sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Nos reencontros da vida - A primeira de algumas despedidas

"Disse para ela, naquele silêncio, que a queria, muito; ela o disse que tinha encontrado sua salvação de amor. E os dois disseram ao mesmo tempo que seriam um do outro para sempre, pelo ou menos naquele instante."
Era o último dia de Helena naquela cidade e os dois não sabiam direito o que fazer com o pouco tempo que lhes restavam; sentiam um friozinho na barriga, aquele medo da primeira despedida. O decorrer daqueles instantes colaboraram para isso - o sol brincava de pique esconde, fazia um frio-solidão, as pessoas pareciam mais caladas - tudo cheirava a insegurança. Ao contrário do esperado as horas passaram se arrastando, parecia que o tempo gostava daquele casal, não queria ser pivô de uma falta de comunicação e amor; a tarde apesar de melancólica estava bonita e lá pelas quatro os amantes resolveram aproveitar. Sentaram em um banquinho qualquer de uma praça e jogaram fora toda a conversa e os beijos românticos que poderiam jogar, sem tocar na tal despedida do dia seguinte. Mas Marcos trazia um olhar diferente, não transmitia aquela segurança de sempre, estava com um fundo de medo e confusão; até que meio desajeitado puxou um papel dobrado do bolso e estendeu a mão a prima:
-Toma, eu fiz para você, mas não olha agora não, certo?
A menina meio atordoada pegou o papel e guardou no bolso cheio de curiosidade e euforia para descobrir o que trazia a primeira carta de amor. O sol resolveu ir se deitar e mais uma vez os dois tiveram de voltar para casa.
Como sempre a mesa do jantar estava cheia de gente, barulho de criança e burburinhos por todos os lados: coisas de família. O coração daquela pequena garota estava cheio de ansiedade, pediu licença para um banho e foi trancar-se no banheiro. Puxou afoita aquela folha decorada do bolso, a cada palavra aumentava-lhe mais o sorriso. Palavras de amor, carinho e saudades enchiam-lhe o peito de orgulho e expectativa de um futuro bom. Entrou embaixo do chuveiro sem deixar que a água gelada lavasse as promessas que havia lido, enxugou-se guardando para sempre aquele sonho. Saiu do quarto em passos calmos, exalando felicidade e percebeu que de repente a casa havia esvaziado: alguns tinham saído e a maioria havia se recolhido, mas ele estava ali: esperando por ela.
Pegou-lhe pela mão e levou-lhe a um cantinho mais escondido ainda, beijou-lhe com toda a intensidade e ela sentiu um gosto de amor e dor: ele estava chorando. As lágrimas que fugiam daqueles olhos verde-esperança doíam profundamente em Helena, ela não sabia o que fazer, não conseguia sequer pedir para que ele parasse - era sofrido, mas era lindo o observar sentindo; e sentiu algo estranho, como se aquela falta de atitude significasse indiferença, menos sentimento, falta de reciprocidade. Aquelas lágrimas a torturavam lindamente, até que Marcos tomou a iniciativa de sussurrar alguma coisa doída.
-O que? -a culpa havia roubado toda a atenção da menina.
-Promete que vai voltar. Promete que vai voltar para mim. Promete?
-Shiii.- Helena suplicou que ele parasse enxugando aquelas lágrimas que esperavam uma resposta- Eu volto, eu volto...
-Para mim? -ele precisava daquele complemento.
- Mas que pergunta é essa?
- Eu quero que você saiba que você é muito especial para mim, muito mesmo. Se você voltar e eu tiver com outra pessoa, não tem problema: eu largo, largo só para ficar contigo. Pode ser só um dia, não importa...
Helena não conseguiu falar nada e pela primeira vez tomou a iniciativa de beijar-lhe. Marcos correspondeu com toda vontade, beijou-a do modo mais intenso que pôde e começou a explorar aquele pequeno corpo desconhecido. A menina não o impediu,era diferente dos outros, alguma coisa lhe dizia que ele era confiável, que podia permitir. Marcos sabia respeitar seu limite, soube respeitar na hora em que ela pediu para parar. Ele olhou-a ternamente, beijo-a carinhosamente como de costume:
-Boa noite, princesa. Não esquece de me acordar antes de sair amanhã. A gente tem de se despedir, ?
-Claro.
Helena foi deitar-se e quase não dormiu pensando em tudo que lhe ocorrerá em menos de uma semana. O sonho chegou bem na hora em que ela concluía como mudava fácil de opinião. A noite foi curta e o sol veio logo chamar-lhe a difícil tarefa de despedir-se, mas era hora. Marcos já estava de pé e não houve nada mais que um beijo no rosto e um: 'não me esquece', ao pé-do ouvido.
A viagem de volta foi tranquila, assim que chegou em casa o celular deu noticia de vida - era ele: 'Estou morrendo de saudade, te amo e não me esquece. Beijo'.
Respondeu e continuo a vida.


15 comentários:

  1. ohhh, muito obrigada! continuarem pelo blog durante muito muito tempo e continuarem a visitar-te :D

    ResponderExcluir
  2. que bonitinho!

    lembrei de uma cena parecida que vivi quando tinha 15 anos... ai, ai... recordar é mesmo viver... deu uma dor boa! risos.

    ResponderExcluir
  3. Que história linda apesar de triste!
    A dor da despedida é a pior de todas na minha opinião!

    Beijos e bom fim de semana!

    ResponderExcluir
  4. Ahh como dói a despedida, é realmente triste, uma saudade bate no coração!
    Um beijo Gabi, ótimo texto!
    Ju

    ResponderExcluir
  5. Teu conto é muito bom Gabriela, você é uma escritora romântica que sabe trabalhar muito bem os sentimentos do amor e da saudade.

    Sabe, lembrei-me que eu fiz exatamente isso com a minha agora esposa: dei-lhe um bilhetinho dobrado e lhe falei para ela só ler em casa...rsss (isso foi numa faculdade).

    O que estava escrito no bilhete? curiosa...tá bom, eu digo:

    "Dê, estou com um sério problema: não consigo parar de pensar em você".

    Isso já tem 8 anos...

    beijos

    ResponderExcluir
  6. Ow...romance entre primos é tão bonitinho! ^.^

    Beijo.

    ℓυηα

    ResponderExcluir
  7. muito bonita a história. com sentimento as coisas ficam belas :)
    mas nem todo o final é feliz, o que importa é ir em busca dele até não haver mais forças; beijos

    ResponderExcluir
  8. Obrigada pelo comentário. É muito bom saber que há pessoas qu se identificam com o que a gente escreve. Principalmente quando são textos que eu imagino estar sentindo só.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  9. é tão lindo carta de amor, todas elas ridiculas, mas como ser de amor se não forem ridiculas? rs
    beijo!

    ResponderExcluir
  10. O momento da despedida é sempre dolorido, principalmente se no caso n for um "até logo" e sim um "adeus". Que triste história

    ResponderExcluir
  11. Que lindo, guria! Teus contos são sempre ótimos. Me absorveu até a última gota, não tirei os olhos, tomou conta. Inebriante, ótimo.
    Beijoca!

    ResponderExcluir
  12. ai, esse conto tá uma maravilha! fico arrepiada só de ler. lindo!

    beijão, flor.

    ResponderExcluir
  13. Que lindo! Me roubou até o último ponto. As suas palavras tomaram conta de mim por inteira. Me vi ali, como expectadora, torcedora da história.
    Dói, não dói a despedida.?
    Um beijo.

    ResponderExcluir