sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Nos reencontros da vida - Guerra de sedução


“Ela nem acreditou, seu coração dançava em um Tum-tum desesperado, teria mais alguns dias para tentar conquistar outra seu primo. Ela conseguiria, conseguiria sim.”
Helena acordou enjoada, era só pensar em pensar em viajar que se sentia enjoada. Droga, já ouvia sua mãe falando em sair rumo à praia e ela ainda estava daquele jeito, nem a mala tinha arrumado. Rapidamente, jogou alguns biquínis e vestidos dentro de uma mochila, não precisaria mais do que isso e um pouco de charme para reconquistar o primo. Jogou a mala e foi na direção do seu desejo.
Quando desceu do carro os olhos discretos da menina logo procuraram Marcos, mas mais uma vez ele não estava ali. Sentiu vontade de procurar debaixo de cada grão de areia, de gritar-lhe e pedir que ele viesse, mas resolveu por esfriar as idéias no mar. Mergulhou naquela água morna e verde, queria que levasse embora toda aquela confusão e todo aquele início de amor. Ah, ela sabia, que ia acabar gostando dele. Burra, burra, era o que repetia para si o tempo inteiro.
Depois do banho salgado voltou para casa em passos lentos, talvez assim ele chegasse mais depressa. Estava começando a irritar-se: queria que ele estivesse ali, trazia consigo aquela cara de raiva que seu pai dizia ser a mais linda de todas as caras de zanga, já tinha dado a tarde por perdida, até que surpreendeu-se:
-Boa tarde- era Marcos.
-B...boa.
O sol se punha atrás deles, Helena mergulhou naqueles olhos verdes como tinha mergulhado a pouco no verde do mar; mas ela queria ir mais fundo, queria chegar até aquele coração distante. Ele levantou-se desconcertando-a:
-A água do mar ta boa?
-Hã? Ah, ta sim, ta sim...
-Pois eu vou lá dar o último mergulho do ano.
A menina correu para o banheiro no intuito de abafar o barulho que fazia seu pequeno coração. Ligou o chuveiro o máximo que pôde para deixar a água levasse de vez por todas aquele inicio de amor e o trouxesse para suas mãos; ficou por um bom tempo debaixo d’água fazendo uma prece baixinha: ‘dá ele para mim, dá, dá...’. Pedia para Deus, para Iemanjá, para todos os santos, para quem quer que fosse ela pedia para acabar com aquela contradição, para acabar com a guerra que a razão e o coração tinham iniciado, pedia para parar de doer antes de começar, para parar de querer, para parar de qualquer coisa, só queria que parasse.
Vestiu-se lentamente, como se precisasse ganhar tempo para alguma coisa, como se tivesse alguma estratégia minuciosamente bolada, o coração pulava e se comprimia pedindo socorro e quase fugindo pela boca, era aquele pressentimento ruim de novo. Deus, por que com ela? Precisava de um pouco de ar fresco, de algo que lhe devolvesse o ar. Correu em passos lerdos para a varanda, todos deviam estar tomando banho ou em algum outro lugar, não escutava barulho. Porém outra vez ela tinha de se enganar, não estava só: ele estava ali, sentado com cartas na mão, as embaralhava com um sorriso na cara:
-Senta, prima. - Helena só conseguia obedecer- Sabe jogar alguma coisa?
-Ah, mais ou menos.
- Poker?
-Não, não faço ideia de como se joga.
-Hum, pois deixa que eu te ensino.
Rapidamente as mãos embaralharam as cartas, ao mesmo tempo Marcos explicava-lhe como funcionava o jogo. Ele tinha, literalmente, todas as cartas nas mãos e ganhava partida atrás de partida. O tempo correu, e Helena nem percebeu: estava muito ocupada tendo de fingir empenho e concentração para ganhar, quando na verdade só conseguia se concentrar nos pés que tocavam os seus por debaixo da mesa, vez ou outra, sem querer. Já era quase meia-noite, já se podia sentir cheiro de ano-novo.
- Vou por uma camisa- disse ele de repente jogando as cartas em cima da mesa, deixando com que a prima visse seu jogo.
Helena continuou ali: sentada, sozinha. Tinha seu pensamento tão longe e tão perto - havia visto todo o jogo de Marcos, não tinha trapaceado; seria bem mais fácil, mas queria tê-lo, não só mais uma vez, queria para sempre. Sentiu algo estranho, um frio na espinha, rapidamente retornou ao mundo real e ele estava ali, olhando para ela:
-Você ta linda, Helena. Muito mesmo.
Foi então que os fogos explodiram melancolicamente no céu anunciando o ano-novo. Ele a abraço-a: -Feliz ano novo!
-Feliz ano novo!
Abraçaram-se fortemente, ela pedindo para que aqueles novos tempos que chegavam fossem mais doces e ele, quem sabe, pedindo ardentemente para resisitir.


13 comentários:

  1. Aii, que texto gostoso de ler. Adorei. Muito bem escrito. Beijos

    ResponderExcluir
  2. Tão meiga essa história, eu adorei mesmo :)

    ResponderExcluir
  3. Que palavras lindas, parabéns!
    um grande beijo

    @sarowhiisky

    ResponderExcluir
  4. Que lindo isso... Até senti um frio na barriga por ela!

    ResponderExcluir
  5. Ah, curto muito as histórias da Helena, todo esse amor jovem dela ^^

    E acho que eu devo me desculpar pela ausência tbm, hehe...

    Bjs =)

    ResponderExcluir
  6. Essas paixões proibidas são as melhoores, já namorei com um primo e o escondido que dava todo o gosto da coisa hehe
    Gostei do final enigmático, será que ela vai conseguir?
    beijos.

    ResponderExcluir
  7. De algumas coisas (poucas e boas) a gente não foge, e isso é uma sorte, tenho certeza, Gabi!

    Tu narra as emoções dos personagens e elas refletem aqui. Tudo tão bonito e intenso...adoro te ler! =)

    Beijo.

    ℓυηα

    ResponderExcluir
  8. Awn, que história fofa! Era como se eu pudesse sentir tudo que ela sentia, cada nervosismo e ansiedade em ver Marcos, adorei mesmo.

    ResponderExcluir
  9. Adorei a história e consegui imaginar cada cena. Pra variar, eu também já tive paixonites por primos, mas quando era mais nova. É lindo esse início, essa expectativa.

    =*

    ResponderExcluir
  10. Tens escrito cada vez melhor, guria. Adorei o conto! Quanta criatividade..Hehe
    Um beijo!

    ResponderExcluir
  11. Uma ótima semana querida.

    ResponderExcluir