segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cheiro de saudades


Acabei de botar no fogo aquele bolo que você adora. Enquanto bati, escutei aquela música que você escuta tanto que era para, quem sabe, o bolo sair com aquele mesmo gosto de carinho, aquele mesmo gosto seu. E agora estou aqui, colocando dois pratos na mesa, para comer o bolo quente – como você prefere. O cheiro de saudades denuncia que está quase passando do ponto, mas eu ainda vou o deixar assando por mais três minutinhos, é que cria aquela casquinha que você adora.
Pronto, acabei de tirar e já desenformei. Está quentinho, no ponto. Eu fiz para você, para comer sozinha e lembrar no sabor de cada migalha doce, o amargo dessa saudade. Se me faz mal? Ora, ora, bem é que não faz né? Mas eu te digo que essas saudades que eu sinto de você, apesar de me ferirem, não me agridem. É uma suadadezinha chata, feia, no entanto, não é fria – ela é quente. Bate a todo o instante no peito e não me deixa esquecer como é bom te ter do lado; me faz querer sair do jeito que estou, sem maquiagem sentimental alguma só para te dar um beijo de boa-noite, ou só para acalmar o medo de trovão.
É, meu bem, eu sinto a sua falta. Ela me dói, me incomoda, mas não me anula. E sabe? Eu já entendi que é preciso, melhor, eu já aprendi a conviver com a temida da distância. Essa indesejada deixou de fazer companhia ao tal do bicho-papão-solidão e não me amedronta nem mais um tico.  Agora eu sou forte e sinto umas saudades tremenda de você.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Esperança,



Eu sabia que podia acreditar em você. Ai, quando eu me lembro das pessoas que se riam de mim e diziam: ‘menina, não fale do que não sabe, você nem mesmo chegou a conhecê-la... pobre garota’.
Mas eu sabia, esperança, sabia que eu já tinha te conhecido antes mesmo de nascer; tinha certeza de que no momento em que fui gerada, na composição dos gametas que me formaram você estava presente; nunca duvidei de que você é que sempre foi minha amiga secreta, imaginária, mas real.
Tentaram atrapalhar nossa relação firme, tudo entre nós sempre foi subentendido: nunca precisei gritar-te apoio e você nunca precisou mostrar-se a todos, sempre bastou assim. E talvez por isso declaravam-me doida, diziam que eu precisava de tratamento, dos piores – choque de realidade. Mas eu levantei bandeira a favor da minha insanidade, me assumi louca e sempre te apoiei.
No entanto, durante alguns dias frios e nublados eu pensei ter te perdido de vista. Você insistia em brincar de um pique - esconde por trás da minha fé.
Só que agora esperança querida, percebo que você pouco a pouco reaparece. Vejo-lhe florescer em cada florzinha, vejo-a ressurgir em cada raio de sol, sinto-te cada vez que brisa acaricia minha face, escuto-te em cada cantar de cada passarinho, confirmo-te nas boas novas.
 E as notícias ruins? Ah minha cara, elas sempre existem e uma hora elas melhoram.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Nos reencontros da vida - Passo e meio



“Deus do céu será que ele estava mesmo falando com ela? Será que ele estava mesmo dizendo o que ela queria ouvir, será? Não tinham tempo a perder, já haviam perdido amor demais. Ansiosa, Helena recostou a cabeça naquele ombro conhecido, fechou os olhos e entregou-se ao seu desejo; deixou depois de muito que seu coração gritasse, beijou-o como há tanto queria e sentiu como nunca tinha sentido antes.”
Todos os seus sentidos gritavam contentíssimos, no entanto a realidade tinha sempre de vir visitar aquela menina. Helena aninhou-se nos braços de Marcos, que acariciava aquela pequena mão:
-Eu não devia ter feito isso.
-Por que, Helena?
-Você tem namorada...
-É, eu sei. Mas a culpa foi minha, eu deveria ter me controlado.
-Não, não, que é isso? Eu também tenho a minha parcela de culpa, você não fez isso só, eu podia ter dito não.
-Não precisa ficar se culpando, a culpa foi minha.
-De que adianta ficar aqui brigando pela culpa, hein?
-Você tem razão...
E mais uma vez beijaram-se, trocando ali um pedido de desculpas pela culpa que não sentiam, falando do sentimento que guardavam e daquilo que não devia ser dito; diziam – calados – que, naquele momento, se queriam mais que qualquer outra coisa, que naquele instante não podia se perder; e choravam juntos, sem uma lágrima sequer, o fim que sabiam que não iria se demorar. Ele a olhava como se tivesse um breve arrependimento de não tê-la esperado um pouco mais, ela o devorava com o arrependimento por não ter voltado.
-Acho melhor voltar-mos para casa, ou então vão dar por nossa falta
-Mas que droga, seu idiota; não quero saber se vão perceber que estamos aqui, sozinhos. Na verdade, eu quero mesmo é que todo mundo saiba e que confirmem o que sempre acharam: que você nunca me esqueceu. - era tudo o que Helena queria responder. Mas controlou-se e riu: mas é claro, vamos...
-Não sem antes me dar um beijo.
Ele não adivinhara seus pensamentos, mas sabia agradá-la. Voltaram para casa, sem mãos dadas, sem braços entrelaçados; voltaram como dois desentendidos, como o enroscar de pernas debaixo da mesa ao qual estavam familiarizados.  Sentaram-se com todos, como se nada tivesse acontecido, não se entreolharam, Helena anunciou a sua hora de dormir. Despediu-se e tentou encontrar seu sono em um copo d’àgua. Até que sentiu que alguém lhe abraçava por trás – era ele. Beijo-a como ainda não havia feito, davam mais um passo, como se a quisesse com maior intensidade.
-Ei, ei, acho melhor a gente parar, Marcos.
-Certo, certo, eu prometo que vou me controlar.
-Então, até amanhã.
-Até. E ah, sonha comigo, princesa.
-Seu bobo...

(...)