terça-feira, 21 de junho de 2011

Suspiro derradeiro

Vejo meus dias se acabarem pouco a pouco em minha monotonia, e para falar a verdade não tenho quase nada do que me reclamar. Tive uma boa vida, poucas vezes me faltou dinheiro, no final das contas arrumei um amor, amor de verdade, que me deu de presente duas lindas filhas. Ah, os filhos... Eles são um verdadeiro presente e um verdadeiro castigo também.
E sabe qual a maior ingratidão de um filho? Não é o fato de não cursar a faculdade que sonhamos, ou não casar com a pessoa que idealizamos ou ainda nos deixar morrer num asilo, a maior ingratidão que pode cometer um filho é não fazer jus a criação que receberam.
Sabe as minhas duas filhas de quem falei agora pouco? Elas são lindíssimas, muito parecidas, pena que só fisicamente. Dei todo o amor do mundo, aquilo que conheci como boa educação, mas não saíram como planejei. A Luciana sempre foi uma menina difícil, o gênio muito forte, puxou a mim, as emoções sempre a flor da pele, metida a revolucionária e eu jurava que não ia muito longe na vida; mas aí nasceram os gêmeos, e toda aqueles devaneios juvenis foram-se embora, é um menina boa hoje em dia. Já a Estela, essa sempre me deu orgulho, desde que nasceu tem essa carinha de anjo, é a personificação da doçura, menina boníssima. Melhor aluna da sala, seguiu a bendita profissão de engenheira que eu tanto queria e anda muito bem de vida. Se com ela está tudo perfeito? Na verdade não. Ela anda meio diferente da minha estrelinha (era assim que eu a chamava). Anda meio triste, sabe? Sempre com um péssimo humor e não me fala mais o que anda a aborrecendo, diz sempre que é coisa do trabalho; talvez seja mesmo, cálculos dão uma tremenda dor de cabeça e a vida da minha pequena virou uma função do segundo grau, sem delta real. Anda tão amarga, com um jeito de falar que nem parece de gente.
Ah, mais assim que eu chegar ao paraíso terei uma conversinha com Deus do céu e perguntarei porque diabos é que os filhos crescem. Ta aí o grande mal da vida e a única coisa da qual posso me reclamar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nos reencontros da vida - Último capítulo




“-Ei, ei, acho melhor a gente parar, Marcos.
-Certo, certo, eu prometo que vou me controlar.
-Então, até amanhã.
-Até. E ah, sonha comigo, princesa.
-Seu bobo...”

O dia amanheceu e o sol logo veio beijar a face daquela doce menina. Helena havia dormido poucas horas, mas parecia ter dormido uma eternidade, estava ansiosa para sonhar acordada um de seus mais belos sonhos. Não queria pensar que aquele seria seu último dia com Marcos, ele logo iria embora, voltando para sua vida normal, e dessa vez, ela ficaria ali: sozinha e sem respostas.
Levantou-se e se vestiu cuidadosamente; uma coisa não havia perdido de forma nenhuma: a vontade de impressioná-lo. Logo que saiu o encontrou; ele estava ali, parado, olhando-a com aquele olhar torturador; como sempre, o único gesto que partiu dela foi o sorriso, queria dizer-lhe tantas coisas, mas era mais prudente calar-se. Estavam sozinhos, ele puxo-a pela mão e levo-a para o dia mais curto que ela já vivera.
Logo chegou a noite cheia de saudades apressadas. Helena não queria separar-se dele naquele momento, nunca mais. Queria olhá-lo nos olhos e implorar que ele não se fosse, que ficasse com ela, que tivesse mínima piedade, mas era dona do maior orgulho do mundo. Agora, lá estava ela: olhando para o cara que tinha um enorme potencial para não ser o príncipe que ela havia acreditado um dia e o homem que ela tinha de ter ao seu lado, por um breve instante ele ainda estava ali.
-Eu posso saber no que a senhorita está pensando, dona Helena?
-Eu? Nada.
-Nada mesmo? Mas vem cá, eu já disse que a sua sobrancelha esquerda fica bem arqueada quando você está pensando?
-...
-Te peguei, não é? Vai, fala; eu adoro te escutar...
-É que é muito estranho. São só mais algumas horas e você vai voltar para sua vida, para tudo que você construiu sem mim e eu sei que para você isso que aconteceu entre a gente foi uma questão física.
-Você tá sendo injusta. Por favor, não fala assim. Sabe, quando eu te reencontrei não sabia o que fazer, se te beijava, se te cumprimentava de longe, se passava deixando em branco; meu coração acelerou, queria te puxar para mim, te perguntar tanta coisa, mas tinha de me controlar. Mas é que você não entende, não é? Não consegue compreender que toda vez que eu te olhar tudo o que eu sinto por você vai voltar.
-Posso te falar uma coisa? Eu acho que vou acabar gostando de você.
-Eu não mereço, minha pequena...

E foi com um último beijo que se acabou essa história.


Queridos, aqui está (até que enfim) o último capítulo da história do Marcos e da Helena. Mas quem sabe...

sábado, 18 de junho de 2011

Mãe

Amamentar. Pôr para dormir. Banhar. Ensinar a lição de casa. Brigar. Pôr para dormir novamente. Se isso que é ser mãe, me desculpe - a senhora nunca foi mãe para mim.
Dar-me de mamar? A senhora pouco fez, só por três meses. Disse que não podia, seu peito doía, uma doença estranha e contraditória começada com mas..., mastite, isso! Acho que era mesmo. Os médicos falaram alguma coisa sobre seus seios terem crescido demais e estarem pressionando o coração. Vazou amor, foi-se o leite.
Pôr para dormir? Nunca parou para tal também. Todos os dias deitava ao meu
lado, lia algumas doces mentiras, me dando assim uma passagem para o mundo dos sonhos.
Banhar? Jamais. Na verdade, a senhora diariamente parava para me lavar e com a quentura de uma água gelada tirava-me todas as dores inexistentes e medos iminentes. 
Ensinar a lição de casa? De jeito nenhum. Ao invés de me falar das mesmas coisas que a professora feia da alfabetização, a senhora contou-me coisas sobre uma tarefa estranha e meio confusa – chamada vida; falou-me de um conteúdo meio esquisito, se bem me lembro chamado conselho.
Brigar? Não mesmo. Vociferou algo sobre livre arbítrio e responsabilidade, contou-me de uma tal de escolha própria que eu devia conhecer e uma tal de consequência sobre quem eu devia pensar com mais calma e carinho.
Se ser mãe é fazer bom uso do verbo no imperativo a senhora nunca foi mãe mesmo. Porque desde que não me falha a memória sempre te comportaste como um substantivo de sobrenome esquisito: abstrato, e de nome pouco conhecido: amor.

domingo, 5 de junho de 2011

Moço bonito

Ei, moço bonito, não me olhe assim. Não fixe esse olhar misterioso em meu pobre ser, se não eu acredito que é verdade. Não, não. Não me fale de amor, eu acho bonito por demais, vou acabar querendo isso para mim. Por favor, não me prenda dessa forma entre teus braços; teu perfume me embriaga e me faz querer permanecer para sempre aqui. Pare, pare. Se eu sentir uma outra vez teu gosto cítrico, não aceitarei outro sabor.
Tudo bem, eu acredito, me rendo. Só te suplico uma única coisa: não escute nada que digo. Segure forte a minha mão, cale as minhas palavras bobas, não me solte outra vez, que é para não correr o riso de eu me perder. Ah, moço bonito, e se eu disser que sou tua?