quarta-feira, 30 de junho de 2010

Despedida de si mesma

Olhou para aquele corpo esticado ali. Estava pálido. Parecia frio, na verdade, aparentava congelado. Algo lhe arrepiava, talvez porque ele ainda trouxesse aquele sorriso meio torto que sempre tinha nos lábios antes vermelhos. O terno preto e aquelas mãos cruzadas não lhe agradava, ela sabia que não era daquela forma que ele queria ser visto pela ultima vez, mas fazer o que se existia a tal da tradição?
Uma lágrima ameaçava cair pelo rosto fino de Clara. As coisas não estavam as claras em sua cabeça; como aquilo pôde acontecer? Tão de repente, e ela ainda tinha tanto a falar-lhe. Criou coragem, chegou perto do defunto. Levantou a mão, passou-a por aquele rosto tão, tão, tão jovem; tão cheio de vida interrompida. Doía-lhe tanto! Ah, Deus, por que tinha de ser logo ele? Deixou sua mão ali, repousando sobre aquela testa que sempre trazia ruga; ah, como ela amava aquelas ruguinhas!
Debruçou-se sobre aquele corpo tão amado; tinha de lhe dar um abraço, um último abraço. Encostou perto do ouvido dele como se realmente pudesse escutar alguma coisa: 'eu te amo; e por favor, não me deixe'. Beijou a face gélida e sentiu o coração congelar. Era tão duro saber que nunca mais poderia ouvir sua voz pela linha telefônica, que nunca mais lhe daria um abraço-correspondido; ah, nunca mais poderia ver aqueles lábios se abrindo faceiramente em um sorriso branco. Senhor, como aguentaria? Como? Como poderia seguir em frente sem ele?
Era hora do adeus final, verdadeiro. O coração apertou. A garganta de repente ficou seca, e o rosto encharcado. Clara sentia o coração pisado, esmagado, mais pior, ele ainda estava ali; antes tivesse sido arrancado. Acompanhou de longe aquele caminho para o cemitério, lá atrás, sozinha. Caminhava devagar, como se seus passos calmos pudessem o trazer de volta.
O caixão foi colocado cuidadosamente naquela cova, sete palmos abaixo do chão, era ali que a menina queria estar. Apanhou uma rosa, rosa-branca, beijo-a carinhosamente, dolorosamente; segurou bem forte até que os espinhos perfurassem sua mão e seu sangue escorresse manchando a brancura. Jogou a flor naquele buraco. Foi junto seu amor, sua vontade de vencer, seus sonhos e ideais. Adeus, rosa; adeus, Clara.
Enxugou o rosto. Deu meia volta. Era hora de seguir, para lugar nenhum e esperar que sua hora finalmente chegasse.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Parceira

Ando de um lado para o outro. Sento; balanço as pernas, quase que como em uma coreografia; mexo sem parar nos cabelos; olho o relógio a todo instante. Como demais ou não trisco em nada; perco o sono e me desespero. Tudo isso por quê?
É que a minha fiel companheira, ansiedade, insiste em não me abandonar um minuto sequer, não importa o lugar e muito menos a situação. Ela me acompanha em todas as minhas provas, meus encontros, no médico, no dentista e até quando não acontece nada ela está ali comigo. ]
E quando tento ignora-la, a dita cuja faz com que minha barriga se encha de borboletas ou então das minhas mãos a nascente de um rio.
Já tentei um bocado de coisa: tirar
os sapatos e colocar os pés no chão; respirar fundo; deixar me dominar pela tal para que ela chegue em seu máximo e logo vá embora; deixar com que ela brigue sozinha e canse de mim. Já descontei no chocolate, no café, nos livros, nos pobres dos meus pés que constantemente se reclamam de não ter mais forças para andar de um lado a outro; já tentei até terapia, mas a danada não vai embora de jeito nenhum!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Alma, alma demais

Quem sabe não devia seguir os conselhos do meu professor de história e parar de lê sobre política e problemas sociais e me deliciar com a leitura de um bom e velho romance, aqueles mesmos de banca de revista, bem piegas. Talvez estes poderiam me ensinar a lidar com o amor, com os sentimentos, e ah, com os ciúmes.
Quem dera encontrar em um livro de receitas como se faz para o possuir na medida certa. Tenho quase certeza de que leva menos tempo no fogo. Mas não adianta, sempre acabo queimando, queimando o pobre do sentimento e torrando a mim mesma.
Acho que é isso, ando deixando tudo passar do ponto, acho que ando colocando calor de mais, que ando me doando mais do que deveria, aquela história de pouco corpo e muita alma.

