que não nos cabe, eu sei compreender: aprendi.  Não te aflijas, querido, continue calmo, leve: anjo...
Eu entendo os seus motivos, sei que era preciso bater asas, para que a dor não roubasse tua pureza angelical. E que permanecer aqui, próximo de mim, seria mortal. Pensei que nunca aprenderei a amar assim, sem gota nenhuma de egoísmo, mas tu me ensinaste. Doer até dói, mas não fere mais, não faz mais sangrar. Esse nosso amor não exige a presença física, basta eu saber que tu existe, basta tu saber que eu existo e pronto: é amor que não se acaba mais.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Princesa,


Te vi outro dia e senti uma dor enorme no peito; olhei para o fundo dos teus olhos e mergulhei em uma frieza que nunca foi característica tua. E então, me deu uma aflição tamanha, por saber que contribuí um bocado para cavar poços fundos e frios em tua alma. Ah, minha pequena, te juro que nunca quis te machucar. A única vontade que senti depois que te revi foi de cuidar-te, de tomar-te entre meus braços e cumprir o que prometi há tanto.
Quando teus olhos cruzaram com os meus eu procurei por uma doçura que te era peculiar, busquei todos aqueles sonhos bonitos que tu tinhas, a fé que carregava; procurei sentir a doçura que você exalava, a esperança que transmitia e o amor que propagava, mas não os encontrei. Aonde se esconderam todos eles, minha boneca, aonde?
E sabe o que também me é estranho além dessa ausência? É que você continua bonita, na verdade, a beleza que tu trazias parece ter aumentado. Esse ‘quê’ de tristeza te acrescenta algo a mais, dá uma vontade de te explorar, de procurar até achar teu pobre coração e cuidá-lo como devia ter feito antes, mas você se fechou, minha flor; criaste um escudo protetor forte por demais que me impede de enxergar aquela velha criança, é duro crer que as pessoas mudam, e é mais áspero ainda saber que eu fui um dos responsáveis por essa mudança.
Naquele dia, que eu te vi de novo, a saudades de ti (que sempre me acompanha) pareceu ter crescido horrorosamente. Quis só mais uma única vez poder te puxar pela mão e sussurrar ao teu ouvido o quanto és linda; poder entregar-te aquela flor que eu deixei murchar antes de ir embora; ouvir, só mais uma vez, você cantarolando acompanhada do dedilhar da viola aquela canção do Chico que tinha dito que era nossa; queria poder voltar aquele maldito momento em que você me pediu para partir, implorando que eu ficasse, e te abraçar, falar pela primeira e verdadeira vez que eu não ia mais te machucar, que você merecia o mundo e que eu cumpriria a promessa, que te cuidaria para sempre.
Mas fui burro, meu bem, te escutei e saí pela porta da frente da sua vida, te dei tempo suficiente para mudar a fechadura e reforçar os cadeados, e agora, não vejo mais nenhuma janela sequer aberta para eu poder voltar para o seu coração. O que foi que eu fiz, princesa? Por que fui inventar de te perder? Será que era tão difícil de enxergar que sem você não tem como dar certo? Tu não imaginas, meu amor, como foi doloroso perceber que mulher nenhuma se iguala a ti, minha menina. Ai, como eu sinto falta do nosso amor, era tão bonito...
Mas eu estraguei. Pronto, acabou.
É, eu sei. Não vou te esquecer nunca. Todas as vezes que eu pensar que te esqueci, que tu estiver virando uma nevoa nas minhas lembranças eu irei relembrar; ou você vai me aparecer, só para torturar, ou então, eu vou voltar para realidade e ver que o que eu quero (o que eu preciso) está contigo. Não tem jeito mesmo não: eu vou ser sempre teu.
E quer saber outra coisa que eu me pergunto por demais? Se algum outro cara vai saber tanto de ti como eu soube. Será? Será que esse sujeito, que nem sei se existe ainda na sua vida, vai saber que você detesta chiclete e adora jujuba; será que ele vai lembrar sempre que você é dengosa e gosta a beça de um cafuné; que você gosta do seu suco sem açúcar e do seu café um pouco amargo; será que ele não vai esquecer que você gosta de ganhar flores e receber cartas; que ele vai segurar a sua mão ao assistir uma comédia romântica; que ele vai saber identificar a sua tristeza e ter o dom de te devolver um sorriso? Será, princesa, será que ele vai saber cuidar de ti?
Mas eu te perdoo todos os dias, criança. Te perdoo por ter sido tão madura e ter me mandado ir embora, eu te perdoo por não ter me deixado te ver sofrer.

