terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Papai do céu castiga

Fui criada nos padrões católicos: missas todos os domingos, novenas e procissões. Quando era pequena sabia rezar de traz para frente o pai nosso, a ave-maria, salve-rainha e o santo-anjo, mas não fazia a mínima ideia do que aquelas palavras significavam.
Para mim, Deus era um homem velho, barbudo, de cabelos brancos e que passava o dia inteiro a observar as pessoas e a castigar-lhes. Em casa se não fosse uma boa filha: Papai do Céu castigaria; na escola, se me comportasse mal: Papai do Céu castigaria; na missa, se não prestasse atenção e não rezasse: Papai do Céu castigaria. Então, resolvi entregar todo o meu medo para Deus. E como poderia ser diferente? Se tudo aquilo que eu conhecia e que enfatizavam era o castigo. Por isso, eu tinha pavor de Deus.
Até que um belo dia entrei em contato com o pó-mágico-de-pirlimpimpim da história e filosofia; descobri pouco a pouco a hipocrisia que carregava tudo aquilo que eu pensava acreditar. Como a Igreja Católica pode ser livre de todo e qualquer preconceito se, em pleno século XXI mulher ainda não realiza missa? Por que Deus fica feliz com as promessas se, maior parte delas, nos castigam e nos fazem sofrer? Ele não deveria querer uma troca boa, como uma mudança de atitude, ou mais uma mão estendida ao próximo? Ou ele ia querer mesmo ver a gente sofrer? Ele não é Pai? Será mesmo que ele prefere uma oração enorme como um rosário, ou será que ele dá mais valor a uma conversa, a voz do coração? Por que padre/freira não podem casar, se o que Deus quer é a constituição de uma família unida, e o matrimônio não impede isto? Como pode ser bom uma reunião de pessoas em que só uma fala, em que só um diz a forma como interpreta a Bíblia? Todos estes e outros questionamentos fizeram com que minhas ideias virassem de cabeça para baixo; deparando-me com tantas dúvidas, hipocrisia e prepotência desacreditei em tudo que eu acreditava e que eu me forçava a acreditar.
Deixei de crer em Deus e mandei minha fé passear? Muito pelo contrário. Eu passei a crer mais ainda em um ser divino, superior; mas ele mudou. Não é mais aquele mesmo Papai do Céu de antes. Nesse novo Deus eu não vejo barba, não vejo cabelos brancos, na verdade, eu nem vejo feição alguma. Esse novo Deus, ele não tem função exclusiva de "castigador", esse novo Deus é uma espécie de terapeuta; ele escuta tudo aquilo que a gente quer dizer, Ele escuta a gente falar dos nossos planos, das nossas dores, das nossas insatisfações, do nosso sentimento de gratidão; mas ele não nos diz o que fazer, trabalha com um tal procedimento chamado Livre Arbítrio, ele deixa a gente fazer o que considera melhor e continua só a escutar, não nos castiga ou muito menos nos condena por isso, deixa com que arquemos com as consequencias das nossas escolhas; e depois de mudada a opinião, Ele sempre acolhe, sempre torna a escutar e apoiar, qualquer que seja a decisão. O Deus que eu conheci ele não distingue ninguém por sexo ou cor, qualquer um (inclusive mulher) pode falar Dele. O Deus que eu creio não é melhor que o Deus que você crê, inclusive, eu acho que Ele é o mesmíssimo.

27 comentários:

  1. Own Gabi, que lindo! *-*
    Acho que você soube falar muito bem por muitos, inclusive por mim!

    Beijos, flor!

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  2. Alias, o nosso Deus é sim o mesmo.
    O meu, o seu e dos outros tantos..

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  3. Adorei o seu desabafo, flor. Simplesmente falando sobre um fato que agride a todos, sim?
    Eu já fui católica e passei pelo mesmo extremo que passaste, porém agora sou Protestante. Passei um tempo da minha vida tentando entender inúmeras coisas da vida e tentar seguir um caminho a qual confiar. Cheguei a pensar em ser atéia, apenas por influência de amigos, mas vi que Deus não se prende a terços rezados igualmente por todos, ele quer notar você. Ele quer ter sua própria intimidade com você, ele quer sentir sua angústia sendo depositada na força Dele. É nesse Deus a qual confio. Um Deus justo, bondoso, justiça e acima de tudo amor. Ele nos corrige, nos ama e sim nos disciplina quando é preciso.
    Lindo!
    Boa tarde e obrigada pela visita.

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  4. Quantas vezes eu tive esses mesmos questionamentos, inclusive estava discutindo alguns deles há pouco tempo e cheguei na mesma conclusão que você.
    Adorei o texto.

    Tem selo pra ti lá no blog.