domingo, 27 de junho de 2010

Anjos e seus feitos demôniacos

Ela se achava tão forte, tão esperta, tão imune a tudo, ao amor. Mas ai um belo dia chegou um anjo que a levou para um passeio; ele a segurou em seus braços e lhe levou ao céu, mostrou-lhe as mais belas paisagens e a fez sentir o maior dos sentimentos; se não me engano, algo que chamam por aí de amor.
A coitadinha pensava estar curada de todos os seus males-de-amor, mas se esqueceu que a vida adora surpreender. E desconhecia que por tras de todo anjo existe um demônio.
Os braços fortes a soltaram e ela caiu por horas do céu das expectativas, chegando ao chão das decepções, quase sem força.
Mas chegaria outro anjo maldito e ela não se deixaria engar. Chegou. Ela se deixou. É, a realidade é dura, meu bem!

sábado, 26 de junho de 2010

Nos reencontros da vida- Parte III

Para não se perder:

(...)Ela perdeu todo o fôlego, ele chegava mais perto. Sussurrou algo em seu ouvido que a fez rir, mas que se esqueceu no mesmo instante. Se aproximou mais, e mais. Os lábios se tocaram e trocaram suas almas através de um longo beijo.
A partir daquele momento, o percurso pareceu querer birrar com Helena e encurtou-se; logo chegaram em casa! Marcos aos poucos largava-lhe a cintura e em uma tentativa de esconder dos demais que a chuva chovia murmurou um 'boa noite' ao ouvido e a abandonou ali, mais uma vez, ébria.
Helena não sentia suas pernas, os braços pareciam-lhe inexistentes e os pés não respondiam; estava anestesiada quase por completo, ainda lhe restava uma acelerada pulsação no peito.
Sentiu uma necessidade de enrolar o tempo; precisava pensar. Aquela cena já parecia-lhe mais um daqueles sonhos bons que não se repetem nunca mais, sonháveis uma única vez. Deitou-se olhando para aquele céu de gesso, sentia-se estranha, menos feliz do que devia. Não tardou muito e seus olhos se fecharam embarcando rumo suas utopias amorosas.
Os raios do novo dia que brotava, entravam pelas brechas da cortina amarela despertando-na. Helena sentiu a cabeça pesar, e estranhamente era de culpa. Sonhara o mesmo sonho a noite inteira, a cabeça que latejava contava-lhe que ela tinha feito coisa errada, a consciência se culpava e se justificava.
Levantou-se bem devagar, sentia-se tonta, exposta. Vestiu um longo vestido verde que ia até os pés, tinha a impressão de que todo aquele pano esconderia
seu segredo nem tão secreto. Respirou fundo, deixou que seus pulmões se deliciassem com o ar frio, criou coragem, saiu.
Ensaiava uma espontaneidade que havia perdido momentaneamente, temia entregar as pistas de seu crime. Mas todos pareciam desconhecer seu medo. 'Ufa, ainda era secreto!". Ôpa! Alguém estava fora do lugar; aonde ele tinha se metido? Não lhe agradava aquela situação, aquele vazio; ela até que gostava da insegurança que a presença de Marcos lhe causava.
Demorou a manhã inteira para que ele pudesse reaparecer; Helena tinha tido tempo de ensaiar todas as atitudes que deveria tomar quando olhasse para ele- corresponder, o que quer que fosse. Queria muito saber aonde ele tinha se enfiado, era aquele maldito ciúme se metendo, de novo, aonde não era chamado. Ignorou, fez que não era com ela. O meio-dia levou embora sua ansiedade: ele chegou! Deu-lhe um sorriso, mais nada. Tudo em um sorriso. Ela retribuiu, rapidamente movimentou seus lábios, bem sabia fazer isso.
Passou tempo demais, e sua perna balançando já reclamava da falta de atitude daquele idiota; 'Deus, já estava xingando o pobre coitado?' . Era quase final de tarde, o sol já queria ir embora. Ah, como Helena gostava tanto do pôr-do sol; Marcos bem que poderia adivinhar, ela era tão fácil de se ler. Mas a criatividade dele parecia pouca, ele estava se mostrando incapaz de arrumar uma desculpa, distrair todo o resto e a levar para ver o sol se pondo. Só que ele nem se mexia.
A impaciência começou a aumentar e dominar cada vez mais aquele pequenino corpo. Algo veio para lhe salvar. Ela sentiu alguém cutucar seu pé por debaixo da mesa, era ele! E queria lhe entregar, algo: um celular. Seus olhos míopes mal puderam ler. 'Fica comigo hoje?'. As mão tremulas e indecisas devem ter digitado um sim em resposta.
As horas andaram devagar, quase parando. Para alegria de Helena, a noite chegou. Nunca havia se arrumado tão bem, queria impressionar; prendeu as ondas em um rabo-de-cavalo, favorecia-lhe o rosto; não abriu mão de sua coleção de vestido, escolheu o mais bonito que possuía; aquela seria a sua noite.
Saiu do quarto, o coração palpitou, mandou embora para dentro de si o medo e em passos firmes encarou aquele olhar. Estava ficando mais forte, já não era tão fácil ficar bêbada. Tocou uma música qualquer, alguma coisa sobre recomeço, novo-amor. Como assim? Marcos se aproximava de Helena, puxou-lhe delicadamente pela mão, com o beijo-cavalheiro convido-lhe a dançar e ela deixou se levar por aqueles braços fortes.