sábado, 13 de agosto de 2011

Querido Inimigo,



Assinamos um tratado – cada qual em seu canto -, e pusemos fim àquela Guerra Sentimental de tão curtos anos. No entanto, por medida de segurança, agarrei-me ao orgulho e mantive não só o pé atrás, mas respirei, desde então, um ódio magoado, remoído, forçado. E logo eu, que todas as vezes que ouvia uma velha estória de que agente recebe ajuda de quem não espera, sentia embrulho no estômago, vendo ali o resumo da mentira, só por recordar-me de você.
Sabe o que é, caríssimo? É que na verdade, eu quis me render, colocar fim a essa guerra, que me tirava mais do que eu podia suportar e fiz apenas as formalidades, esquecendo de oficializar tal decisão para mim mesma. A quem enganei? Não há dúvida: fui a única a desconhecer o que realmente ocorria. O que fiz, na verdade, foi apenas me armar mais, me encher de munição, correr desesperadamente atrás de todos os aliados que pudessem existir.
Não é só você, eu também me pergunto sempre, todos os dias, melhor dizendo: por que eu, que tinha os melhores argumentos, toda a munição possível e não deixei escapar nenhum aliado, perdi mais uma vez? Justo para você, que não se moveu, não fez um único esforço, mantendo toda a sua energia. Não possui resposta alguma? Pois eu tenho. Resolvi enxergar o que ofuscava bem a frente dos meus olhos, você se utilizou da arma que eu desprezei, o perdão, foi capaz de perdoar a mim e a você; e o pior, conquistou o único aliado que eu deixei  passar despercebido – eu mesma.
E agora, que eu consegui subir novamente, que consegui reconstruir parte de mim, olho e tenho de suportar que você, a quem eu tanto odeio, foi fundamental para tal reforma. Ah, caro inimigo, não pode imaginar o quanto dói, tortura, corrói, saber que eu me enganei; mas não me enganei com qualquer, me enganei como você. Se essa dor é suportável? Ah, é sim. Essa maldita não se compara com o desespero que eu sinto, sem saber que faço desse orgulho.
Eu queria ainda, ter a mesma pureza daquela criança que você conheceu; desejava profundamente ser capaz de falar-te o que eu penso, de me desfazer dessas mágoas vencidas, dessa raiva fingida e perdoar insanamente, sem lembrar do que eu penso ter acontecido. Mas enquanto eu não consigo, prezado Inimigo, eu fico aqui: me remoendo e te contando muito mais, no meu meio silêncio.


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Minha menina - por J.M

Te vi por aí cantando uma canção do Chico,
Forçando seu sorriso mais bonito,
Amando mais que podia parecer.

Te vi por aí vestindo uma força meio estranha,
Meio verdade, meio mentira
Deixando para trás a menina
Que outrora se fez minha.

Te vi por aí,
Fugindo cada vez mais das minhas mãos.




Só para matar as saudades suas, minha boneca.
Beijos
J.M

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Chega o fim


Eu guardo toda a culpa para mim e você finge que foi obra do destino. Mas ei, nós sabemos que não foi bem assim. Sabemos que desta vez a vida não passa de uma menina inocente, fomos nós os responsáveis por terminar de escrever a nossa história sem final feliz e o destino, em um de seus devaneios, apenas inicio-a, sem querer, como em uma brincadeira inocente.
O nosso grande problema foi o mesmo de todo trabalho em grupo, cada qual com sua ideia e a maldita mania de querer tudo da sua forma. Planejamos fins diferentes: enquanto eu já me preparava para pôr o último ponto final da nossa tentativa de conto de fadas, você ainda não o visualizava. Foi inevitável, acabamos em tempos diferentes.
E agora, amigo, estamos aqui – cada um no seu canto, cada qual com sua vida e seus planos. Abortei um amor prematuro, que não sei se de forte ou teimoso, sobreviveu. Mas você rasgou a folha em que havíamos escrito a tal da nossa história, resolveu cuidar de outras famílias e não por maldade, deixou-me mãe solteira desse pequenino amor, que cresceu rápido demais em tão curto tempo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Neoamélias



As Neoamélias são uma espécie rara de mulher, se camuflam em sua independência e personalidade forte, mas no fundo tem como maior objetivo de vida conseguir uma casa cheia de filhos e um marido para cuidar.
Talvez você se pergunte o que difere uma Amélia de uma Neoamélia, muito fácil, meu caro, o que não torna essas duas criaturas a mesma é a submissão. Essa nova espécime gosta realmente de ter uma cueca para lavar e uma panela para esquentar, no entanto, jamais exija que tal raridade faça o que faz, não entenda como obrigação, porque se assim o fizer, meu querido, dê tchau – ela vai arrumar as malas e deixar muitas saudades.
E ao contrário do que muitos dizem por aí, manter uma Neoamélia não é nada caro, porém não se pode negar que exige bastante cuidado. Uma mulher deste tipo não admite ser sustentada por ninguém, ela trabalha fora e ainda mantém a organização de sua casa impecável. Só que para manter-se viva ela precisa ser muito bem alimentada: não lhe pode faltar carinho, ela tem que sentir-se linda, a mais especial do sexo feminino, precisa de bastante combustível para manter sua auto-estima, do contrário ela definha e acaba por morrer.
Se você que me lê percebeu que a sua namorada, mulher e/ou coisa do tipo é uma Neoamélia, corra seu sortudo. Vá até o jardim mais próximo e lhe roube uma rosa, bata na porta da casa dela só para dizer que ela é realmente a mulher da sua vida e não se esqueça de falar dos cinco filhos que quer ter com ela; mas cuidado para não ser um piegas extremista, Neoamélias adoram aquele climinha romântico, mas detestam clichês, não se deixe cair na normalidade: surpreenda.
E se querem mesmo saber, que me perdoem as Amélias, revolucionárias e feministas, mas as Neoamélias sim, isso sim é que são mulheres. 

