sexta-feira, 24 de abril de 2015

Não sei lidar




Simplesmente, não sei lidar. Eu não sei lidar com gente intolerante, não sei lidar com quem não aceita opinião divergente da sua. Não  sei lidar com gente fria (e nem com o frio também). Não sei lidar com coisa ou momento sem paixão.  Da mesma forma com outro alguém: não sei lidar com quem não é apaixonado - por um ideal, pela outro ou pela vida. 
Não sei lidar com quem só sabe olhar pro próprio umbigo e acha que o mundo gira ao seu redor.  Não sei lidar com gente que não gosta de chocolate. Não sei lidar com muito sal, a não ser que ele esteja concentrado no mar. Não sei lidar com quem não cede a cadeira no ônibus às prioridades. Nem com quem fura fila, com quem faz fila dupla ou nunca para na faixa de pedestre. Não sei lidar com omissão. 
Não sei lidar com falsidade, nem com meio-termos. Não sei lidar com quem não gosta de ler. Não sei lidar com quem não vê graça em Friends. Não sei lidar com gente normal. Não sei lidar com falta de bom humor (mas jamais o confunda com meio para ofender). Não sei lidar com machismo. Não sei lidar com racismo, nem com lgbtfobia. Não sei lidar com opressões. Não sei lidar com ausência da alteridade e nem da sororidade (mesmo quando ela parte de mim). Não sei lidar com gente que odeia Chico Buarque. Na verdade, não sei lidar com quem não gosta de MPB. Não sei lidar com quem odeia tudo, muito menos com aqueles outros que amam tudo. 
Não sei lidar com quem acha que o Brasil está a um passo de ser Cuba, nem com quem pede a volta da ditadura. Não sei lidar com jenipapo. Nem com sentimentos, nem com demonstrações públicas dele. Não sei lidar com elogios. Não sei lidar com falta de tesão. Não sei lidar com a espera. Não sei lidar com quem vê a redução da maioridade penal como solução,  nem com quem diz que "bandido bom é bandido morto". Não sei lidar com a pressão,  nem com a falta de compromisso. Não sei lidar com gente que é feliz 24 horas, 365 dias. Não sei lidar com trovões. Não sei lidar com meus medos. E nem comigo mesma.
Sinto muito, mas eu não consigo lidar.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Sobre uma menina boba e a felicidade



Tá certo.  Tudo bem, é hora de eu ser justa com você.  Então, vou começar por parar de te deixar sem algumas respostperguntas feitas com o olhar. Vamos lá. 
Não  é por nada que eu fico aqui mexendo por segundos que mais parecem horas nesse café doce demais. Nem são só pensamentos aleatórios quando meu olhar se prende ao nada e o riso me foge. Tem mais, rapaz. Muito mais aí por trás.
Que pareça só vontade de chamar atenção, melhor para o muro que protege tudo aquilo que me toma verdadeiramente. E quer saber? Antes fosse. Só que tem mais, pequeno, muito mais.
Por trás de tudo isso, tem a insegurança, que sei que você já detectou e que parece não se importar. Mas é que ela se desdobra em um outro tanto de coisas, em algo que talvez nem seja muito maior, mas que me chega aos olhos e ao coração como um gigante bicho papão.  E me deixa assim, amoada e mais chata que o normal.
É que essa insegurança,  meu rapaz, ela é mãe de um dos piores defeitos que trago comigo: o medo de ser feliz. Eu não sei me permitir, é isso. Eu tenho medo, pavor - pra falar a verdade - de sentir o que essa tal de vida pode me oferecer de bom. Aquela prática de "ter o pezinho no chão" sempre me pareceu mais fácil.  Mas não é não...
Não é porque ela me fecha pra mundo, porque ela me afasta daquilo que eu podia ter de bonito, inclusive de você.
A verdade, é que nem sou aquela cilada toda que ameacei que seria.  Me visto de confusão,  mas me faço toda solidão.  Eu não causo ameaça nenhuma, não represento perigo, pode ficar tranquilo.  É que talvez eu ainda seja uma menina. Muito boba, por sinal.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Fica


Entre lágrimas sem sentido eu te mandei embora. Pedi chorosamente que você desse meia volta e se retirasse da minha vida. Te alertei sobre a confusão em que você estava se metendo, só que você não me deu bola. Teimoso e cabeça dura - como se entitula e gosta de provar que é - ficou. Ficou ali, enxugando meu pranto e me balançando como quem nina um bebê.
Te pedi outros milhões de vezes que me deixasse,  te provei que eu não valho a pena e que estacionar seu coração bem ali mesmo, na minha vaga, gera multa altíssima e um coração partido em milhões de pedacinhos.   No entanto, você só sabe ser amor.
Mas sabe, passando todo esse alvoroço que não sei bem explicar e vivendo um raro lapso de calmaria, eu te peço: vai não.
Não nego, sou de fato uma roubada das grandes, mas esquece o que eu disse. Sei que isso - como a maioria dos meus atos- deve te deixar confuso,   é só que sempre me pareceu impossível alguém gostar de mim com toda essa mescla de desastre e confusão que me faço.
Estranha não,  é  que ninguém nunca ousou avançar o sinal depois do meu aviso de "Pare.  Eu sou uma cilada"; ninguém nunca foi capaz de suportar meus dramas e colocá-los tão ajustadinhos e aconchegados nas suas preocupações e zelo. Na verdade, sempre fui acostumada a cuidar, ser cuidada me assusta um pouco.
E então?  Ainda dá para ignorar toda aquela besteria que eu falei? Tá, com exceção da parte em que eu confessei gostar de ti, pode apagar tudo. De verdade, diz que sim e senta aqui do meu lado, prometo que vou tentar me comportar.