(continua...)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quando você voltar...

Peguei o telefone para te ligar, disquei teu número. Chamou. Desliguei! Na verdade, queria pedir para você voltar, voltar de marcha-ré, para ser como antes. Mas desisti. Acho que amigo que é amigo, amor que é amor, não pede essas coisas, não exige dessa forma; dá um carinho, manda uma esperança para dizer que tá vivo, um sorriso para tentar reconquistar. Senta, espera, espera e espera. Não corta-relação se não acontecer. Diz 'tudo bem, eu entendo'. Ah, o entender! Quem gosta gostando, de coração, ou melhor, de alma, entende; não obriga. Por isso, eu só te espero, porque te quero-querendo. E até te peço para voltar, mas não peço-pedindo. Tento aquela coisa de demosntrar, dizem que funciona...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fruto da indiferença

A chuva ia embora dando lugar a um forte vento que aumentava o frio daquele homem, sem conseguir tirar a alegria que trazia consigo. Ele tinha mais ou menos seus cinquenta anos, não tinha nome, era conhecido como "o moço do lixo"; também não tinha casa, fazia das ruas seu lar e dos bancos da praça Governador José Sarney sua cama. Para completar a coleção de coisas que lhe faltavam, era sozinho, nada de filhos ou esposa.
A rua aos poucos se esvaziava. O engarrafamento já havia se desfeito, ninguém caminhava pela calçada. Somente uma mulher gorda, um jovem magrelo e o moço do lixo davam vida para aquele lugar.
O último ônibus da noite finalmente chegou, a mulher e o rapaz embarcaram; ela aliviada, pois não se aguentava mais de medo daquele homem sujo e fedorento, tinha certeza que ele lhe roubaria a qualquer instante se continuasse ali; o menino nem havia se dado conta de que tinham outras pessoas além dele naquele lugar.
E para não deixar morta a rua, só restou o moço do lixo, que embrulhou-se com seu cobertor de jornal. E como se tivesse companhia disse: 'Até que tá uma noite gostosa, melhor frio que calor. Só essa maldita dor nas costas que não me deixa em paz. Ai, tomara que a consulta com o doutor lá no posto de saúde chegue logo, já faz três meses que eu espero. Bom mesmo é eu ir dormir e parar de reclamar, amanhã deve de ter um bocado de lixo para catar. Quem sabe eu não acho comida."
Antes de fechar os olhos e entrar em seu sono eterno sussurrou: 'obrigada, meu Deus'. Por que ele agradecia? Pelo que não tinha?
O dia amanheceu e o corpo do moço do lixo foi encontrado e tratado com a mesma indiferença que recebera em vida. As pessoas não entendiam que ele havia recebido a ajuda que lhe fora negada por pessoas importantes, como aquela que dava nome a praça.


