quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Conselhos para Ana: sobre amor



Vê só, como irmã mais velha que viveu um tiquinho a mais, preciso te dar uns conselhos chatos e cheios de si, de quem se acha dona da razão. Como quem já muito apanhou, sinto que preciso te falar de amor.
Atenta bem, vão te fazer acreditar que amor é uma coisa arrebatadora, que coloca em ruína todas as estruturas, que destrói tudo que demorou para se fazer. Mas é mentira. Amor não é isso não. Amor constrói, amor se constrói. Além disso, vão tentar te persuadir a crer que para viver esse sentimento louco do qual muito se fala e pouco se vive, você precisa mudar completamente alguém, que é necessário fazer com que a outra pessoa abandone totalmente aquilo que sempre foi para se transformar no seu projeto de pessoa perfeita. Menina, é outra farsa. Comecemos pelo fato contraditório de que as pessoas mudam quando sinceramente querem, mesmo que tal transformação seja motivada pelo que se passa de mãos dadas ou desatadas de outrem. A gente transmuta naturalmente quando convive. Mas nunca se despe totalmente da indumentária que vai se construindo: a gente sempre tem um bocado de passado e outro tanto de futuro. Aprende logo o que me disse uma boa amiga tempo desses: amar é poder e conseguir ser, sem dor, quem se é em companhia de alguém.
Se livra também desse conceito hollywoodiano que tentam nos impor desde os contos de fadas: amor não é perfeito. Amor é bonito porque é cheio de imperfeições. Tem até uma coisa que você sabe bem mais que eu sobre esse sentimento todo que move a gente: amar é perdoar.  A gente quando ama, mesmo que demore, consegue deixar o orgulho de lado e “fazer coisas” para não perder quem a gente quer bem. No entanto, não se engane com essa história boba de amor inerte, que tudo aceita e nada questiona: amor também é diálogo. E quando se dialoga, a gente se a opõe um monte de coisa, a gente contrapõe a opinião do outro, até porque como acabamos de falar, amar mesmo é não deixar de ser quem realmente se é. Amar, meu bem, é aprender não só a lidar com conflitos, mas é também conflitar, se necessário.
Outra maldade danada da qual nos convencem é a de que amor que é amor dói. Lorota de novo. Dói coisa nenhuma. Amor traz leveza, vez por outra frio na barriga, mas ao mesmo tempo, deixa o coração todo em paz. Faz rir sem motivo mesmo, deixa a gente achando de manhãzinha cedo bem bonito só por conta de um sorriso. Pode acontecer dele se tornar unilateral e fazer a gente chorar, mas não esquece nunca: amor não oprime. Essa coisa de tortura é um meio que se encontrou para justificar um bocado de coisa feia, mas isso a gente conversa melhor depois.
Sobre tudo isso tem coisa para falar que não se acaba. Mas para eu te deixar refletir sobre esses conselhos de irmã super-protetora, preciso só te dizer mais uma coisa: amor não tem fórmula. Nada do que te derem de pronto como solução funciona. Não existe isso de passo a passo. Quer um conselho realmente digno de ser seguido: deixa que teu coração guie teus passos.