quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Súplica magoada

Mágoa boba,

Queria saber o que viste de tão atrativo em minha pessoa? O que em mim chamou a tua atenção, não sou tão alta e nem lá tão bonita; meu coração já foi mais puro, não há beleza que tu possas estragar neste pobre. Poxa, conversei com o coração, com a razão, com Deus e tô quase pensando em ter uma séria conversa com o diabo, porque tu, sua danada, só pode ser obra do diabo mesmo. És sem-vergonha, mal amada, te mandei ir embora quantas vezes, hein? Te enxotei para fora da minha casa todas as manhãs, assim que o sol veio me acordar, mandei que procurasse um outro canto, e o que tu fizeste? Pegou tua malinha e com cara de ofendida saiu porta a fora, no entanto, todas as noites, assim que eu me deitei, tu deste meia volta, pulaste a janela e com toda a sua persistência suja deitaste a meu lado, sussurrando lembranças doloridas e te apoiando no rancor para arrancar-me mil e uma lágrimas (secas e amargas). Diz aí: quer quanto? Pago todo o amor que tu quiser para me livrar de ti. Faço promessa, fico sem comer, sem dormir, paro de falar sozinha e de assistir comédia romântica, eu até cresço se for preciso - tudo o que exigir, mas faça o favor de sumir. Ok, ok, não precisa zangar-se: façamos um acordo! Deixe-me ver...já sei, já sei: serás só minha, não virás de mais ninguém que eu amo - largue-os, suplico-te, mágoa, deixe que ele partam. Fique só comigo, faça o que quiser de mim, mas eles mais não, por favor. Permita que ainda viva algo bonito dentro deste peito magoado. Tomou conta dele por tanto tempo e é hora de deixá-lo respirar. Se atingir mais alguém a quem quero bem vai acabar por matá-lo: sem amor. Ai! Cuidado, se pensares só mais um pouquinho pode ser tarde.


É MágoaAna Carolina
É mágoa
Já vou dizendo de antemão
Se eu encontrar com você
Tô com três pedras na mão
Eu só queria distância da nossa distância
Saí por aí procurando uma contramão
Acabei chegando na sua rua
Na dúvida qual era a sua janela
Lembrei que era pra cada um ficar na sua
Mas é que até a minha solidão tava na dela
Atirei uma pedra na sua janela
E logo correndo me arrependi
Foi o medo de te acertar
Mas era pra te acertar
E disso eu quase me esqueci
Atirei outra pedra na sua janela
Uma que não fez o menor ruído
Não quebrou, não rachou, não deu em nada
E eu pensei: talvez você tenha me esquecido
Eu só não consegui foi te acertar o coração
Porque eu já era o alvo
De tanto que eu tinha sofrido
Aí nem precisava mais de pedra
Minha raiva quase transpassa
A espessura do seu vidro
É mágoa
O que eu choro é água com sal
Se der um vento é maremoto
Se eu for embora não sou mais eu
Água de torneira não volta
E eu vou embora
Adeus

6 comentários:

  1. Um sentimento dentro da gente que tentamos expulsar, mas às vezes perdura aqui dentro. Deixa dias cinzes e noites solitárias. Ela é má, mesmo, e tantas vezes aperta com o próprio dedo a nossa ferida que ainda sangra.
    Beijo.

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  2. Ah, flor. Acho a mágoa sufocante. Ninguém merece isso, nem mesmo tu. Não carregue essa cruz sozinha, que ela seja de quem a merecer - e duvido que seja você.
    Um beijão!

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  3. A gente se entrega para livar quem ama, isso é digno. Mas unir forças para acabar com a mágoa também é. ;)

    Adoro esses diálogos internos, Gabi!

    Beijo, flor.

    ℓυηα

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  4. Por mais triste que seja, esse texto está lindo demais! E adorei a música, Ana Carolina é uma diva mesmo.
    Beijos

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