quarta-feira, 2 de abril de 2014

Síndrome de Gabriela OU dos genes



“Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim. Vou ser sempre assim: Gabriela”.
Como se nome e música tivessem se combinado propositalmente em meu ser, eu não tenho medo de falar: quanto mais eu mudo, mais me torno a mesma pessoa. Por mais bem elaborado que seja o movimento de rotação, e de mudanças mirabolantes e maravilhosas que ele provoque, acabo sempre tonta de tanta mesmice minha. Não consigo dançar no mesmo ritmo da Terra e acabo pisando no pé da parceira, nos primeiros momentos da valsa, todas as vezes. Quando acaba o giro, me encontro sempre no mesmo ponto, permanecendo nos mesmos erros.
Talvez pudesse dizer que a teimosia foi herdada, que não furtei, foi presente de pai e mãe. Será por isso tão exacerbada, meu Deus? De tanto teimar em ser eu mesma, iludida com a mentira de que as novas oportunidades de quebrar a cara – geradas sempre pelo mesmo motivo – me levarão a um projeto mais calmo e menos impulsivo de mim mesma, mantenho por cinco minutos e trinta segundos, a certeza de que não irei me importar mais e de que vou me manter calada.
Só que não sei porque diabos, algo forte se remexe dentro de mim, me fazendo em um terço do tempo previsto expulsar as rebeldes palavras, proferindo minha opinião gratuitamente. Defendendo com unhas e dentes o lado da verdade que me pareça menos hipócrita. Merecendo ouvir, principalmente de mim mesma, um: “quem te perguntou, Gabriela?”.
Não sei de onde tirei essa ideia maluca de que as coisas mudam. Quem sabe, seja tudo genético: um pai sem juízo, que alimenta sonhos utópicos de mudança e uma mãe doida que afirma que para reconstruir, só basta agir. Por culpa desse sangue forte, a quase que expressão verbal ficar na minha não se aquieta no meu vocabulário nem por meio minuto. Ganhando sempre o Óscar de melhor chata do ano.
Reafirmo, não tenho culpa. Provocado pelos benditos genes ou não, isso é mais forte do que eu. Palavras e a força que elas têm, representam mais pra mim do que a omissão nossa de cada dia. Impossível não terminar esse monólogo – sem pé e nem cabeça – continuando a ser repetitiva “EU NASCI ASSIM, EU CRESCI ASSIM E SOU MESMO ASSIM. VOU SER SEMPRE ASSIM: GABRIELA. SEMPRE GABRIELA”. Porque para birrento, insistir é mero pleonasmo de si mesmo.