segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aluguel


De repente, um dia desses aí, que não me lembro mais ou menos ao quando, eu coloquei meu único imóvel válido – o coração – para alugar. Resolvi procurar um inquilino. Entrevistei, perco a conta de quantos candidatos e já havia quase perdido as esperanças de encontrar alguém digno de cuidar do meu cantinho. E no meio de todos esses apareceu um meio marrento, que de início, não me chamou atenção, não me cativou e por tanto, logo o descartei. Mas aí, justo no tal dia em que eu ia finalmente desistir, comunicá-lo de que ele não havia sido aceito e me fixar sozinha em meu lugarzinho, esse tal desinteressante me reapareceu e aparentava estar mais calmo, cuidadoso e atencioso. Ainda tentei relutar, no entanto, não havia como negar: aquele carinha era certo, zelaria devidamente o meu coração.
Pobre de mim. Como me enganei; a aparente calma, posteriormente, me deu um enorme trabalho. Aquele, o marrento mesmo, só havia mudado o rosto, por que a essência continuava a mesma. A princípio, ocupou todo o espaço e me deixou bastante feliz, parecia ter preenchido todos os cantos. Que erro brutal. Sem ver nem para quê, na madrugada calada, pegou todas as suas coisas, sem avisar que destino tomaria, foi-se embora, deixando o meu cantinho sem mobília alguma, preenchido apenas por um amor não retribuído. O vazio que aquele maldito deixou sempre me pareceu que nunca seria preenchido, e olhe que até agora não me convenço do contrário.
Só que ocorreu algo muito engraçado: outro dia qualquer, apareceu um sujeito muito bonito, diga-se de passagem, se oferecendo para ocupar não todo espaço vazio, mas um único cômodo apenas. Porém, eu estava muito bem decidida: não iria ceder nenhum metro quadrado do meu coração. Coitadinho. Fui grossa, firme e disse que não havia possibilidade. Mas aquele tal moço, quieto e paciente tornou a insistir; mesmo assim, não mudei a minha resposta, permaneceria sozinha naquele lugar. Só que esse moço tornou a insistir novamente.
Pensei. Um sentimento de compaixão (e até uma certa esperança, confesso eu), tomou conta de mim: cedi um quartinho, nos fundos, a esse homem. E posso contar uma coisa? Ele anda cuidando tão bem do espaçinho que conquistou. Jamais imaginei que alguém pudesse cuidar de um lugar tão pequeno de uma forma tão bonita. Como essa vida é injusta, não é? Alguns, que tem recursos suficientes para possuírem o melhor lugar, desprezam essa oportunidade; e outros, que mereceriam esse lugar tão bom, possuem apenas um canto pequeno.
Quer saber de uma coisa? Eu estou torcendo por esse carinha. Por esse mesmo cheio de paciência, dono de todo carinho do mundo; estou de dedos cruzados, querendo muito que um banco qualquer, libere para tão merecido rapaz todas as chances para possuir definitivamente esse meu imóvel.

2 comentários:

  1. Ah, Gabi, gostei tanto desse texto, é tão delicinha que deu vontade de reler, pra saborear mais.

    ^.^

    Beijo.

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  2. Oi adorei seu blog...já estou seguido....
    se curti segue lá tbm...
    http://enredodeideias.blogspot.com/
    bjos

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