terça-feira, 22 de junho de 2010

Findando guerras sentimentais

Boa tarde, querido inimigo. Aqui venho eu, como uma bandeira branca, ou se preferir, com o arco-íris inteiro à punho; despida de toda a minha prepotência e desejo de vingança, completamente nua, dar fim a este nosso longo conflito. Percebo, que não tu, mas esta maldita vontade de vencer me dominou por todos estes onze anos.
Não mando embora a ideia de que sempre tive motivos para te odiar e insistir em vencer a cada raiar do dia estas batalhas nada sangrentas e muito dolorosas; mas abro mão dessas fieis companheiras. As empresto à você para que use-as contra mim e me faça sair, mesmo que com o rabinho entre as pernas, desta guerra tão cheia de razão.
Repeti tanto aos quatro ventos o quanto estava certa. Usei de tamanho poder de persuasão que fui capaz de convencer todo o mundo e me desconvecer de uma possível vitória.
Zero meu placar, dou-te todos os meu pontos suados. Abro mão de tudo, de todos.
Não, eu não aderi a uma filosofia que a nossa guerra não resolve nada; ainda acho que nosso caso seria um a fugir do real. Mas é que todos os tiros saíram pela culatra; a faca não tem mais dois gumes, agora um só, que me atravessa pouquinho a pouquinho. Enquanto preocupei-me em te destruir acabei com o que mais prezava em mim- o orgulho!
A cada vez que desembainhei minha espada ou consegui a melhor mira eu matava o meu tão estimado orgulho; matei-o pedacinho por pedacinho e acabei por dar fim a qualquer sentido que possuísse minha existência. Por isso, cá estou a jogar a teus pés tudo que já considerei de mais importante, precioso.
E não vou te pedir nada em troca. Não tenho mais nenhum refém sobe meu domínio, não quero nenhum tostão de teu amor e nenhum km quadrado sequer do teu coração. Até tinha vontade de continuar meus dias a convencer-me de que sou mais poderosa que sua insignificante figura; de verdade? Eu ainda quero! Mas não acho mais forças, nem mesmo em tua queda.
Por tanto, entrego-te todas as minhas armas infalíveis que de nada adiantaram. Por merecer, dou-te mais um troféu e não nos esqueçamos, deixo que leve por inteiro todos os meu ideais.

Agradeço-te e sumo da tua frente,
Grata.

"Sentir teu coração perfeito, batendo á toa, isso dói, seja como for. É uma dor que dói no peito, pode ir agora, que estou sozinho. Mas não venha me roubar..."

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Lágrimas,

Vocês não me escutaram? Já disse para ficarem quietas, não impliquem, não me desobedeçam. Fiquem quietas! Por favor, estamos na frente de tanta gente; juro que quando chegarmos em casa me tranco no banheiro e as deixo a vontade; se quiserem eu nem vou para debaixo do chuveiro e até olho para o espelho. Mas pelo amor de Deus, não me façam passar vergonha!
Ei, tu que vai caindo, dê meia volta! Meninas, eu sei que está doendo, mas não a sigam, eu imploro! Fiquem aonde estão, pelo bom Pai. Eu compreendo, mas não façam isso comigo.
Eu falo grego ou são surdas? Está todo mundo olhando. Escondam-se tenho vergonha de vocês! E agora o que vou dizer? Quem morreu? Para onde vai embora? Que me dói? Preciso de uma desculpa imediatamente.
O quê? Me recriminam? Perdoe-me, mas aprendi que o mundo pertence aos fortes, e que os fortes não se abalam, ou pelo menos, não frente aos outros. Os fortes de verdades choram? Desculpem-me, mas forte mesmo é aquele que chora escondido. Como não? As lágrimas que mais doem são aquelas que caem sozinhas.


