quarta-feira, 4 de junho de 2014

E lá vem ela


Ouvidos sempre atentos para compensar a pouca visão, dedo indicador sempre a posto, ao nível da cabeça. Vez em quando, pernas balançando e sempre com a cabeça fervilhando de ideias. Meus dias, há muito, resumem-se na profana utopia de mudar o mundo; e devido a isso, tornei-me tagarela de marca maior e chata de carteirinha. 
Olhos revirados e risinhos de canto de boca demonstram sempre o amor dos colegas: “lá vem ela”.  Fazendo-me, ao final de cada dia, refletir sobre uma possível boca fechada, mas resultando em todas as minhas preces implorando para que o silêncio nunca me domine.
Passei de “garota de personalidade forte e opinião polêmica” para “moça metida e inconveniente”. Se assim o sou, aceito de bom grado. Estereótipos não combinam com minha indumentária, se “ser do contra” for ser sempre contra aquilo que está enguiçado, é essa a capa que visto.  
E no devaneio de que com conselhos comodistas irão aquietar minha língua e coração, aconselham-me todos os dias: “ignore. Ignorar é o santo remédio. Pra conversa besta a gente não dá atenção”. No entanto, insistindo na rotina de contrariar aquilo que se perpetua, não acredito que em boca fechada não entra mosquito; para mim em boca fechada entra barata, rato e todas essas coisas das quais se tem nojo, deixando a gente podre por dentro. Para mim, calar não é consentir, é bem mais: é omitir. É mais do que dizer: “eu concordo com você”, é afirmar: “eu apoio você”. Tenho a omissão como algo tão grave que me conduziria a um coma, a uma meia vida. Não me calo nem dormindo, que dirá incomodada!