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Desilusão

Espero que você me procure, anseio por um sinal de vida – uma mensagem, um telefonema, outra carta ou só um pensamento. No entanto, me frustro pela milésima vez nas minhas expectativas.
Eu sei, eu sei que você não vai ligar, que não vai rabiscar coisa alguma e também sei que não vai me aparecer a porta com uma flor roubada cheirando a arrependimento e vontade, eu sei. Não preciso que me alertem, que me puxem a orelha ou que sintam pena de mim; sempre estive ciente da sua inércia e por isso, no princípio, meu coração assinou um termo se responsabilizando por toda e qualquer ferida feita. Se ele ficou louco ou coisa do tipo? Que nada! Ele anda é com uma filosofia de vida meio esquisita, anda tentando convencer quem passa na sua frente de que não há nada a se perder, e que mesmo que houvesse, perder não é coisa do outro mundo. Resolveu romper com seu antigo melhor amigo – o medo – e se agarrar a uma nova companheira: a coragem.  Se eu e minha parceira razão não fizemos nada para impedir? Ah, nós fizemos. Tentamos de tudo: banho de água fria, choque de realidade, quaisquer argumentos possíveis; mas o danado anda irredutível. Decidiu que vai enfrente, que quanto maior a queda melhor, significa que ele voou mais alto.
E quer mesmo que eu te fale algo que percebi agora, ao olhar para você e para meu coração doido? Os mais felizes são mesmo os insanos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Suspiro derradeiro

Vejo meus dias se acabarem pouco a pouco em minha monotonia, e para falar a verdade não tenho quase nada do que me reclamar. Tive uma boa vida, poucas vezes me faltou dinheiro, no final das contas arrumei um amor, amor de verdade, que me deu de presente duas lindas filhas. Ah, os filhos... Eles são um verdadeiro presente e um verdadeiro castigo também.
E sabe qual a maior ingratidão de um filho? Não é o fato de não cursar a faculdade que sonhamos, ou não casar com a pessoa que idealizamos ou ainda nos deixar morrer num asilo, a maior ingratidão que pode cometer um filho é não fazer jus a criação que receberam.
Sabe as minhas duas filhas de quem falei agora pouco? Elas são lindíssimas, muito parecidas, pena que só fisicamente. Dei todo o amor do mundo, aquilo que conheci como boa educação, mas não saíram como planejei. A Luciana sempre foi uma menina difícil, o gênio muito forte, puxou a mim, as emoções sempre a flor da pele, metida a revolucionária e eu jurava que não ia muito longe na vida; mas aí nasceram os gêmeos, e toda aqueles devaneios juvenis foram-se embora, é um menina boa hoje em dia. Já a Estela, essa sempre me deu orgulho, desde que nasceu tem essa carinha de anjo, é a personificação da doçura, menina boníssima. Melhor aluna da sala, seguiu a bendita profissão de engenheira que eu tanto queria e anda muito bem de vida. Se com ela está tudo perfeito? Na verdade não. Ela anda meio diferente da minha estrelinha (era assim que eu a chamava). Anda meio triste, sabe? Sempre com um péssimo humor e não me fala mais o que anda a aborrecendo, diz sempre que é coisa do trabalho; talvez seja mesmo, cálculos dão uma tremenda dor de cabeça e a vida da minha pequena virou uma função do segundo grau, sem delta real. Anda tão amarga, com um jeito de falar que nem parece de gente.
Ah, mais assim que eu chegar ao paraíso terei uma conversinha com Deus do céu e perguntarei porque diabos é que os filhos crescem. Ta aí o grande mal da vida e a única coisa da qual posso me reclamar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nos reencontros da vida - Último capítulo




“-Ei, ei, acho melhor a gente parar, Marcos.
-Certo, certo, eu prometo que vou me controlar.
-Então, até amanhã.
-Até. E ah, sonha comigo, princesa.
-Seu bobo...”

