Coração,
Senta aqui. Acalme-te, pare de pular só um pouquinho, não é brincadeira, é sério; doído, sofrido, amargo, gelado, feio. Não faça esse bico de choro, não vou jogar toda a culpa em suas costas cansadas, não quero lhe cobrar nada e nem pedir que se sacrifique. Porém venho sim, mais uma vez, dar-te um conselho; calme, calme, não vou te exigir nada, mas precisamos conversar. Sei que eu mesma já vim várias vezes cobrar-te mais razão, maior bom-senso e mais um bocado dessas outras coisas frias, só que agora, coração, eu venho pedir-te, não, não, implorar-te para que pare!
Ah, querido, as coisas não são assim – como eu achei. Eu sei, eu sei, fui eu quem pediu, mas me escute: lembra-te como eu era, coração? Lembras? Eu era assim como tu: doce, leve, ingênua, eu acreditava tanto nas pessoas, acreditava mesmo; só que aí coração, não sei o que aconteceu comigo, fui tomada pela razão, possuída por uma frieza desconhecida. E olhe, eu juro, odeio jurar, mas juro sim que eu tentei resistir, fiz de tudo, mas não teve jeito, ela me dominou. E então, coração, eu falei todas aquelas coisas horríveis para ti, cobrei-te o que tu não podias dar e que, no fundo, nem eu mesma queria que fizesses; mas tu sabes, eu me arrependi, arrependi muito, porque eu gosto de ti. E é por gostar de ti e ter aprendido a gostar de mim também que eu estou aqui, amigo, quero teu bem, nosso bem.
Preste atenção, não se distraia, concentre-se bem no que vou lhe falar agora: eu bem acho que o rancor é coisa da razão, contudo, percebi que tu o adotaste; fez dele sua filosofia de vida e acabou te machucando demais. E o que há contigo? Está dormente? Não sente mais nada? Não percebe que está ferido por demais, que precisa estancar este sangue, pois está perdendo pouco a pouco os sentidos sentimentos? Ah, meu pequeno coração, não faça assim. Shi, shi, sem choro, não precisa disso, não são acusações. Eu entendo, eu entendo, eles te machucaram demais, fizeram de ti tudo o que desejaram e tu por um bom tempo fez de conta que não viu; eu entendo e lhe dou a razão, mas veja quem mais está sofrendo com isso? Hum? E então? Poxa vida, tu está te corroendo, te destruindo pouco a pouco.
Vamos fazer um acordo? Se tu conseguir abandonar esse vício, se tu aprender a perdoar e mandar esse rancor covarde embora eu volto a acreditar cegamente em ti, prometo. Eu te escuto, não te questiono, não faço mais observações banhadas de razão e pessimismo; passo a acreditar no amor, me arrumo para esperar novamente um príncipe encantado. Se tu trocá-lo, coração, eu volto a ser impulsiva, eu paro de pensar demais, faço todas as tuas vontades, me entrego a ti. Não me julgue mal, querido, por tudo nessa vida pagamos um preço, e o do rancor está alto demais para mim.
Algumas vezes o coração se machuca tanto que se atira no rancor e permanece lá até que uma voz branda venha lhe dizer que este não é o caminho certo a seguir e aos poucos ele vê isso.
ResponderExcluirLi seu texto ao som de "I'll stand by you" e ficou ainda mais emocionante.
Bjs =)
Esse diálogo do texto só surge em corações que acreditam verdadeiramente no amor. Mas não apenas como um sentimento avassalador, mas como um brinquedo de criança, um quebra cabeça talvez. Ora nos desafia em seus encaixes, ora o desafiamos encontrando o ecaixe perfeito.
ResponderExcluirAmei.
Bjs.
Ah, Gabi, que encantadora essa tentativa de trato com o coração, um órgão tão cheio de caprichos e vontades!
ResponderExcluirMe conta depois se deu certo? =)
Beijos, querida!
ℓυηα
é a primeira vez que visito teu blog, e gostei bastante!
ResponderExcluirEscreves muito bem.
- Castelo Branco.
Gabriela, deixar o coração frio só pode nos fazer mal. o coração precisa de quentura, de leveza, como diz o poeta, "do abraço da própria candura". claro que muitas vezes o frio chega. chega, mas se deve deixá-lo fazer morada.
ResponderExcluirabraços
Oi. Adorei o seu cantinho. Vc sabe como prender o leitor. E olha q eu nao tenho muita paciencia pra poesias... rs. Mas vc arrasa! Parabéns. =)
ResponderExcluirUm coração machucado e amargurado só perde guardando rancor, porque pode doer, mas todas as cicatrizes serviram para algo não foi?
ResponderExcluirAdorei!Expressastes algo que todas gostariam de fazer, conversar com estes coraçõezinhos.
beijos
Ah querida, não faça isso com o coração, deixe ele fazer o que tiver que ser feito.
ResponderExcluirDeixa ele ser feliz (: rs
um beijo!
Lindo!
ResponderExcluirE o preço de alguns sentimentos são carissímos.
:)
Acalma o coração, flor! Mas liberta ele também: deixa que ele seja feliz, e te deixe guiar a vida, os caminhos, o destino.
ResponderExcluirUm beijão!
o negócio é que o coração não aceita acordos.
ResponderExcluirele faz o que quer, e pronto!