terça-feira, 8 de junho de 2010

Podia ser você


Ao entrar naquele ônibus hoje não pensei que algo de mais fosse acontecer que ferisse não só aos meus olhos já cheios de horror; mas também, ao meu coração, cheio de sentimento, coisa que parece quase extinta da natureza humana.
Mas aí entrou um homem de médio porte, com o rosto dolorido, daquele tipo que parece que apanhou muito da vida. Tirou de dentro de uma sacola algumas folhas de papel e saiu a distribuir, só que a maioria daquelas pessoas que iam ali, recusaram o papel, impediram que seus olhos vissem o que queriam dizer aquelas letras miúdas e unidas. Muito pior, os taparam para que não pudessem ver o sentimento.
Quando chegou até mim, recebi o tal papel com um sorriso: o meu melhor; aquele com que sempre costumo presentear aos meus desconhecidos. Peguei, não precisei ler muito, era previsível, tratava-se de doença. Não dele, do pai.
Para ser bem honesta, não li aquilo. Porque meus olhos estavam embaçados de compaixão, de dor alheia; alguém sabe o que é isso? Pude sim, reconhecer algum nome de remédio para reumatismo, que por acaso, devo ter ouvido minha avó mencionar; mas destacou-se mesmo sob meus olhos o sentimento pai. Foi involuntário, de coração. Peguei o troco que me restou da passagem, pouco menos de cinco reais e dei àquele homem.
Ok, ok. Ele podia muito bem estar mentindo; pode ter se enchido de um riso debochado ao descer daquele ônibus por cada trocado ingênuo que recebeu; pode usar aquilo para coisa ruim; ele pode usar para o que ele quiser. Que para mim, para o meu coração, dá no mesmo. Sabe por quê? Porque sou idiota, assim que costumam chamar. Eu acredito nas pessoas, na dor que elas sentem ou costumam demonstrar; aqueles quatro e alguma coisa me fizeram diferença sim! Eles me fizeram bem; sentir limpa. Provaram a mim mesma, que ainda sou capaz de acreditar. Acreditar no outro. Por tanto, nunca vou esquecer desta doação; levou meu sentimento de força, de simpatia, de esperança.
E não, não fiz isso e nem conto a vocês por uma questão de reconhecimento; não são meus ouvidos que esperam; são meus olhos que imploram por mãos estendidas, dedos entrelaçados, corações dados.
E por que falar tanto assim em coração? Porque eu ainda tenho um. Porque quando olhei aquele rosto que se demonstrou tão incapaz de me retribuir o sorriso e tão capaz de me ser grato de tanta dor, eu vi um coração estendido. Vi que ali podia ser eu, podia ser meu pai.

Dia 17: a música que você quer jogar em seu casamento

6 comentários:

  1. hum... eu sinto uma enorme duvida, pois ha tantos q jogam nossa bondade fora, transformando-a em ingenuidade tola...
    acho q já acreditei mais nas pessoas.. Bjs linda!

    http://meuprojetopiloto.blogspot.com/

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  2. Isso também me dói. =\

    Beijo.

    ℓυηα

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  3. O mundo devia ser mais socialista..

    Deveria ter mais amor ao próximo..
    Mas, o ser humano carrega inveja, individualidade, egoismo.. Fracasso.

    Por isso, essas coisas voltarao sempre a acontecer.

    Beijo..

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  4. ah, que coração lindo o seu Gabi!

    confesso que eu fecho os olhos pra essas pessoas. não sei se é por medo, por egoísmo ou por descrença mesmo.
    eu queria poder acreditar mais nas pessoas, mas eu não acredito. perdi a confiança.

    por isso, realmente, não sei o que te dizer.

    mas se você sente que fez o certo, isso já basta.
    se tu estás bem com o teu coração, está tudo certo.


    beijos, flor.

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  5. Nossa, que texto lindo!
    eu concordo com vc em número, gênero e grau!
    O mundo precisa de mais compaixão... De mais amor!

    belo texto!
    beijos

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  6. Andrea, tem muita gente maldosa mesmo, mas não nos esqueçamos: ainda existe gente boa;

    Dani, concoordo contigo!

    Obrigada Rebecca e vc tbm Flávia. Volte sempre
    beijos

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