sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ah, se eu soubesse sabiá


Lembro a primeira vez que te olhei: você estava brincando naquele verde abacateiro, pulava de galho em galho na companhia de outros semelhantes seus, mas se destacava – tuas penas me pareceram as mais brilhantes de todas; o teu canto o mais alegre e suave e, sem perceber, eu me encantei por você.  Mas não quis de modo nenhum te prender e você bateu asas para longe de mim.
Logo me esqueci de você, até que no outro dia, lá estava tu naquela árvore. Fiquei a observar-te, sem coragem de chegar perto e quando menos esperei, sabiá, você posou em meu dedo, cativando-me e se responsabilizando por mim e por meu pobre coração que, até então, pouco conhecia do amor.
Ah, querido, como fiquei feliz em poder ter-te todos os dias nas mãos sem precisar tirar-te a beleza da liberdade. Foram tão felizes aqueles tempos em que brinquei campos a fora contigo. Foi então, que a vida zangou-se comigo e te atraiu para outro abacateiro, longe de mim.
Chorei tempo grande demais por tua ausência, doía-me tanto o peito que achei não puder suportar, caí enferma devido ao mal da solidão. Demorou para que eu pudesse aceitar a ideia de te tirar de mim, mas comecei a aceitar. Estava eu a olhar o abacateiro decidindo-me por corta-lhe e arrancar junto à raiz o resquício de sentimento por você. Quando então, ouvi teu doce canto e meus olhos foram presenteados com tua desejada presença. A tristeza do meu ingênuo coração foi-se embora e foi tanta a alegria que imediatamente agarrei-me a tuas fortes asas e voei junto a ti.
Mesmo com um medo enorme de te perder outra vez eu não te prendi. Deixei-te livre e confiei-te, pois você havia me contada que não tinha ido embora por vontade própria; confessou-me que a vida te obrigou e não te deu tempo para despedidas. Pudemos a voltar às brincadeiras felizes de antes, só que desta vez, mais grudados; eu te queria um bem danado e você não ficava atrás, sei que me presenteou com verdadeiro amor; não duvido que fosse tudo sincero, nem tampouco, que deixou de ser! Ah, pássaro estimado, fui tão feliz ao lado teu.
É, caro sabiá, não sabia eu que a vida nos separaria outra vez, quando naquela outra os ventos do destino te trouxeram para juntinho de mim eu achei que furacão nenhum te arrancava de perto. Mas, ai, passarinho, como engana essa vida.

Para ti meu sabiá amigo, que voou para longe e não quer mais voltar.

Sabiá lá na gaiola / fez um buraquinho
Voou, voou, voou, voou / E a menina que gostava
Tanto do bichinho / Chorou, chorou, chorou, chorou
Sabiá fugiu pro terreiro / Foi cantar lá no abacateiro
E a menina vive a chamar / Vem cá sabiá, vem cá
Sabiá lá na gaiola...
A menina diz soluçando / Sabiá estou te esperando
Sabiá responde de lá / Não chores que eu vou voltar”

(Sabiá lá na gaiola- Hervé Cordovil e Mário Vieira)

14 comentários:

  1. Que bonito!

    Meu sabiá eu também deixei livre e não me arrependi : ele voltou! =)

    Beijo, flor.

    ℓυηα

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  2. Oi Gabriela, tudo bem?

    Olha, não é bom deixar pássaros presos em gaiolas. Eles(ou elas) se sentem tristes por não poderem voar. A melhor presença é aquela que se realiza na liberdade.

    beijos e bom final de semana

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  3. Oh querida, que lindinho.


    "O poeta baixa a cabeça.
    - É aqui que a rosa respira...
    Geme o vento. Morre a rosa.
    E um passarinho que ouvira

    Quietinho toda a disputa
    Tira do galho uma reta
    E ainda faz um cocozinho
    Na cabeça do poeta."

    (Vinicius, O poeta e a rosa)

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  4. o meu passarinho voltou, e nunca mais voou pra longe do meu abacateiro! espero que o seu volte algum dia, viu? e AMEI seu texto, muito lindo e vc escreve MUITO bem garota *-*

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  5. Nossaaaaaaa, a música do final me lembrou a minha infância! Minha mãe cantava pra mim antes de dormir, e eu só faltava chorar de tão triste que é a melodia, rsrsrs.
    Lindo o texto!
    Você sempre dá um show, parabéns, Gabriela!
    Beijoos!

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  6. A gente sempre quer pertinho de nós os que tem inconstância e coragem pra voar pra longe, né? Desafios nos fazem maiores, melhores. Que teu sabiá retorne, e te tire essa saudade do peito, flor!
    Beijinho

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  7. ah Gaby...a gente aprende a conviver com a saudade.

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  8. Nossa.. Que lindo *-*

    O amor verdadeiro nos deixa assim.. Como se a nossa felicidade voasse nas asas desse sabia;

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  9. sabiá retorne é tire essa saudade que aqui se entranhou e não quer sair mais!

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  10. É nas asas da saudade que mora a quietude de um grande amor.

    Perfeito. beijo

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  11. Chorou e ele nunca mais voltou?
    Mas creio que tu estas uma mulher forte, tenho certeza.

    um beijo, texto lindo, escreves muito bem!

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  12. Que o teu sabiá volte e traga de volta o seu sorriso!

    Muito lindo esse texto!

    Beijos

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  13. muito lindo esse texto! sou nova aqui se puder me dar uma forcinha la! brigada! amei seu blog

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