quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Ainda é você

Porque ainda é você. Ainda é você no meu caminhar sem rumo, no meu olhar perdido e no meu pensar distante. Ainda é você naquela música cantada com todo fervor, no poema recitado cotidianamente feito oração e no meu livro favorito. Ainda é você na cerveja gelada, nas cartas de baralho mal distribuídas e nos bilhetes ligeiramente rabiscados. Ainda é você nas conversas jogadas fora e nas reflexões que me tomam quase todo o tempo. Ainda é você na calmaria do meu quarto escuro e na solidão da noite. Ainda é você quando dou o meu melhor e o meu pior também. Ainda é você quando reconheço meus defeitos e quando me esforço para melhorá-los. Ainda é você quando me sinto extremamente feliz e totalmente destruída. Ainda é você quando vivo a vida intensamente e quando resolvo me entregar às surpresas do destino.
Porque mesmo com a imensa distância que nos separa, ainda é você em cada gesto meu, em cada olhar direcionado a um qualquer e em cada pedaço de mim.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Sobressair


Sabe, eu ainda escrevo e leio textos de amor, mas não tento mais vivê-los. Ainda assisto algumas comédias românticas e até choro com muitas, só não quero mais que sejam o roteiro da minha vida, entendi o quão amargo e maravilhoso é o sabor da realidade. Sim, sim. Eu ainda escuto os mesmos sambas que falam de paixão, mas não danço mais no ritmo deles; agora eu danço ao som do que tocar. Aham, eu ainda choro muitas noites com a cara enfiada no travesseiro, sozinha no escuro, com aquele efeito dramático; mas venho aprendendo a conversar mais, a desmistificar meus monstros mais profundos. Não nego, todos os dias ainda relembro o passado, meio que como uma forma de aprendizado, para não esquecer do que doeu e como eu cheguei naquele estágio patético em que eu me encontrava meses atrás. No entanto, não vivo mais fazendo do meu cotidiano um reviver do que passou, venho injetando presente na veia e estando sempre em um maravilhoso estado de êxtase. Claro, eu ainda gosto do calor - é que ele combina com meu estado de espírito e me amedronta menos - entretanto, já suporto o frio corriqueiro sem a sua presença. O sabor do sorvete permanece o mesmo, ainda não consigo andar calçada, nem tomar o café amargo que acho bonito; nunca me acostumei com o cheiro do cigarro, continuo a ficar bêbada com a mesma facilidade de sempre e meu sono permanece pesado. E falando sobre as coisas das quais nunca fui capaz de me desapegar, chegando mais precisamente até você, não preciso de rodeios. Ainda gosto, quase amo; ainda desejo, penso. E quando penso vez por outra ainda solto um riso torto só de lembrar. Mas não quero mais. Não para mim. Você, quer dizer, nós, viramos aquela lembrança bonita, mas distante demais para alimentar estímulos vitais. Serve só para lembrar mesmo. É, meu rapaz, e eu que não acreditava quando diziam que a gente aprende.