O dia amanheceu e o sol logo veio beijar a face daquela doce menina. Helena havia dormido poucas horas, mas parecia ter dormido uma eternidade, estava ansiosa para sonhar acordada um de seus mais belos sonhos. Não queria pensar que aquele seria seu último dia com Marcos, ele logo iria embora, voltando para sua vida normal, e dessa vez, ela ficaria ali: sozinha e sem respostas.
Levantou-se e se vestiu cuidadosamente; uma coisa não havia perdido de forma nenhuma: a vontade de impressioná-lo. Logo que saiu o encontrou; ele estava ali, parado, olhando-a com aquele olhar torturador; como sempre, o único gesto que partiu dela foi o sorriso, queria dizer-lhe tantas coisas, mas era mais prudente calar-se. Estavam sozinhos, ele puxo-a pela mão e levo-a para o dia mais curto que ela já vivera.
Logo chegou a noite cheia de saudades apressadas. Helena não queria separar-se dele naquele momento, nunca mais. Queria olhá-lo nos olhos e implorar que ele não se fosse, que ficasse com ela, que tivesse mínima piedade, mas era dona do maior orgulho do mundo. Agora, lá estava ela: olhando para o cara que tinha um enorme potencial para não ser o príncipe que ela havia acreditado um dia e o homem que ela tinha de ter ao seu lado, por um breve instante ele ainda estava ali.
-Eu posso saber no que a senhorita está pensando, dona Helena?
-Eu? Nada.
-Nada mesmo? Mas vem cá, eu já disse que a sua sobrancelha esquerda fica bem arqueada quando você está pensando?
-...
-Te peguei, não é? Vai, fala; eu adoro te escutar...
-É que é muito estranho. São só mais algumas horas e você vai voltar para sua vida, para tudo que você construiu sem mim e eu sei que para você isso que aconteceu entre a gente foi uma questão física.
-Você tá sendo injusta. Por favor, não fala assim. Sabe, quando eu te reencontrei não sabia o que fazer, se te beijava, se te cumprimentava de longe, se passava deixando em branco; meu coração acelerou, queria te puxar para mim, te perguntar tanta coisa, mas tinha de me controlar. Mas é que você não entende, não é? Não consegue compreender que toda vez que eu te olhar tudo o que eu sinto por você vai voltar.
-Posso te falar uma coisa? Eu acho que vou acabar gostando de você.
-Eu não mereço, minha pequena...

E foi com um último beijo que se acabou essa história.


Queridos, aqui está (até que enfim) o último capítulo da história do Marcos e da Helena. Mas quem sabe...

sábado, 18 de junho de 2011

Mãe

Amamentar. Pôr para dormir. Banhar. Ensinar a lição de casa. Brigar. Pôr para dormir novamente. Se isso que é ser mãe, me desculpe - a senhora nunca foi mãe para mim.
Dar-me de mamar? A senhora pouco fez, só por três meses. Disse que não podia, seu peito doía, uma doença estranha e contraditória começada com mas..., mastite, isso! Acho que era mesmo. Os médicos falaram alguma coisa sobre seus seios terem crescido demais e estarem pressionando o coração. Vazou amor, foi-se o leite.
Pôr para dormir? Nunca parou para tal também. Todos os dias deitava ao meu
lado, lia algumas doces mentiras, me dando assim uma passagem para o mundo dos sonhos.
Banhar? Jamais. Na verdade, a senhora diariamente parava para me lavar e com a quentura de uma água gelada tirava-me todas as dores inexistentes e medos iminentes. 
Ensinar a lição de casa? De jeito nenhum. Ao invés de me falar das mesmas coisas que a professora feia da alfabetização, a senhora contou-me coisas sobre uma tarefa estranha e meio confusa – chamada vida; falou-me de um conteúdo meio esquisito, se bem me lembro chamado conselho.
Brigar? Não mesmo. Vociferou algo sobre livre arbítrio e responsabilidade, contou-me de uma tal de escolha própria que eu devia conhecer e uma tal de consequência sobre quem eu devia pensar com mais calma e carinho.
Se ser mãe é fazer bom uso do verbo no imperativo a senhora nunca foi mãe mesmo. Porque desde que não me falha a memória sempre te comportaste como um substantivo de sobrenome esquisito: abstrato, e de nome pouco conhecido: amor.

domingo, 5 de junho de 2011

Moço bonito

Ei, moço bonito, não me olhe assim. Não fixe esse olhar misterioso em meu pobre ser, se não eu acredito que é verdade. Não, não. Não me fale de amor, eu acho bonito por demais, vou acabar querendo isso para mim. Por favor, não me prenda dessa forma entre teus braços; teu perfume me embriaga e me faz querer permanecer para sempre aqui. Pare, pare. Se eu sentir uma outra vez teu gosto cítrico, não aceitarei outro sabor.
Tudo bem, eu acredito, me rendo. Só te suplico uma única coisa: não escute nada que digo. Segure forte a minha mão, cale as minhas palavras bobas, não me solte outra vez, que é para não correr o riso de eu me perder. Ah, moço bonito, e se eu disser que sou tua?