    Bjs =)

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  5. Olá,
    Senti o perfume de Deus na maturidade de tuas palavras.
    Bj

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  6. oi gabriela.

    também me ensinaram que deus castiga e fica bravo, irado, etc. também abandonei esse deus carrancudo e moralista há muito tempo.

    abraços

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  7. Sou católica, mas tenho certas dúvidas em relação a algumas teses que ela impõe. Mas isso não importa, acreditar e ter fé é o que interessa.
    Beijos

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  8. Cremos num mesmo Deus, todos nós. Acredito que o papai do céu é mesmo essa força da nossa fé, independente de religião mesmo!
    Um beijo

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  9. Faço das suas as minhas palavras! E adorei o desenvolvimento do texto, ficou muito bom, parabéns *-*

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  10. Ótimo post, realmente..
    Religião sempre será um assunto polêmico, não defendo a Igreja Católica dos séculos passados, nem mesmo defendo tanto a atual, da qual participo permanentemente. Não acredito em tudo o que ela diz, assim como penso que não acreditaria em qualquer outra igreja. Já me questionei quase incansavelmente sobre o assunto, dizimo, castidade, etc, são coisas que realmente nos intrigam em certos momentos, mas hoje já não busco incansavelmente respostas para as minhas perguntas que nem são tão importantes assim. Acredito que o que importa é a fé, não importa a religião, a igreja, sou cristã, e só.

    Seu post está magnífico.

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  11. Muito muito lindo esse texto flor!
    Sinceramente não importa se vc está todos os dias dentro da igreja, ou se vc simplesmente deita a cabeça no travesseiro e agradeçe por mais um dia, o que importa mesmo é a sua FÉ, é essa a força que nos move e que nos faz levantar todos os dias e começar um novo dia!

    Adorei mesmo suas palavras!

    Deixei um selo pra ti lá no meu blog!

    Beijão

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  12. acho que nossa verdadeira religião é aquela que demonstramos em nossas atitudes. Texto lindo, viu dona Gabi.

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  13. Deus, ele é a religião que está no nosso coração!!

    Um beijo

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  14. sabe flor, é isso ai mesmo. creio que em todas as áreas, devemos ter a nossa crença e não aquilo que nos impõe. um beijo

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  15. Engraçado ler um post tão descontraído sobre um tema tabu de tão sério. Concordo com grande parte das coisas que tu falaste, mesmo não compartilhando das mesmas crenças (ou da minha falta delas). Acho bonito as pessoas terem a fé em algo maior, em uma proteção onipresente.
    Bonito teu texto.

    =*

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  16. Tem um selo a sua espera lá no blog..

    bejokas

    anie

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  17. Também fui criada assim, e ás vezes escuto uma voz que me diz "Deus castiga!"

    Estranho como isso passa a existir dentro da gente mesmo quando lutamos e não somos a favor do mesmo ponto de vista, né?

    Bjs linda!

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  18. Acho que tu falou o que muitas pessoas não tem coragem de expressar.
    Parabéns pela coragem, o texto ficou muito bom!

    Beijos

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  19. muito melhor quando Ele é nosso amigo, né?

    bju, gabi :*

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  20. Apesar de ser atéia, realmente adorei seu texto, concordei e admirei muito sua coragem. Essa de religião, castigos e imoralidade, tem virado uma espécie de tabu ultimamente. Meus parabéns, você já garantiu uma "fã", pela sua coragem, densidade e atitude.

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  21. A fé é a mais importante!
    Um beijo querida
    Belo texto!
    Ju

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  22. Belo post!

    Belo blog!

    Gostei muito daqui! Parabéns, voltarei mais vezes...

    Convidaria vc a conhecer meu trabalho (poesia, música, teatro)

    Ficaria feliz demais!
    http://mailsonfurtado.com

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  23. É só há um único Deus, para judeus, evangélicos, católicos etc, o muda é a visão.
    Mas lindo isso hein? gostei!

    Beijão!

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  24. Admiro sua coragem e habilidade ao tratar um tema tão polêmico de modo tão envolvente. Existe um grande abismo entre fé e religião. Até porque a última surgiu como meio de dominação das massas populares, daí tanta opressão do Deus castigador. Todas essas convenções que as instituições religiosas nos impõem não são nada diante a crença verdadeira no divino. É preciso discernimento, até porque, apesar dos pesares, a Igreja ainda é a ponte mais concreta que temos para alcançar Deus.
    Adorei o texto! Tem desafio pra você lá no blog. Um beijo.

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  25. Dei uma passadinha aqui no seu blog, através de outros que sigo e vi essa frase que causa bastante impacto.
    Sou católica praticante, daquelas que rezam sempre, que vão pra missa toda semana e talz. E concordo plenamente no que a Rebeca Amaral falou, que precisamos ter muito discernimento para seguir qualquer Igreja, para não interpretar certas coisas da forma errada. Ate porque a lógica de Deus nunca terá sentido para nós.

    Parabéns pela sua atitude. beijo

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