Olhou para aquele corpo esticado ali. Estava pálido. Parecia frio, na verdade, aparentava congelado. Algo lhe arrepiava, talvez porque ele ainda trouxesse aquele sorriso meio torto que sempre tinha nos lábios antes vermelhos. O terno preto e aquelas mãos cruzadas não lhe agradava, ela sabia que não era daquela forma que ele queria ser visto pela ultima vez, mas fazer o que se existia a tal da tradição?
Uma lágrima ameaçava cair pelo rosto fino de Clara. As coisas não estavam as claras em sua cabeça; como aquilo pôde acontecer? Tão de repente, e ela ainda tinha tanto a falar-lhe. Criou coragem, chegou perto do defunto. Levantou a mão, passou-a por aquele rosto tão, tão, tão jovem; tão cheio de vida interrompida. Doía-lhe tanto! Ah, Deus, por que tinha de ser logo ele? Deixou sua mão ali, repousando sobre aquela testa que sempre trazia ruga; ah, como ela amava aquelas ruguinhas!
Debruçou-se sobre aquele corpo tão amado; tinha de lhe dar um abraço, um último abraço. Encostou perto do ouvido dele como se realmente pudesse escutar alguma coisa: 'eu te amo; e por favor, não me deixe'. Beijou a face gélida e sentiu o coração congelar. Era tão duro saber que nunca mais poderia ouvir sua voz pela linha telefônica, que nunca mais lhe daria um abraço-correspondido; ah, nunca mais poderia ver aqueles lábios se abrindo faceiramente em um sorriso branco. Senhor, como aguentaria? Como? Como poderia seguir em frente sem ele?
Era hora do adeus final, verdadeiro. O coração apertou. A garganta de repente ficou seca, e o rosto encharcado. Clara sentia o coração pisado, esmagado, mais pior, ele ainda estava ali; antes tivesse sido arrancado. Acompanhou de longe aquele caminho para o cemitério, lá atrás, sozinha. Caminhava devagar, como se seus passos calmos pudessem o trazer de volta.
O caixão foi colocado cuidadosamente naquela cova, sete palmos abaixo do chão, era ali que a menina queria estar. Apanhou uma rosa, rosa-branca, beijo-a carinhosamente, dolorosamente; segurou bem forte até que os espinhos perfurassem sua mão e seu sangue escorresse manchando a brancura. Jogou a flor naquele buraco. Foi junto seu amor, sua vontade de vencer, seus sonhos e ideais. Adeus, rosa; adeus, Clara.
Enxugou o rosto. Deu meia volta. Era hora de seguir, para lugar nenhum e esperar que sua hora finalmente chegasse.
não faz mal querida.
ResponderExcluiroh e o teu tambem *.*
adorei
ÁAH CHOREI ... :S
ResponderExcluirNússa triste demais!
Vc emprega muito bem as palavras,
meus parabéns ! :]
Eu não me conformo com a morte, não sei lidar com ela, mesmo me julgando uma mulher esclarecida.
ResponderExcluirDói, e não tem explicação que faça parar. =(
Beijinho.
ℓυηα
f-o-r-t-e, e só.
ResponderExcluirA gente nunca sabe como dizer adeus diante da perspectiva de que nunca mais veremos aquela pessoa ou ouviremos sua voz. A morte é ruim para quem fica, pois a dor permanece também...
ResponderExcluirBjs.
despedida já são dolorosas. mas pelo menos a gente tem esperança de que haja o reencontro.
ResponderExcluirmas a morte... bem, a morte é algo definitivo. não há como nem ter a esperança de um reencontro.
amei o texto.
beijão!