domingo, 22 de maio de 2011

Igual a todo mundo

Ei, eu também concordo: foi um grande amor, esse nosso.  Mas a gente se magoou demais, exageramos nas acusações, pedimos porção extra de cobrança; abandonamos a cumplicidade, nos desfizemos da compreensão e nos esquecemos do carinho. É, com a gente era diferente, igual a todo mundo.
Começou como começam todos esses outros relacionamentos – cheio de certezas, com mil e uma declarações e a crença estúpida de que era aquilo uma rara concretização do “para sempre”. Fizemos juras, planos, pactos, promessas e mais promessas; agarramos-nos um ao outro na certeza de que no instante em que o mundo caísse o sentimento (verdadeiro) bastaria. Não bastou. 
Começaram-se as brigas, antes desconhecidas; bateu a nossa porta o egoísmo, declarado inimigo nosso outrora; colocaram-se em nosso meio as diferenças, a princípio pouco notáveis; começamos então a nos desentender. Ofendemos-nos, cobramos o que não era justo, buscamos o idealizado e acabamos colocando fim no que considerávamos tão precioso, importante e necessário.
Deixamos que o orgulho tomasse conta do caso e acabamos por guardar palavras demais, o que foi correndo pouco a pouco o que existia entre nós. Quando nos demos conta estávamos distantes por demais, a intimidade – velha amiga – que esteve presente por tanto, pareceu nunca ter posto os pés por aqui, ganhamos aquela chata formalidade que se tem com quem se sabe quem é, mas não se conhece e nos conhecíamos tão bem, mas as pessoas mudam, meu bem; e mesmo percebendo, começamos a  nos afastar.
A distância causa uma falta quase boa, na ausência a gente se lembra daquilo que mais sente falta no outro e bate aquela vontade de dá um passo atrás, retornar e pedir desculpas, assumir os erros pertençam a quem pertencerem. Mas o orgulho, daquela vez, misturado com a vergonha, nos amarrou ao pé da mesa e não permitiu que saíssemos de forma alguma, permanecemos só com a vontade.
Aí, não me lembro se eu ou você, em um dia abençoado resolveu ligar só para perguntar como iam as coisas, falar que sentia saudades e combinar alguma coisa. Combinado. Combinamos que largaríamos de besteira, que o que tínhamos era muito maior e que superaríamos. Nos encontramos, não superamos. Permaneceram as brigas, cada vez mais cruéis, fazendo com que reencontrássemos a velha amiga distância.
E dessa vez, meu amor, a estória é diferente. Uma rosa não me agradará mais, porque o que me vale não é a flor em si, mas o gesto; não ligarei, não mandarei mas nenhuma carta ou mensagem, não baterei mais a sua porta. Aquela conversa de que amor que é amor sobrevive a tudo é mentira, descaso mata-o como um câncer, de tico em tico e o meu por você já foi até sepultado.
 Um dia a gente se esbarra por aí e eu vou te sorrir, te perguntar como você anda, como vai a sua mãe, seu pai, a sua irmã e o seu cachorro; você vai me dizer que sente falta e eu vou te mentir que também sinto, falar que estou atrasada, cheia de trabalho, que preciso ir, e assim como me fez algumas vezes, eu te direi que vou te ligar para gente marcar alguma coisa, me torturando por dentro por estar mentindo. Bem que eu queria, sabe, sentir algo assim outra vez, no entanto, o que antes era saudade virou só mais um poçinho raso dentro desse peito bem acostumado. 

sábado, 14 de maio de 2011

Homem-do-saco e outros medos

Quero leite gelado; to sem sono. Me lê uma estória? Não consigo dormir. Acho que eu to com medo. Mãe, você vai me abandonar em um orfanato se tiver outro bebê? Não me deixa, por favor, eu to com frio. Deita comigo, vai. Mas promete que não vai sair daqui quando eu pegar no sono? Eu acho que ouvi um barulho, acho que o Homem-do-saco tá lá no portão, ou será que o Bicho Papão veio me pegar? Não mãe, não olha; ele vai te pegar. Por que tenho de dormir agora, não quero ir para aula, e além do mais, eu já sou grande posso ficar acordada até tarde. Mãe, a senhora ainda tá acordada? O bichinho do sono ainda não picou, conta outra estória, aquela com o final feliz? Promete que nunca vai morrer, promete?
E quando eu crescer eu posso ser que nem a senhora? Mãe, e da aonde vem os bebês? Ah, então se eu plantar uma semente de melancia na barriga eu vou ter um? Por que não posso? Odeio ser pequena. As crianças nunca podem fazer nada, que chato.
Mãe, eu acho que to quase com sono, mas não apaga a luz viu?
 Mãe? Segura a minha mão. E não esquece: não sai do meu lado...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O que queremos