sábado, 19 de junho de 2010

Nos reencontros da vida - Parte II

(...) em meio a tantos elogios e afetividade ela encontrou algo conhecido, mas aquele olhar lhe soava novo e causava uma outra pulsação em seu peito.
Êpa! Era o seu coração, ele estava querendo gritar; a menina abraçou a si mesma em uma tentativa de calar a pulsação de seu peito a fim de que ninguém escutasse. Ele se aproximava, puxou-lhe pela cintura e virou-lhe um beijo demorado na bochecha rosada.
-Prima, como você cresceu!
Ao mesmo tempo roubou-lhe todas as palavras. Helena só conseguiu devolver-lhe um sorriso, o seu melhor sorriso; o que todos diziam ser o mais bonito. Mas outras conversas meteram-se no meio daquela estranha e agradável situação.
Era uma garota observadora, já tinha facilidade em estudar alguém sem ser notada, sua timidez temporária contribuía bastante para que tivesse o máximo de discrição. Olhou cada detalhe do rosto do primo: parou nos olhos; ah os olhos, havia parte mais convidativa? Aquele verde consistente a chamava para descobrir um novo mundo, que a princípio, pareceu-lhe proibido.
Marcos havia mudado, ela não era a única que tinha crescido, mas ainda trazia as mesmas feições de um anjo.
A menina ainda não se sentia a vontade; apesar de estar na casa de sua família, não tinha conseguido se livrar da vergonha inicial que sempre a acompanhava em situações como aquela. E como era de costume alguém tinha de tomar o primeiro passo
para que ela pudesse se soltar; não faltaram voluntários, ela se sentia como uma novidade. Logo Helena fora chamada para a reunião-de-primos; também não lhe faltaram perguntas respondidas a monossílabos e largos sorrisos; por algum motivo ela se sentia acanhada, era como se tivesse alguém mais forte que a intimidasse.
Estranhou-se. Reprimiu-se. Ela não era assim, sabia ser extrovertida quando queria; empinou mais ainda o nariz arrebitado, como se daquela forma pudesse mandar embora todo acanhamento restante. E com um tremendo esforço expulsou opiniões tiradas dos muitos romances lidos. Era aquilo que se resumia a sua vida- um romance piegas, mas ela gostava.
Sentiu um arrepio, diziam que quando isso acontecia um espírito se fazia presente no local; ela nunca tinha acreditado naquela história e acabava de tirar a prova dos nove. Era ele. Marcos tinha aquele olhar sorridente fixado na menina.
Helena desconsertou-se, perdeu o ritmo de suas palavras e passou a desconhecer o que falava. Sentiu-se tonta, como se tivesse bebido algumas doses da tequila do pai que ela sempre tivera vontade de experimentar; era exatamente isso, tomava seu primeiro porre.
Preocupou-se, 'será que ele havia notado sua repentina embriagues?'; torcia para que não. O relógio anunciou que faltavam três horas para o nascer do sol, tinha passado rápido demais, ela ficaria ali por mais três horas, mas precisava dormi. Até tentou levantar-se, mas suas pernas tinham perdido as forças e para seu desespero havia uma mão estirada a ela, mãos de anjo!
Meio que cambaleando consegui-se dirigir a sua cama. Deus, aquele perfume a deixou completamente bêbada; e todos sabem os embriagados logo pegam no sono.
Os raios de sol da manhã que chegara não tardaram em acorda-la. Era uma manhã de Dezembro diferente, havia uma alegria no ar; fazia um frio suportável, até gostoso e o mais incrível Helena acordara de bom humor. Sentiu dentro do peito uma vontade de cantar, o sorriso não lhe abandonava o rosto, até se sentia mais magra. Tinha de admitir, aquela viagem estava lhe fazendo bem!
Revirou toda sua mala procurando algo para vestir, mas a maldita indecisão não lhe deixava. Fez todas as combinações possíveis e acabou escolhendo seu melhor sorriso; não sabia por qual motivo, mas queria estar mais bonita que nunca. Perdeu o pouco da segurança que achou ter adquirido em cinco minutos, e ficou ali, nua, na frente dele. Toda vez que olhava em seus olhos ruborizava.
-O que vai fazer essa noite? - disse Marcos, dando-lhe mais um daqueles beijos demorados, de cinco segundos.
-Naad, nada- agora mais essa, a voz lhe faltando.
-Ah, tem uma festa hoje, de uma amiga, pode ser?
-Claro-
soprou ela com mais entusiasmo do que deveria.
Ele deu-lhe um sorriso como resposta, fazendo com que nela estourasse toda uma felicidade. Mas a menina tinha consciência-precisava frear. 'É só uma festa, ele é só meu primo!', censurou-se. Junto com a alegria repentina, cresceu em seu peito uma enorme ansiedade, uma certa apreensão; tinha medo de que a noite chegasse. E só para birrar com ela, logo o dia se foi trazendo a indecisão de volta. Ai, por que estava tão nervosa?
Decidiu-se por um vestido preto que lhe marcava o corpo, adorava vestidos; Helena era do tipo de garota que sabia o que tinha de melhor, e sempre lhe agradava mostrar as belas pernas torneadas que havia herdado do pai. Caprichou na maquiagem, que lhe mentia os 13 anos; os cabelos caiam em belas ondas por seus ombros; é, ela estava linda. Roubou elogios de toda a festa, mas sentia-se frustrada, era como se alguma expectativa tivesse brutalmente sido morta. A noite estava chegando ao final, hora de ir para casa.
Entraram no carro; Helena novamente estava tonta, dessa vez, pelo cheiro do álcool que invadiu o veículo; o que logo foi agravado por aquela presença. Como podia? Ele passou toda a noite distante e agora vinha com a sua cara de anjo expulso do paraíso sentar-se ao seu lado! Colocou a mão sobre a dela. Olharam-se profundamente por alguns demorados segundos, como se aquele encontro de olhos, de almas, fosse capaz de revelar todos os segredos que possuíam. E não era? Ela perdeu todo o fôlego, ele chegava mais perto. Sussurrou algo em seu ouvido que a fez rir, mas que se esqueceu no mesmo instante. Se aproximou mais, e mais. Os lábios se tocaram e trocaram suas almas através de um longo beijo.

