quarta-feira, 4 de junho de 2014

E lá vem ela


Ouvidos sempre atentos para compensar a pouca visão, dedo indicador sempre a posto, ao nível da cabeça. Vez em quando, pernas balançando e sempre com a cabeça fervilhando de ideias. Meus dias, há muito, resumem-se na profana utopia de mudar o mundo; e devido a isso, tornei-me tagarela de marca maior e chata de carteirinha. 
Olhos revirados e risinhos de canto de boca demonstram sempre o amor dos colegas: “lá vem ela”.  Fazendo-me, ao final de cada dia, refletir sobre uma possível boca fechada, mas resultando em todas as minhas preces implorando para que o silêncio nunca me domine.
Passei de “garota de personalidade forte e opinião polêmica” para “moça metida e inconveniente”. Se assim o sou, aceito de bom grado. Estereótipos não combinam com minha indumentária, se “ser do contra” for ser sempre contra aquilo que está enguiçado, é essa a capa que visto.  
E no devaneio de que com conselhos comodistas irão aquietar minha língua e coração, aconselham-me todos os dias: “ignore. Ignorar é o santo remédio. Pra conversa besta a gente não dá atenção”. No entanto, insistindo na rotina de contrariar aquilo que se perpetua, não acredito que em boca fechada não entra mosquito; para mim em boca fechada entra barata, rato e todas essas coisas das quais se tem nojo, deixando a gente podre por dentro. Para mim, calar não é consentir, é bem mais: é omitir. É mais do que dizer: “eu concordo com você”, é afirmar: “eu apoio você”. Tenho a omissão como algo tão grave que me conduziria a um coma, a uma meia vida. Não me calo nem dormindo, que dirá incomodada! 

7 comentários:

  1. Ainda ontem entrei aqui na sala de tua casa e senti falta de postagens tuas. Hoje tu nos presenteias com um texto... Que texto! Mafalda é aquela personagem clara, direta, objetiva, irredutível de seus conceitos. O texto também é isso. Tu, não sei se tu és. Não sei se falaste de ti mesma. Pareceu muito. Ser polêmico nunca vai ser moda. Quem é, dita uma uma moda que nunca pega. Depois que renomearam ‘mesmice’ por ‘zona de conforto’, piorou. As pessoas aceitam, engolem sapos, perdem, desde que não tenham que mostrar que se incomodaram. Assim, o mundo acaba por pertencer aos abusados, aos ditadores de conceitos, mesmo conceitos morais tão ridículos como beber água pelo nariz, o que não falta no mundo. É claro, o polemista precisa se moderar! Mas não pode se acomodar. Ele é uma das esperanças do mundo. Fico esperando teus textos! Beijossssssssss

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    1. Muito bom entrar aqui e ler seu comentário, Lucas!
      E sobre o texto, é falando de mim mesma sim. Últimamente andam tentando me calar e frases como "lá vem ela", "de novo", "essa menina não se cala", andam sendo constantes em minha vida.
      Beijos

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    2. Não te deixes calar. És rara. És bela do jeito que és. Beijossssss

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  2. Concordo! Ainda fico na dúvida sobre quem é pior (se é que são diferentes): a omissão ou a mentira!

    Tenho um trabalho meu em andamento, são ensaios sobre certas coisas, como a omissão e a mentira...a Omissão escrevi praticamente com ódio..rsrs

    Abraços!

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  3. Com todo o respeito: achei phoda. Com ph mesmo!

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  4. "Não me calo nem dormindo, que dirá incomodada!" Muito bom!

    beijinhos *-*

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