quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Saudade

 

Não é de hoje que a vontade de mandar e receber noticias me toma todo o corpo. Faz um tempo que quero bater novamente a tua porta e dizer que as coisas mudaram sim, mas que a gente, do nosso jeito, pode se adaptar a essa mudança; que temos nas mãos todas as ferramentas para isso. No entanto, o orgulho me acorrenta e algumas mágoas bobas terminam por fortalecer essa corrente que me prende a distância. Só que quando a gente quer muito uma coisa, a gente consegue, não é? Pois então, aqui estou eu.
Eu podia te ligar, ir à sua casa e te falar tudo isso, mas creio eu que palavras ditas são deturpadas pelo tom de voz. Penso eu, que estaríamos mais vulneráveis a uma briga e a um fim verdadeiro. E também sei que a surpresa que vai te tomar vai ser muito maior ao ler cada letra que acabo de escrever. E você gosta tanto de surpresas.
Não se preocupe, vim com as mãos vazias. Veja: não trago agarrada nenhuma acusação. Ao contrário. Vim aqui, isentar-te de toda e qualquer culpa que tu tenhas contigo. Acalme-se. Sorria para mim. Vim aqui, pedir-te perdão.
Não pedir-te perdão por aquilo que fiz. Vim apelar para que esqueça aquilo que deixei de fazer. Por favor, desculpe-me pelas vezes em que deixei de cuidar-te; pelas vezes em que fui relapsa e acabei sufocando seus sentimentos, por ter me agarrado com a mágoa e te colocado em um canto escuro do meu peito, por até mesmo, te ter omitido socorro. Fui fraca. Não derrame essa lágrima. Ela é preciosa e eu não mereço tudo isso.
Mas esqueçamos isso. Desapeguemos-nos do que aconteceu de ruim. Vai, vamos nos preocupar em cuidar só daquilo que aconteceu de bom e que merece ser guardado. Quero mudar isso. Estou disposta a aliar-me à paciência e ao perdão, para que então possa ter prova de todo meu carinho por ti e nunca mais duvide do meu afeto. 


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Paciência



Eu estava ali – arisca, impaciente, distribuindo patadas e insegurança para todos os lados, principalmente em sua direção; e você permaneceu no mesmo lugar – inerte, parado, rindo com o canto da boca, cheio de paciência e pronto para me provar, que assim como dois mais dois são quatro, homens insistentes (quando o sabem ser, é claro), conseguem sim o que querem.
Eu, com toda a minha pressa e todos aqueles sentimentos à flor da pele, bati o pé e te mandei ir para qualquer lugar longe de mim. Você, não moveu nem sequer o dedo do pé e continuou a me olhar, manipulou meu coração sem que eu percebesse. Fez com que eu sentisse algo que me era estranho: nada de borboletas no estômago, de suor nas mãos ou coração acelerado; deu-me uma calmaria inquieta, uma vontade de deitar e esperar, sem pressa, ao menos uma vez na vida, o que esse tal de destino me reservou de bom. Você também me fez fazer aquelas besteirinhas que a gente faz quando tem doze anos de idade e pensa que encontrou o amor da vida da gente; me fez rir sozinha e cantar por nada. Logo você. E você também me ensinou o valor do amor que se constrói. Me fez enxergar que dos pequenos sentimentos é que nascem os grandes.
Você cultivou em mim o amor-próprio, fez com que eu enxergasse coisas em mim, que segundo você mesmo, eu nunca deveria ter esquecido. Trouxe-me de volta algo bom que há muito eu não sentia. Com esse seu jeito manso, acabou me conquistando e fazendo como que eu me prendesse a você de uma forma que eu jamais poderia imaginar.
E eu, que antes jurava te querer longe de mim, conheci um medo horroroso de te perder. Tem horas que tenho vontade de te puxar a manga da camisa e pedir para não me deixar nunca, para não arrancar de jeito nenhum essa coisa bonita que você provocou aqui dentro. Te olhando assim, como essa cara de quem não sabe o que quer, tenho vontade de decidir por você e determinar que a sua única possibilidade é ao meu lado. 

domingo, 9 de outubro de 2011

Pai





Pai perdoa se eu não acredito mais nas suas estórias, se não me deito mais ao teu lado, perdoa se eu bebi da realidade, se eu te desobedeci e fui para vida, perdoa se eu te desacredito, perdoa se eu não te sou digna. Perdoa pai?
Perdoa se eu ainda não me faço capaz de escutar e tenho tanto a calar, perdoa a dureza das palavras e a maciez da solidão, perdoa o amargo das saudades, perdoa?
Perdoa se eu não sei perdoar? Perdoa se eu ainda não aprendi a amar, perdoa se eu não sei nem ao menos ser amada, perdoa a minha pequenez e a minha insegurança, perdoa se eu me escondo e desprotejo agarrada à mágoa. Perdoa se me considero digna de julgar e assim como a justiça eu me faço cega. Perdoa pai?
Pai?Perdoa se eu cresci.  


“Pai me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança
Que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo...”

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Desistir



Desistir nem sempre é tão feio. Quando você abandona algo que não te faça bem, não está sendo covarde, apenas exercendo a teoria do amor-próprio. E essa conversa de que parar de tentar é coisa de gente fraca é uma enorme mentira. Insistir naquilo que te machuca é burrice.
Quando você decide parar de esperar por aquele cara que tanto ama e tenta dolorosamente seguir em frente, não está deixando de acreditar no amor, só está sendo boa consigo mesma. E mesmo que você, momentaneamente, deixe de acreditar no amor, não escute o que dizem. Você não é um monstro, só está tentando se proteger.
As pessoas mudam a todo instante. Suas vontades também. Nem tudo depende só da gente. Por isso, eu repito: desistir nem sempre é tão feio; mas acrescento – é muitas vezes dificílimo.