(continua...)




terça-feira, 15 de junho de 2010

Deus é bondoso

Querido pequenino, faz um mês que vieste a este mundo cruel. E eu o que tenho a te dizer? Deveria te contar que foste bastante esperado? Que imaginei tanto teu rosto e que nunca veio a minha cabeça feição tão perfeita; que contei os dias para poder lhe pôr no colo e sentir teu calorzinho tão gostoso.
Ah minha criança, olhando para ti, tão quieto, tão frágil, parecendo tão desprotegido queria poder te pedir para não crescer, continuar sempre assim- pequeno; mas a vida é dura, nunca soube de um Peter-Pan; queria que tu pudesse ser, para nunca te ver chorar. Mas irá aprender, futuro-grande-homem, irá aprender.
Quando olho para teus olhinhos quase sempre fechados não sei porque sinto um orgulho de prima-boba, aquela quase tia; mas não se sinta pressionado. Ninguém irá exigir que você saiba jogar um perfeito futebol ou que seja o melhor aluno de sua sala; e EU até irei me conformar se não gostares de ler; não precisa de tanto, meu bem, apenas seja meu pequeno.
Essa família bem precisava de uma nova criança para ter novas graças, machucados, choros, brigas entre meninos, tu veio resolver nosso problema. João é teu nome, e ele diz: Deus é bondoso; percebo isso ao te fitar. Quanto bom és Tu, senhor; mandando tamanha alegria para nós.
Dorme, meu pequeno; tranquilo, sossegado, que o dia acabou de nascer.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nos reencontros da vida- Parte I

Helena não era de Tróia, mas fazia jus a beleza de sua xará; também não lhe faltava determinação. Era menina pequena, metida a moça-mulher, achava que a vida já tinha lhe aprontado o suficiente; pobre pequena.
Bateu o pé, escorreu-lhe uma lágrima de birra. Não queria fazer aquela viagem, não iria! A mãe não poderia lhe obrigar, já trazia 13 anos nas costas, podia decidir aonde iriam seus pés, já era hora de a mãe deixar de decidir por ela.
Houve uma discussão. Duas, três, cinco, dez! A mãe magoada puxava de um lado, a filha teimosa tentava vencer do outro. Não houve jeito, o rosto branco de Helena ardia em raiva, tinha sido derrotada. Havia montado cuidadosamente todos os seus argumentos que foram imediatamente derrubados por um 'não' frio, seco e definitivo da mãe: ela iria.
Como que vingança Helena fez uma péssima mala, repetindo a cada minuto para si mesma: 'é a parte distante, não que eu não goste, mas são todos distantes'. Não teve bico, que desse jeito, chegou o dia-não-esperado.
Entrou naquela porcaria de ônibus com uma vontade tamanha de desembarcar de volta; já sentia o estômago embrulhar e os dias que nunca acabariam; o que ela iria fazer? Para seu desgosto, a viagem durou o tempo de um sonho-bom, logo teve de descer naquela cidade fria. Aliás, odiava frio.
O vento gelado presenteou sua branca faces com um rubor leve, o casaco não dava jeito,os ossos avisavam que iriam congelar.
O ambiente já conhecido era aconchegante, dono de certo calor, familiar. Via naqueles rostos um carinho, parecia bom ter vindo. Elogios não lhe faltavam, adorava ouvir o quanto tinha crescido; gostava que enfatizassem como tinha emagrecido, acalmava sua insegurança pulsante.
E em meio a tantos elogios e afetividade ela encontrou algo conhecido, mas aquele olhar, lhe soava novo e causava uma outra pulsação em seu peito.

(continua...)


Dia 20 (último dia): a sua música favorita neste momento no ano passado

sábado, 12 de junho de 2010

Laços dados, corações cativados

Aprendi com você que para gostar de verdade, aquela coisa que se aproxima ou se concretiza no amor não precisa de muito; precisa de admiração, de algo que marque, que tatue. Para gostar desse jeito, quase que ou mesmo para sempre, é necessário que se crie laços, que se cative; bem me entenderia o Pequeno Príncipe.
E aí, depois de laços dados, de um coração cativado nem precisa mais olhar para aquela feição todo o nascer do sol; bem que se queria, mas não se faz necessário. Porque esses laços que o coração se trata de dar, amarrando bem direitinho com carinho e saudades, não se desfazem. Podem tentar cortar, quebrar, desfazer, que sempre haverá mais um forte, seguro.
E é disso que se precisa para um amor, uma amizade, como a nossa, sair dos livros e se concretizar; dos laços dados. E nós, nossos corações, deram laços, deram as mãos. E agora, mesmo que exista a distância não se largam.
Feliz era o tempo em que te tinha do meu lado; mas mais feliz ainda é este tempo, todo este tempo, em que eu te guardei, não a sete chaves, porque não são necessárias todas estas trancas para te prender, mas livre e cuidadosamente em meu peito.