Se você é homem e se pergunta constantemente o que querem as mulheres, só por isso eu começo a lhe dizer: você é um idiota. Sabe cara, não é difícil, não mesmo. Nós mulheres, ao contrário do que vocês homens pensam, não queremos dinheiro, não queremos carros bonitos, não queremos status ou simplesmente um cara lindo e fiel. Para gente o verbo que domina não é o ser e sim o sentir.
Nós mulheres não queremos uma jóia diferente a cada semana, no entanto uma florzinha roubada de uma praça, jardim ou até cemitério, deixará o nosso dia bem mais feliz. Não esperamos que liguem a cada cinco minutos para contar a que ritmo anda a respiração, mas nos deixa incrivelmente contentes uma mensagem no meio de um dia estressante só para dizer o quanto nos consideram especiais, aliais, mandar uma mensagem repentina vezenquando nos faz sentir extremamente especiais. O que nos interessa mais não é um cara bom de cama, e sim aquele seja capaz de dormir abraçado, sem exigir nada em troca. Nós mulheres, não queremos simplesmente um rapaz lindo, rico e bem apresentado; o que desejamos na verdade é um cara inteligente, engraçado e compreensível; que seja capaz de assistir a um filme romântico e abraçar-nos no ápice do drama; que saiba compreender e nos provocar uma crise de riso mediante ao período mais frágil e crítico: a TPM, que tenha sempre a mão disponível para compartilhar a terrível dor de uma cólica, que saiba a marca do absorvente que usamos e não tenha vergonha de comprá-lo, que surpreenda, que não seja capaz de tirar o atraso e sim de perceber a hora certa de chegar, que não se valha sempre de indiretas, mas que saiba ser direto no ponto certo, que não precise de pretexto para ser gentil, que seja cavalheiro, que saiba ouvir e falar de sentimento. E atentem bem ao que direi agora – não priorizamos fidelidade, mas sim lealdade; o que nos importa, ao nosso coração, é a sinceridade, que trás o perdão para mais perto da realidade.
Mas se você é um babaca e ainda não conseguiu entender o que anseiam as mulheres, entenda que mulher não quer modelo, quer companheiro.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mas eu sabia, sabiá


Sabiá,

Achei que tinha te ouvido cantar. Corri para janela, na doce esperança de matar sufocada essa saudade maldita que eu sinto de você. Mas não era nada, não era ninguém. Talvez tenha sido só impressão, fruto dessa falta que você me faz.
Ah, passarinho, por que fazes assim? Tanto que pedi para que voltasse, sabes que jamais o prenderia. Mas as folhas do meu abacateiro parecem não mais te agradar, eu sei, estão meio amareladas, meio mal tratadas, é que a chuva nunca mais veio, e água com que eu o rego não se faz suficiente.
Essa esperança que eu carregava grudada em mim, anda se desprendendo, penso que talvez eu nem mesmo te vejas mais. Ah, meu querido, por que tem de ser assim? Eu gostava tanto, tanto de ti. E ainda gosto. O bem que te quero é enorme, mas tu não enxergas, pequenino. Não sei por qual motivo, mas ultimamente quando me recordo de ti, imagino um novo olhar de acusação, um pio mais triste, o que a vida fez da gente, meu querido sabiá?
Não quero cobrar-te, somente recordar: lembras que havias prometido, ao final de uma canção, que retornarias? Lembras que me pediu para enxugar as lágrimas de saudades, que nunca deixarias de visitar meu abacateiro? Eu realmente acreditava nisso, costumavas cumprir aquilo que prometias, só que nunca mais viestes cantar para mim.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Teimosia desnecessária


Bati o pé. Falei para quem quisesse ouvir que eu não queria nunca mais sentir teu cheiro, que tinha te colocado para correr, que não tinha mais nem meia conversa, era definitivo: tinha acabado. Te vi uma, duas, três, quatro, dez ou até quinhentas vezes, não me lembro, só sei que nada daquele velho desejo se arrepender, nenhuma pontinha de vontade de voltar atrás, nem mesmo para lembrar direito, estava mesmo acabado.
Mas aí, não sei o que aconteceu. Talvez a chuva tenha lavado meu coração e aquela areia seca e dura que estava em cima tenha se dissolvido, dando lugar para uma terra nova, com aquele cheirinho de molhada. Te olhei pela milésima vez e veio uma coisa diferente, não embrulhou o estômago, nada de suadeira nas mãos ou do peito em ritmo de carnaval, guiado por um desejo louco. Foi algo meio calmo, trazendo pegado a mão vontades quietas, sem nem um alvoroço. Quem sabe por culpa da antiga intimidade, mas não se esqueça, eu prometi PARA MIM MESMA que não voltava e não vou voltar. E se ninguém souber? Eu vou saber. Ah vai, que se dane. Uma vezinha só, não vai ser nada de mais. Combinado?
Ei, que é isso? Por que tá me olhando assim? Não faz isso, pára. Nada de sentimentalismo fingido. Não me olha assim, já disse. Ok, ok, a gente pode sair outra vez, mas não passa disso. Nem sei o que tá me acontecendo. Ora, ora, que mal tem?
O que aconteceu? Nada. Deu só uma vontade repentina (e não planejada) de te ligar. Se eu sinto saudades? Por que saber disso? A gente não tem mais nada, lembra? Sobre aquela velha estória de juntar os trapinhos dos nossos corações? Calma aí, rapaz. Quieta, respira, que eu tô começando a ficar em dúvida. Não custa nada tentar? Ah, custa sim. O quê? Minha (falsa) estabilidade emocional, serve? Certo, certo, a gente tenta. Quem sabe, não é? Êêê  coração vagabundo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Matando as saudades

