quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Das muitas poucas garotas


Ela era daquele tipo de menina que nem todos reparavam: sempre calada. Escondia por trás das suas grossas lentes um par de olhos míopes cheios de sonhos e fantasias. Ana - esse era seu nome. A garota mais tímida da sala. Não falava com as meninas populares, não atraia os olhares dos meninos bonitos; podiam eles não perceber, mas ela era linda. Não daquelas que você põe o olho e diz 'jesus', mas era daquelas que você olha, olha e não vê nada, além de um par de óculos e um pouco corpo. Mas se você continuar olhando pode, quem sabe, enxergar lá fundo, e perceber o quão harmônico era o seu rosto calado.
Só que na verdade Ana não se importava. Vez ou outra podia até sonhar acordada, se imaginar alta, morena e linda; fingir que era o centro das atenções ou que tinha amigos; mas depois de um ou dois suspiros isso nem lhe fazia mais falta. Vivia em seu mundo, com seus planos- calada.
Sempre que o professor colocava um tema em discussão Ana tinha uma opinião formada. Ela sabia sobre política, sobre os problemas mundiais, os conflitos religiosos; conhecia literatura; era boa em química e dava um show na matemática. Mas continuava na sua. Mesmo formulando uma resposta bonita, de causar inveja em qualquer um, ela continuava ali: inerte, calada.
Em casa era a filha exemplar: era excelente aluna,menina dedicada, irmã de ouro, neta preferida. O exemplo da família: não dava trabalho, só orgulho: calado.
Até o que sentia era discreto; sentia vergonha até de demonstrar. Qualquer sinal de carinho apresentado de qualquer lado, queimava de vergonha, porque sempre eram sentimentos intensos e paradoxalmente calados.
Ela tinha uma essência bonita, linda na verdade. Mas não era nada volátil, muito menos fosforescente. Era difícil de sentir, de se perceber, por isso, tão bela - extremamente preciosa, pura. Era apaixonantemente calada.


6 comentários:

  1. Ela tinha uma essência especial, assim devemos ser! Um beijo Gabi
    Ju

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  2. Um privilégio para poucos, para bons e atentos, né, Gabi?

    Que bonito, que diferente, fugido do manjado, do comum.

    =)

    Beijo.

    ℓυηα

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  3. Que texto lindo!!! Identifiquei-me com a timidez de Ana.

    beijocas!

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  4. "Ela tinha uma essência especial, assim devemos ser"
    Concordo!
    Adorei também lindoca.
    E obrigado pela visita, fico muito feliz quando passa por lá.
    Um beijo enorme, e bom finalzinho de semana.

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  5. como ela consegue ser tão calada? são coisas demais para guardar dentro de si. mas realmente, ela tinha uma essência boa, longe de aparências, com bons valores. beijos :)

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