Cuida-te ai, que eu cuido-te daqui!





Dia 19: A música que faz você rir.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mal do mundo

Pai do céu, em tua bondade tamanha, me diga, por que criaste bicho tão imundo? A cada passo que dou horrorizo-me ao olhar tal criatura, tenho medo dela, impossível conhece-la. É traiçoeira, gosta de atacar por trás; não se contenta com o que tem, só se satisfaz se tiver mais do que sonhou, mas suas utopias nunca se satisfazem e então usam de todas as armas para tentar consegui-las.
Céus
, por que criaste isso senhor, por que? Este monstro mata os que imploram por ajuda, os que denominam de 'mais fracos', são capazes de tirar a vida dos que lhe geraram e até da própria cria. Destroem a própria casa, tenho a leve impressão de que odeiam vida e tudo que possa ser sinônimo desta. Não vês, que eles te desobedecem o tempo inteiro? Fazem questão de ir contra os teus mandamentos. São egoístas, se não for deles não é de mais ninguém. Não tem sequer amor-próprio, quanto mais amor ao próximo.
Deus, como eles fedem! Cheiram a dinheiro, dinheiro puro! Me dão náuseas, horrorizam-me. Não deviam existir!
Diz Senhor, não gosta de minha mãe, tua filha natureza? E então? Por que criaste tal bicho? Diga-me, estava enfurecido? Ele não devia ser semelhante a Ti? Ou por acaso a receita passou do ponto e quando queimou a maldade se fez presente? Por que, senhor? Por que fizeste o maldito do tal Homem?


Dia 18: a música que você quer jogar em seu funeral.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Podia ser você


Ao entrar naquele ônibus hoje não pensei que algo de mais fosse acontecer que ferisse não só aos meus olhos já cheios de horror; mas também, ao meu coração, cheio de sentimento, coisa que parece quase extinta da natureza humana.
Mas aí entrou um homem de médio porte, com o rosto dolorido, daquele tipo que parece que apanhou muito da vida. Tirou de dentro de uma sacola algumas folhas de papel e saiu a distribuir, só que a maioria daquelas pessoas que iam ali, recusaram o papel, impediram que seus olhos vissem o que queriam dizer aquelas letras miúdas e unidas. Muito pior, os taparam para que não pudessem ver o sentimento.
Quando chegou até mim, recebi o tal papel com um sorriso: o meu melhor; aquele com que sempre costumo presentear aos meus desconhecidos. Peguei, não precisei ler muito, era previsível, tratava-se de doença. Não dele, do pai.
Para ser bem honesta, não li aquilo. Porque meus olhos estavam embaçados de compaixão, de dor alheia; alguém sabe o que é isso? Pude sim, reconhecer algum nome de remédio para reumatismo, que por acaso, devo ter ouvido minha avó mencionar; mas destacou-se mesmo sob meus olhos o sentimento pai. Foi involuntário, de coração. Peguei o troco que me restou da passagem, pouco menos de cinco reais e dei àquele homem.
Ok, ok. Ele podia muito bem estar mentindo; pode ter se enchido de um riso debochado ao descer daquele ônibus por cada trocado ingênuo que recebeu; pode usar aquilo para coisa ruim; ele pode usar para o que ele quiser. Que para mim, para o meu coração, dá no mesmo. Sabe por quê? Porque sou idiota, assim que costumam chamar. Eu acredito nas pessoas, na dor que elas sentem ou costumam demonstrar; aqueles quatro e alguma coisa me fizeram diferença sim! Eles me fizeram bem; sentir limpa. Provaram a mim mesma, que ainda sou capaz de acreditar. Acreditar no outro. Por tanto, nunca vou esquecer desta doação; levou meu sentimento de força, de simpatia, de esperança.
E não, não fiz isso e nem conto a vocês por uma questão de reconhecimento; não são meus ouvidos que esperam; são meus olhos que imploram por mãos estendidas, dedos entrelaçados, corações dados.
E por que falar tanto assim em coração? Porque eu ainda tenho um. Porque quando olhei aquele rosto que se demonstrou tão incapaz de me retribuir o sorriso e tão capaz de me ser grato de tanta dor, eu vi um coração estendido. Vi que ali podia ser eu, podia ser meu pai.

