domingo, 22 de maio de 2011

Igual a todo mundo

Ei, eu também concordo: foi um grande amor, esse nosso.  Mas a gente se magoou demais, exageramos nas acusações, pedimos porção extra de cobrança; abandonamos a cumplicidade, nos desfizemos da compreensão e nos esquecemos do carinho. É, com a gente era diferente, igual a todo mundo.
Começou como começam todos esses outros relacionamentos – cheio de certezas, com mil e uma declarações e a crença estúpida de que era aquilo uma rara concretização do “para sempre”. Fizemos juras, planos, pactos, promessas e mais promessas; agarramos-nos um ao outro na certeza de que no instante em que o mundo caísse o sentimento (verdadeiro) bastaria. Não bastou. 
Começaram-se as brigas, antes desconhecidas; bateu a nossa porta o egoísmo, declarado inimigo nosso outrora; colocaram-se em nosso meio as diferenças, a princípio pouco notáveis; começamos então a nos desentender. Ofendemos-nos, cobramos o que não era justo, buscamos o idealizado e acabamos colocando fim no que considerávamos tão precioso, importante e necessário.
Deixamos que o orgulho tomasse conta do caso e acabamos por guardar palavras demais, o que foi correndo pouco a pouco o que existia entre nós. Quando nos demos conta estávamos distantes por demais, a intimidade – velha amiga – que esteve presente por tanto, pareceu nunca ter posto os pés por aqui, ganhamos aquela chata formalidade que se tem com quem se sabe quem é, mas não se conhece e nos conhecíamos tão bem, mas as pessoas mudam, meu bem; e mesmo percebendo, começamos a  nos afastar.
A distância causa uma falta quase boa, na ausência a gente se lembra daquilo que mais sente falta no outro e bate aquela vontade de dá um passo atrás, retornar e pedir desculpas, assumir os erros pertençam a quem pertencerem. Mas o orgulho, daquela vez, misturado com a vergonha, nos amarrou ao pé da mesa e não permitiu que saíssemos de forma alguma, permanecemos só com a vontade.
Aí, não me lembro se eu ou você, em um dia abençoado resolveu ligar só para perguntar como iam as coisas, falar que sentia saudades e combinar alguma coisa. Combinado. Combinamos que largaríamos de besteira, que o que tínhamos era muito maior e que superaríamos. Nos encontramos, não superamos. Permaneceram as brigas, cada vez mais cruéis, fazendo com que reencontrássemos a velha amiga distância.
E dessa vez, meu amor, a estória é diferente. Uma rosa não me agradará mais, porque o que me vale não é a flor em si, mas o gesto; não ligarei, não mandarei mas nenhuma carta ou mensagem, não baterei mais a sua porta. Aquela conversa de que amor que é amor sobrevive a tudo é mentira, descaso mata-o como um câncer, de tico em tico e o meu por você já foi até sepultado.
 Um dia a gente se esbarra por aí e eu vou te sorrir, te perguntar como você anda, como vai a sua mãe, seu pai, a sua irmã e o seu cachorro; você vai me dizer que sente falta e eu vou te mentir que também sinto, falar que estou atrasada, cheia de trabalho, que preciso ir, e assim como me fez algumas vezes, eu te direi que vou te ligar para gente marcar alguma coisa, me torturando por dentro por estar mentindo. Bem que eu queria, sabe, sentir algo assim outra vez, no entanto, o que antes era saudade virou só mais um poçinho raso dentro desse peito bem acostumado. 

sábado, 14 de maio de 2011

Homem-do-saco e outros medos

Quero leite gelado; to sem sono. Me lê uma estória? Não consigo dormir. Acho que eu to com medo. Mãe, você vai me abandonar em um orfanato se tiver outro bebê? Não me deixa, por favor, eu to com frio. Deita comigo, vai. Mas promete que não vai sair daqui quando eu pegar no sono? Eu acho que ouvi um barulho, acho que o Homem-do-saco tá lá no portão, ou será que o Bicho Papão veio me pegar? Não mãe, não olha; ele vai te pegar. Por que tenho de dormir agora, não quero ir para aula, e além do mais, eu já sou grande posso ficar acordada até tarde. Mãe, a senhora ainda tá acordada? O bichinho do sono ainda não picou, conta outra estória, aquela com o final feliz? Promete que nunca vai morrer, promete?
E quando eu crescer eu posso ser que nem a senhora? Mãe, e da aonde vem os bebês? Ah, então se eu plantar uma semente de melancia na barriga eu vou ter um? Por que não posso? Odeio ser pequena. As crianças nunca podem fazer nada, que chato.
Mãe, eu acho que to quase com sono, mas não apaga a luz viu?
 Mãe? Segura a minha mão. E não esquece: não sai do meu lado...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O que queremos

Se você é homem e se pergunta constantemente o que querem as mulheres, só por isso eu começo a lhe dizer: você é um idiota. Sabe cara, não é difícil, não mesmo. Nós mulheres, ao contrário do que vocês homens pensam, não queremos dinheiro, não queremos carros bonitos, não queremos status ou simplesmente um cara lindo e fiel. Para gente o verbo que domina não é o ser e sim o sentir.
Nós mulheres não queremos uma jóia diferente a cada semana, no entanto uma florzinha roubada de uma praça, jardim ou até cemitério, deixará o nosso dia bem mais feliz. Não esperamos que liguem a cada cinco minutos para contar a que ritmo anda a respiração, mas nos deixa incrivelmente contentes uma mensagem no meio de um dia estressante só para dizer o quanto nos consideram especiais, aliais, mandar uma mensagem repentina vezenquando nos faz sentir extremamente especiais. O que nos interessa mais não é um cara bom de cama, e sim aquele seja capaz de dormir abraçado, sem exigir nada em troca. Nós mulheres, não queremos simplesmente um rapaz lindo, rico e bem apresentado; o que desejamos na verdade é um cara inteligente, engraçado e compreensível; que seja capaz de assistir a um filme romântico e abraçar-nos no ápice do drama; que saiba compreender e nos provocar uma crise de riso mediante ao período mais frágil e crítico: a TPM, que tenha sempre a mão disponível para compartilhar a terrível dor de uma cólica, que saiba a marca do absorvente que usamos e não tenha vergonha de comprá-lo, que surpreenda, que não seja capaz de tirar o atraso e sim de perceber a hora certa de chegar, que não se valha sempre de indiretas, mas que saiba ser direto no ponto certo, que não precise de pretexto para ser gentil, que seja cavalheiro, que saiba ouvir e falar de sentimento. E atentem bem ao que direi agora – não priorizamos fidelidade, mas sim lealdade; o que nos importa, ao nosso coração, é a sinceridade, que trás o perdão para mais perto da realidade.
Mas se você é um babaca e ainda não conseguiu entender o que anseiam as mulheres, entenda que mulher não quer modelo, quer companheiro.