Clarice era previsível – esse tipo de menina para namorar, que se encontra em cada esquina, e por isso estava com ela há quatro anos. Já Carolina era aquele tipo raro de mulher; de personalidade forte, muito atraente, com aquele ar malicioso de quem não precisa de ninguém, que não se prende: era um fantasma do passado que voltava para fazê-lo suspirar.
Lembrava-se bem do dia em que conhecera Carol, quase cinco anos atrás. No instante em que a olho apaixonou-se. Ela era ainda uma menina, mas nunca havia visto mulher tão linda, e o esforço da conquista foi recompensado; ela se entregava de corpo e alma a tudo que fazia. Pena que em um dia ensolarado confessou-lhe que precisava ir a lugar algum respirar os ares da liberdade e doía só de lembrar aquela falta; o vazio que ela deixara era imenso e a maldita até tinha falado em voltar, mas só agora retornara.
E o encontrava ali com a vida refeita. Encarar aquele olhar era torturador, sentia um desejo enorme de cobrar-lhe, de senti-la, de tê-la uma única vez mais – e assim o fez. Trair? Nunca havia cogitado antes, mas Carol era Carol. Ela armou o bote como uma cobra peçonhenta, mas não possuía veneno algum, havia pingado-lhe apenas algumas gotas poderosas daquela maldita saudade e feito com que ele relembrasse alguns dos momentos que deveriam passar longe de sua memória.
Deus, o que ele tinha feito? Clarice era louca por ele e ele a adorava também; queria casar, queria que ela fosse mãe dos seus filhos e ele trocava um futuro estável por uma lembrança? Era hora de terminar com aquilo, antes que ele enlouquecesse e trocasse toda a segurança que tinha por um maremoto passageiro. Levantou-se e deixo-a ali: nua, deitada de costas para cima, o encarando. E por um breve instante, achou ter visto uma lágrima no canto daquele belo olho, no entanto, ele já havia aprendido a não se levar pelo coração e jamais esqueceria que Carol era Carol, sempre fugiria.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Talvez

Eu não faço ideia de quanto tempo eu prendi essas palavras (eu e a minha terrível mania de não seguir conselhos), por diversas vezes eu peguei o telefone para discar seu número e dei graças a Deus por não ter, não conto as vezes em que eu quis te escrever um Email, uma carta sem remetente ou qualquer coisa do gênero, mas o meu amor parecia-me tão obvio e ridículo que as minhas palavras, teimosas como são, fizeram acontecer sua vontade e ficaram trancafiadas goela abaixo. Só que tudo tem limite, e talvez eu até tenha aprendido isso com você, porque se você não sabe, eu aprendi muito com você, e agora eu não agüento mais, os sentimentos se rebelaram e eu ouvi um boato rouco de que eu tenho que seguir urgentemente os devaneios desse meu coração burro. Não se assuste, mas pelo menos finja que está surpreendido por descobrir que eu tenho um.
Fiquei imaginando por bastante tempo por que diabos teve de dar errado para gente. Trouxe a culpa para dormir diversas vezes comigo, senti um imenso remorso por não ter voltado antes, por não ter correspondido aquele sentimento que
 parecia tão verdadeiro e por não ter tentado não te querer quando te vi tão longe das minhas mãos. Você lembra, eu te falei que não sei perder.
Juro que nada foi por mal, que não premeditei tudo isso. Lutei muito para me livrar desse maldito aperto no peito que eu sinto em ver o meu nome se confundir com o teu, para não deixar cair nenhuma lagrimazinha todas as noites em que eu relembrava minimamente tudo o que a gente passou, eu tentei me controlar, mas você fez o enorme favor de ser tão diferente. E eu tava quase conseguindo, não precisava mais me torturar, nem me matar de ciúmes, nem mais reler aquela bendita carta, mas aí você teve de voltar para estragar tudo, não é?
E sabe outra coisa que eu me pergunto? Se é você que é tão especial quanto me parece, ou se sou eu que sou azarada o bastante e só atraio confusão para minha vida. Sinceramente, eu não devia, mas prefiro ficar com a primeira opção. Você foi tudo aquilo que eu nunca quis, que eu sempre reneguei, tudo de bom que eu precisava e que fui idiota o suficiente para deixar passar.
Não posso negar que você não me causa mais todo aquele efeito, que o coração bate um pouquinho mais devagar quando eu te olho e que eu te xingo quatrocentas vezes ao dia pela sua falta de atitude que tem de existir. No entanto, não posso ser leviana o bastante e deixar de dizer que você ainda mexe comigo (bem mais do que devia), que eu alimento insanamente uma pontinha de esperança de que aconteça uma nova “recaída”, que repito todos os dias para mim uma das suas últimas palavras naquela sala: “o que eu sinto por você sempre vai voltar quando eu te olhar novamente”, me agarro a esse sempre que eu sei que não existe, para me machucar um tico mais, me dizendo que assim vai doer menos e não deixar de acreditar que eu fui especial para você  assim como você foi para mim.
No fundo, eu não quero te esquecer. Quero manter viva dentro de mim essa nossa relação sem sentido que nem existe mais, assim ela até parece meio real.  Me faz um bem estranho ouvir alguma música e te lembrar, te olhar e achar que suas palavras são indiretas, imaginar que você pensa em mim uma veizinha só, que eu ainda provoco um carnavalzinho no seu coração. Mas não se preocupe, eu já até tirei da minha agenda a nossa foto, já me torturei dizendo o que você me diria: que passou, que o sentimento mudou, que é para eu esquecer, já tomei um banho geladíssimo olhando você com outra e percebendo o quanto ela é especial, já fiz muito mais do que eu pensei que faria. Repito-me todos os dias que vai passar, e ando até quase acreditando que está passando.  Talvez o vazio seja mais duro e bem mais difícil, né? Ou eu tenha mentido pela milésima vez para mim mesma e ainda seja louca por você.