Dia 17: a música que você quer jogar em seu casamento

segunda-feira, 7 de junho de 2010

À o amor que vai chegar

Meu mais novo amor, sinto há um tempo que você está para chegar. Por isso, já faz alguns meses, que passei a lhe esperar na varanda de minha casa, sem entender o porquê de tamanha demora.
O relógio e o calendário passaram a ser meu fiéis companheiros, sem acalmar de forma alguma minha espera. Roí todas as minhas unhas, arranquei até mesmo alguns fios de cabelo, e continuei na tal da janela a te esperar; conferi a estrada a cada momento, como quem não perde o capitulo de uma boa novela; mas nada de aparecer.
Decidi então, ir para a porta-dos-fundos e deixar que a frente de minha casa fique escancarada. Então, dessa forma, quando puseres fim a minha espera, irá tentar encontrar o que procura em cada cantinho do meu mundo. E quando chegares até mim, já terás passado por cada compartimento de minha casa que chamo de coração.
Assim, já saberá que me derreto de dengo, e aí me dará todo o carinho deste mundo; também já não terá dúvida sobre o que fazer quando eu estiver me contorcendo em cólica, sairá de meu lado, pegará uma bolsa de água fria e a colocará em minha barriga com toda a delicadeza; quando estiver de TPM sei que não perderá a paciência comigo. Constantemente vamos discutir sobre livros e se mostrará bastante interessado em tudo que falo, pois bem me conhecerá, para saber que adoro convencer. Sempre baterá a minha porta com uma rosa-roubada a punho, derretendo a minha máscara de mulher-durona; irá trazer-me o chocolate que mais gosto e jamais me fará chorar. Ah, todo o amor do mundo, eu sei, que você me dará.
Mas se não cumprires nem a metade ou mesmo nenhum destes requisitos, não há problema. Não irei espernear, nem vou querer te trocar na loja alegando erro de fabricação, irei aceitar-te como se não possuísse defeito algum. Não acreditas? Pois, te provo! Olha bem nos olhos de meu coração. Percebes? Estou de portas abertas.


Dia 16: a música que você ouve quando está triste

domingo, 6 de junho de 2010

Repassando, até que enfim!

Agradeço ao Rodolpho do A arte de um sorriso e a Jéssica do Wonderland pelos presente. Obrigada, amores.

OBS: como só um deles tem regra (em relação a quantidade de blogs) para serem repassados, presenteio a todos que sigo.
Beijos amores














Dia 15: a música que você ouve quando está feliz

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Carta para você renascer- a volta

Anjo, eu te avisei que não tardaria muito e eu retornaria. Cá estou de volta, com as malas cheias de saudades e mais um bocado de ilusões desfeitas. Por que insisto em não te ouvir? Bem que tu me falaste que era mais uma cilada de meu coração. Mas eu continuo a querer me aventurar nestas esquinas da vida.
E tu aí tão doce me esperando? Sabíamos que eu voltaria. Obrigada, amor, por não desistir desse ser tão inconstante que sou; mesmo estando aí, aonde não sei, perto de mim. Vim assim que nossa sintonia telepática voltou a funcionar, te ouvi dizendo '
ei, princesa, cuidado! não quero te ver chorar, outra vez' .
Resolvi então arrancar a máscara do meu suposto novo amante: o futuro; e ah, tuas palavras estavam recheadas da mais pura razão, era só o passado disfarçado. E dessa vez, juro que tu ia te orgulhar de mim se tivesse visto, derrubei a mesa, bati o pé, como que em birra, disse umas poucas e péssimas para ele e me vim embora.
Sei que neste instante, está tu em algum canto, encostado na parede, vestindo teu sorriso de canto e soltando: '
esta é a minha garota'. Sim, sou a sou garota. Por isso, não me deixe mas ir embora, e vê se me leva logo para junto de ti. Preciso tanto de você, meu bem.
Ah, devias vir hoje a noite, assim que eu fechasse meus olhos e estivesse na iminência dos sonhos, e docemente sussurrar em meu ouvido uma história, para me levar mais uma noite a um novo mundo de encanto, feliz, ao teu lado. Deita perto de mim, encosta minha cabeça em teu peito já gelado, tão cheio de um quente amor e mostra-me pela milésima vez que ainda sou tua menina.
Irei te escrever constantemente, a partir de agora, outra vez. E não te largarei nunca mais, por outros tempos. Ah, a Clara mandou-te um beijo confeitado de saudades, disse que se eu te sentisse, dissesse a você, que fazes a maior falta do mundo,
Beijos cheios de amor, carinho e espera.

p.s não falte em nosso compromisso 
  
Carta para você renascer I 
Carta para você renascer II 
Carta para você renascer- despedida 







  
Dia 14: a música que você ouve quando está com raiva