domingo, 3 de abril de 2011

Reconciliação

Querido coração,

Logo eu, que te reprimi tanto e por tanto tempo, que há muito acreditava piamente odiar a tão famosa calmaria, que apesar de tudo, achava que era sina e até vontade própria querer toda essa agitação em minha vida amorosa, mas olha que surpresa: até que ando gostando novamente desse sabor adocicada dos relacionamentos estáveis.
Essa coisa de decepções, encrencas e finais, me fizeram, por comodidade e (auto)proteção, alegar que no fundo era daquilo que eu gostava, declarando-te burro e culpado, forcei-me a acreditar naquilo que me era conveniente, parecia doer menos.
Se aconteceu um milagre e agora eu creio em amores que acontecem e duram para sempre? Não, não. Eu ainda defendo aquela mesma estória de que amor não começa com um olhar e sim com a convivência, que cruel como é, também pode o destruir. Também não penso ter achado a pessoa certa, ao contrário: penso estar com a pessoa errada. Mas ei, quem disse que a tal da pessoa errada não pode me fazer bem? É, anda fazendo...
E em meio a toda essa clara confusão, eu percebo que só agora de fato fizemos as pazes, meu amigo. Acabaram-se as mutuas ofensas e acusações, estamos de fato em paz e até vejo como tinhas certa razão. Quem diria, coração, quem diria.                           


p.s Queridos, eu ainda continuo sem internet. Mas prometo que sempre que puder, darei o ar da graça. 
p.s Muitissimo obrigada por esses comentários lindos.
Beijos cheios de carinho e saudades.

domingo, 20 de março de 2011

Quieta, pequena

Pobre menina, o que fez o amigo tempo contigo? Que aparência fria é esta? Para qual estrela deste aquele brilho antigo de teus lindos olhos? E o teu amor, pobre criança, em que parte do universo se escondeu? Não faça isso, não esconda atrás dessa beleza angelical tamanho ódio, por onde andou aprendendo isso? Cadê teu coração, querida? Aliais, ainda tens um? E ainda sabes como usá-lo? Parece-me que não.
Olha, assim assusta-me! Não te reconheço pequenina. Essa tua face dura nega-me a visão daquele serzinho sonhador; será que foi esse o mal maior, teres conseguido tudo aquilo que querias? Ou será que pensaste errado e não era bem isso que almejavas...
Cuidado criança! Ainda há tempo, mas muito pouco. Veja, olhe bem fundo através do espelho, mire teus olhos, procure dentro de si - em seu peito – este coração que se encolhe, não te negues a sentir, não te negues à bondade. Lembre-se que foi feita para a doçura, que foste um anjo mandado, não te apegues ao que é ruim. Ficas cada vez mais só, perde teus aliados e fortalece cada vez mais teu inimigo.
O que a vida aprontou-te, hein? Faz tão mal a ti ser amada assim? Por que, criança? Por quê? Não consigo entender aonde erraram contigo, tivestes tudo aquilo que necessitava para crescer menina, mas insiste em fazer-te mulher, monstro mulher. Não te enganes. Olhe só, veja como te torna cada vez mais amargurada, não confundas maturidade com crueldade.
Shhh, vem cá. Deita-te em meu colo e chora tuas mentiras, dissimula teus falsos sentimentos, mas não cresce, não te afastas, não te amargues.




p.s Amores, continuo sem internet; mas sempre que puder responderei esses comentários lindos. Beijos, beijos.